Vida de babaca é atribulada

Guilherme Serrano
Mas Que Loucura
Published in
3 min readJul 1, 2016

Estou lendo um livro que conta a história de um mundo cheio de “meta humanos”. São pessoas com poderes sobrenaturais — mutantes, deuses, ainda não descobri.

Um dos personagens, apelidado de Handsome Devil, tem a sorte do seu lado: apostar com ele é perder na certa, da cara ou coroa até paciência. Mas há uma maldição nesta maré de sorte: ele tem seus dias ruins. E quando isto ocorre a maré de sorte habitual é convertida em muito azar. Ele é o cara das improbabilidades: para seu bem ou sua desgraça.

Ontem vivi uma sequência inacreditável de desventuras que deixaria qualquer personagem fictício — o mais desastrado e tonto que você consiga imaginar — no chinelo. Pelo menos foi o que me pareceu no momento em que as coisas aconteciam.

Estas desventuras — que não importam quais foram — despertaram lá no meio do meu estômago e no fundo da minha mente algo que já não fazia parte da minha personalidade a muito tempo: um desejo quase incontrolável de destruir, xingar, gritar e agredir.

Imagem de Alberto Cerriteño

Os dentes apertados com força uns contra os outros enquanto uma veia lateja na cabeça. O estômago embrulhado, acentuando a ansiedade que já estava presente por outros motivos. A ânsia de vômito. Uma vontade de sumir, sair correndo. Um desejo de dormir por dias seguidos para ver se os problemas se resolvem sozinhos. O pensamento irracional de que quebrar qualquer coisa que estiver pela frente será um alívio para o mal estar físico e mental causado pela raiva.

Na confusa cabeça o pensamento constante de que só pode ser uma sacanagem do universo, uma pegadinha arquitetada pelo embaixador das trevas, um show de Truman sádico ou, na melhor das hipóteses, um pesadelo horrível do qual estou prestes a acordar.

Em retrospecto as ideias de Kübler-Ross parecem fazer bastante sentido e ficam acontecendo em um espiral do inferno na sua cabeça enquanto pensa nas adversidades:

  1. Negação — Não acredito que isto aconteceu.
  2. Raiva — Eu quero quebrar tudo, fodam-se, morram, sumam!
  3. Negociação — acho que vou conseguir resolver pelo menos uma parte do problema hoje, me ajuda nessa universo.
  4. Depressã0 — qual o sentido da vida se as desgraças ocorrem desta maneira?
  5. Aceitação — bom, a vida é assim. A vida é uma olimpíadas de superar desgraças e continuar sorrindo. Vai, Joseph Klimber.

Passou. E apesar do mal estar momentâneo posso tirar boas lições do que aconteceu.

A primeira lição, talvez a mais importante, que posso tirar disto é que se estas desventuras foram o “pior dia dos últimos tempos” esta tragicomédia foi apenas uma confirmação do quanto é boa minha vida. E isto merece um brinde como o que tive hoje (com um um expresso e um delicioso brigadeiro de chocolate amargo) a convite da Bianca Brancaleone.

A “crise” de raiva e ansiedade tornaram mais vívida as lembranças do quanto é horrível ter que se esforçar para ter controle sobre minhas ações de uma forma racional. Já fui uma pessoa temperamental e explosiva e nunca tive nenhum benefício com este tipo de comportamento. Só mal-estar, atitudes auto-destrutivas, falta de amor próprio e ansidedade.

As desventuras também me lembraram um ditado valioso que me ajuda a levar uma vida mais serena: o que não tem solução, solucionado está.

Falando sobre o título “vida de babaca é atribulada”, os fatos acenderam um alerta vermelho do quanto eu preciso cuidar mais da minha mente, pisar no freio e fazer um esforço consciente para estar um pouco mais conectado com o mundo ao meu redor e não com problemas, programação e negócios. Por exemlo, há poucos dias voltando de viagem quase perdi meu celular logo depois de embarcar na aeronave. Fui trocado de lugar e extraviei meu celular no processo de levantar de uma poltrona, pegar minha mochila, me dirigir até outra poltrona e sentar.

Sei que pelo menos um dos infortúnios da minha série de desventuras foi causado exclusivamente pela minha incompetência em prestar atenção no que estou fazendo.

Preciso com urgência voltar a meditar, colocar os pensamentos em ordem e nos lugares devidos. Sei que com os pensamentos em ordem sou muito mais racional, tomo melhores decisões, ganho mais dinheiros e sou mais feliz.

Vida de babaca é atribulada, portanto aproveite.

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