Ytalo e Arlailson para além do cárcere
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Sábado, 31 de agosto. Gritos ecoavam no campo Catumbi, na São Remo. “Faz um gol aí, Ytalo!”. “Vai Arlailson!”. Foi o primeiro jogo dos garotos após passarem aproximadamente um mês encarcerados devido a uma acusação de roubo, sem provas concretas. Os meninos “cantaram liberdade” no dia 15 de agosto, após a audiência no Fórum do Brás.
Mas, afinal, quem são Ytalo e Arlailson?
Arlailson Silva, 18 anos, estudante do terceiro ano do Ensino Médio, diz que seu esporte favorito é o futebol. Filho de pais pernambucanos, gosta de assistir a filmes, partidas esportivas e de jogar videogames. “Gosto de La Casa de Papel e Sintonia”.
Fã de funk e black, diz que uma de suas músicas favoritas é Quem viu nosso sofrimento, de Mc Luciano. “Me vejo com minha família construída, trabalhando, fazendo faculdade”, respondeu quando perguntado sobre seus projetos para o futuro.
“Meu lugar é aqui. Gosto de ficar no campo, jogando bola na quadra ou com minha mãe e meu pai em casa.” O estudante, que sonha em seguir carreira como jogador de futebol, diz ajudar o pai, Arlindo — vítima de um AVC—, além de fazer outras tarefas em casa. “Quero agradecer a todo mundo que estava apoiando Ytalo e eu, pela torcida aqui fora. Quero seguir minha vida como sempre segui.”
Dona Iracema, mãe de Arlailson, diz que o criou com muito amor e carinho. “Fiquei muito triste de ter acontecido isso com ele. Eu o conheço, sei o filho que tenho. Se tivesse aprontado, jamais iria passar a mão na cabeça dele”. A mãe aponta que o jovem sempre ajudou o pai e alega que não deseja a situação pela qual passou para nenhuma família. “Eu ensinei para ele o que é certo e o que é errado. Aos 11 meses, paguei uma mulher para cuidar dele, para que eu pudesse trabalhar. Meu filho não é usuário de droga. Sempre trabalhei e o incentivo a estudar”, ela completa.
Ivone, mãe do Ytalo, conta que Ytalo Gabriel é um filho amoroso, companheiro, incentivador e, acima de tudo, que acredita na capacidade de todo mundo. O jovem, de 16 anos, é nascido e criado na São Remo. Desde muito pequeno é apegado à bola. “Não preciso roubar, o meu sonho é o futebol.” Estudante do terceiro ano do Ensino Médio, com olhos abrilhantados, comenta: “Foi um sonho colocar meus pés no Pacaembu e jogar na Taça das Favelas”.
Mas nem só de futebol vive o garoto. Em momentos de lazer, mexer no celular, bater papo com os meninos e dar boas risadas são coisas simples que lhe trazem alegria, alegria roubada durante os dias no cárcere. Com gosto eclético, o menino gosta de filmes de ação, de terror e de vários tipos de músicas. “Espero que Deus possa me abençoar. Espero estar em algum clube. Não precisa ser grande, quero começar de baixo. A melhor coisa é sentir a emoção de estar conquistando cada degrau, suando” — é com essa humildade que Ytalo volta ao campo de futebol no campo Catumbi.
As mães, que choraram juntas, trabalham como domésticas desde muito cedo, aspecto de honra para ambas. Nascidas em solo nordestino, carregam na veia o amor pela educação, característica passada para os jovens. Elas encontraram aprendizado na dor e não esqueceram de suas raízes.
“Eles têm uma rotina supertranquila e são muito parceiros”, destaca Ana Paula Turbiani, professora da Escola Estadual Solón Borges dos Reis. “Quando ficamos sabendo do caso, a gente resolveu se mobilizar, visto que conhecemos a índole, caráter e as famílias deles.” A educadora, que diz ter convívio diário com os jogadores, assegura a bondade de Ytalo e Arlailson. “Os meninos ficaram encarcerados muito tempo sem dever nada”, ressalta.
*Artigo escrito em conjunto com Beatriz Carneiro.