Emancipação Intencional
O Fórum Econômico Mundial lançou ontem o Relatório Future of Jobs 2020.
Segundo o FEM, o objetivo do relatório é lançar luz sobre as interrupções relacionadas à pandemia em 2020, contextualizadas dentro de uma história mais longa de ciclos econômicos e as perspectivas esperadas para a adoção de tecnologia, empregos e habilidades nos próximos cinco anos.
Como habitual, fizeram a lista de habilidades necessárias para os indivíduos, seguindo as demandas da sociedade e das organizações, para 2025. São elas:
- pensamento analítico e inovação
- aprendizagem ativa e estratégias de aprendizagem
- resolução de problemas complexos
- pensamento crítico e análise
- criatividade, originalidade e iniciativa
- liderança e influência social
- uso de tecnologia, monitoramento e controle
- design e programação de tecnologia
- resiliência, controle de estresse e flexibilidade
- raciocínio, resolução de problemas e ideação
São tantas habilidades, complexas e desafiadoras. E, conforme o relatório, precisaremos desenvolvê-las nos próximos 5 anos.
Como aprender tanto, em tão pouco tempo?
Isso me faz pensar na formação básica do indivíduo, em como desenvolver a capacidade de aprender. E também, no papel das instituições de ensino, dos pais e dos educadores nessa formação.
Me faz lembrar de Jacotot.
O professor e filósofo francês Joseph Jacotot, ainda no século 18, criou o método da Educação Universal, onde propunha princípios como a igualdade de inteligências, tudo está em tudo e pode-se ensinar o que não se sabe. E adotava a prática da “emancipação intelectual”.
Comecei a aprender sobre a Educação Universal recentemente. Faço parte de um grupo de estudos sobre o livro Por si mesmo, do Tarik Fraig — ainda não publicado. Onde ele traz lições sobre educação da sensibilidade, apresentando diversas pessoas com trabalhos belíssimos, educadoras e educadores, que tiveram influência significativa nos contextos das sociedades as quais viveram.
“Não é preciso que o seu aluno acredite na sua palavra; é preciso que ele verifique por si mesmo” — Joseph Jacotot
Voltemos para a lista do relatório, de habilidades necessárias para 2025. Quero tratar aqui de duas habilidades propostas:
- Pensamento analítico
Pensamento analítico é uma forma de pensamento com objetivo de explicar as coisas através da decomposição em partes mais simples, que são mais facilmente explicadas ou solucionadas, e uma vez entendidas tornam possível o entendimento do todo.
- pensamento crítico
Pensamento crítico é uma avaliação voluntária diante de um fato, comentário, experiência ou conteúdo, que usa argumentos para determinar uma resposta diante desse estímulo. Ou seja, o pensar de modo crítico envolve uma observação inicial, seguida por um julgamento diante de um cenário ao qual se depara. No entanto, esse julgamento não é realizado automaticamente ou de maneira impulsiva. Ele procura por referências, motivos e argumentos que sustentem a resposta adotada.
“Não é questão de reter servilmente o que eu pensei, indiquei, recomendei; trata-se de refletir e ver o que se pode tirar disso” — Joseph Jacotot
Em quais ambientes de aprendizagem você foi convidado a experimentar e praticar essas formas de pensar?
Acredito que, como eu, foram raros os momentos da sua jornada de aprendizagem — da formação escolar e profissional — onde lhe foi dado esse espaço para desenvolver os pensamentos analítico e o crítico.
Mesmo que hoje em dia, uma pessoa adulta, você tenha desenvolvido essas habilidades, como você percebe a execução prática desses pensamentos?
Talvez durante a rotina de trabalho, quando sua equipe está focada em resolver um problema do sistema de pagamento ou com a interface do aplicativo que não está atingindo o click rate esperado.
Ou no seu prédio, com vizinhos, na reunião de condomínio, buscando alternativas de uso das áreas comuns durante o isolamento.
Como você interage com outras pessoas que também praticam os mesmos pensamentos?
Por sermos seres condicionados ( o psicólogo behaviorista russo Pavlov identificou que a característica de sermos condicionados a adotarmos comportamentos específicos) é possível que simplesmente repitamos comportamentos aos quais fomos ensinados a ter, sem refletir e nem com a intenção de reprogramar.
Por conseguinte, não criamos espaços para outras pessoas exercitarem seus pensamentos — analítico ou crítico — agindo no “piloto automático”.
Daí me lembro de Paulo Freire
“somos seres condicionados mas não determinados”.- Paulo Freire
Se não somos determinados, isso quer dizer que podemos modificar nossos pensamentos, valores, ações e atitudes.
Se vivemos em ambientes que não promovem o desenvolvimento de habilidades, comportamentos e atitudes necessárias para uma promoção da qualidade de vida, empregabilidade e boa convivência, porquê não mudar?
Emancipação Intencional trata exatamente disso.
Mudar como eu sou comigo e mudar como sou com o outro.
Tenha pensamentos próprios, busque referências que validem sua opinião.
Aceite que tenham pensamentos diferentes dos seus. Estimule que pratiquem.
Esse é um dos ensaios que florescem dentro de mim e que semeio por aqui.
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