Fahrenheit 451, a crítica do livro

Carolina Rodriguez
Matérias Geek
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3 min readJan 9, 2020

A crítica do livro

Autor: Bradbury, Ray

Quando uma profissão que supostamente deveria salvar vidas, destrói culturas inteiras. Quando pensar é uma ameaça e a literatura é o grande inimigo de uma nação. Essa é a premissa do clássico distópico, Fahrenheit 451 de Ray Bradbury.

Na obra, Guy Montag é um bombeiro como qualquer outro: ao invés de apagar incêndios, provocam. Basicamente, o trabalho de um bombeiro é atear fogo em construções que contenham resquícios de livros. De vez em quando, pessoas ficam no caminho e tornam-se cinzas com seus papéis.

Numa sociedade onde é preto no branco, todas as pessoas são iguais. Cidadãos que moram em casas padronizadas, assistem programas de drama que são os únicos disponibilizados pelo governo, interagem uns com os outros por meio do mundo virtual e preocupam-se com coisas triviais. O contato físico com alguém que não seja membro de seu casamento é terminantemente proibido. Não existem laços nos robôs feitos para mão-de-obra.

Publicado na década de 50, o livro retrata o que, na época, parecia ser o futuro. O ano de 1990 nunca foi mais sombrio. Personagens superficiais como a esposa de Guy, Mildred, transformam sua vida em mediocridade. A rotina de Guy Montag é precisa: acordar, ir para o trabalho, queimar casas e livros, retornar para sua moradia e repetir. Mildred está constantemente presa a gigante tela de televisão e fofocando com o que chama de “Família” por meio dela.

Num dia aparentemente normal, uma nova família muda-se para a vizinhança de Guy. Ao sair do trabalho, em seu caminho usual para casa, o encontro com Clarisse McClellan é inevitável. A jovem fala sobre filosofia, liberdade e vontade de desbravar outros mundos. Para Guy, um cidadão comum, isso é inaceitável e impossível. Como assim pensar por si próprio e ter imaginação? Não, não, o governo queima pessoas assim. Após essa noite, o bombeiro pega a si mesmo curioso para ver essa outra versão do mundo.

Durante um dia de trabalho corriqueiro, os bombeiros recebem um chamado de uma senhora que fora vista com um livro. A verdade é que são muitos escondidos e abarrotados num cômodo só. Convidada para se retirar, a senhora decide ser queimada juntamente com seus preciosos livros. É aí que Guy começa a furtá-los e esconder dentro de sua casa. Algo que poderia custar sua vida.

“[…] Entende agora porque os livros são odiados e temidos? Eles mostram os poros no rosto da vida. Estamos vivendo num tempo em que as flores tentam viver de flores, e não com a boa chuva e o húmus preto. […]” (p. 121)

Desde então, sua vida toma um rumo inesperado: Guy se demite do emprego e ganha a coragem necessária para procurar as pessoas que são contra o regime do governo atual.

O livro é divido em três partes. A primeira parte é sobre o despertar da consciência de Guy. A segunda parte mostra Guy tentando lidar com a vida dupla e aceitar sua nova condição. A terceira parte é sobre o enfrentamento da sociedade atual e a busca por uma solução. Para que os livros não se percam com as chamas.

“[…]A escolaridade é abreviada, a disciplina relaxada, as filosofias, as histórias e as línguas são abolidas, gramática e ortografia pouco a pouco negligenciadas, e, por fim, quase totalmente ignoradas. A vida é imediata, o emprego é o que conta, o prazer está por toda parte depois do trabalho. Por que aprender alguma coisa além de apertar botões, acionar interruptores, ajustar parafusos e porcas?” […]” (p. 85)

Fahrenheit 451 é uma crítica a sociedade alienada e como ela de fato seria caso não existisse a literatura. Mais do que para entreter, é um livro feito de reflexões.

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Carolina Rodriguez
Matérias Geek

28 anos, jornalista e técnica de museologia. Música e escritora de ficção nas horas vagas.