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“Seu” Domingos, o rei da primeira página

Trecho do meu livro Matriz de Marketing, Comunicação e Negócios, que revisita o fazer dos meios de comunicação para fazer a comunicação revisitar e fluir pela sua empresa. Ou: a tese dos bisões! Ou ainda: insight para startups e empresas, lá no Ps.

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Marília Scalzo, André Singer e, lendo jornal, Domingos Alves Pinto, o “seu” Domingos; o cara escondido atrás da garrafa de Guaraná deve ser provavelmente este escriba, nos tempos em que diagramava a primeira página da Folha de S. Paulo — a foto, que retira da cena quem cuida da produção e revela também o olhar editorial do fotógrafo, é provavelmente do grande Sérgio Tomisaki, que sempre passeava pela redação para finalizar seus rolos de filmes 35mm e registrar analogicamente o dia-a-dia desse frenético ambiente de trabalho

Uma veterana jornalista da Folha de S.Paulo publicou um post no Facebook em março de 2014 com algumas fotos da redação do jornal na década de 1980. Numa dessas fotos está o “seu” Domingos, o rei da primeira página. Na foto, que tomo a liberdade de republicar acima, ele é o senhor de óculos lendo um jornal. Tudo indica que eu seja o sujeito ao lado dele, escondido atrás da garrafa de guaraná…

No meu livro Matriz de Marketing, Comunicação e Negócios, escrevo sobre ele no capítulo “O tédio do dia-a-dia”, um texto ainda na versão anterior ao acordo ortográfico. O livro é voltado à comunicação corporativa, portanto, existe alguma obviedade no que está lá, para quem é do ramo jornalístico.

Segue o trecho em que minha convivência com esse mestre é destrinchada um pouco. Ele me ensinou muito, sem ter me dito nada.

O tédio do dia-a-dia

— trecho do livro Matriz de Marketing, Comunicação e Negócios, de Cassiano Polesi, edição texto integral, de 7 de novembro de 2008, pgs. 368–370

Dizem que jornalismo é uma atividade frenética. Não se iluda: o cotidiano é um tédio. A agonia do dia-a-dia é ter notícia, boa e fresca. É por conta disso que profissionais de mídia chegam a irritar seus leitores, uma vez que são obrigados a praticar o que é a sina da profissão: a idéia de que notícia boa é notícia ruim.

Notícia positiva não vende, é o que dizem. Não tem apelo. Não tem impacto. Com alguma maestria, mídias mais atentas procuram equilibrar a informação de impacto com a informação “leve” e “agradável”.

O fato é que informação boa é a informação importante, seja ela agradável ou não. O dilema é conseguir fazer isso sem ser superficial ou correndo o risco de ser repetitivo.

Informação relevante é a agonia diária de todas as mídias. Quando diagramava a primeira página da Folha de S. Paulo, um dos maiores jornais brasileiros, convivi com Domingos Alves Pinto, um dos raros “senhores” a persistir numa redação marcada pela juventude. (Em tempo: diagramar é o trabalho de desenhar os espaços em uma página de jornal, definindo o tamanho dos títulos, textos e imagens; leia sobre isso no livro 2.)

“Seu” Domingos, como era carinhosamente chamado, era a alma da primeira página naqueles tempos — pelo menos até onde sei. Sua agonia diária era reclamar da falta de uma boa manchete. “Tá ruim, hoje, não tem nada!…” era a frase que eu mais ouvia — embora ele não estivesse necessariamente falando comigo. Aliás, raramente estava.

Por conta dessa situação, no meio da tarde, era seu costume passear pelas editorias, conversar com os editores em busca do “prato do dia”. Para alguém como eu, encarregado do lado da produção, sempre foi difícil perceber quando ele enxergava alguma luz, a manchete do dia. É provável que, na maioria das vezes, essa definição fosse resultado da principal reunião de editores do dia, a famosa, respeitada e temida “reunião das cinco”.

Cotidiano é um tédio, mas cada dia é um tédio diferente. Era comum eu perceber “seu” Domingos bem mais aliviado ao final da tarde, quando a primeira página do jornal já começava a exibir grande definição na minha frente, eu que naquele momento me empenhava em fazer as coisas do mundo real entrarem naquele pequeno espaço de mundo impresso.

Este pequeno ambiente de comunicação molda o mundo e é moldado por ele, pela oportunidade do momento, pelo que se tem à mão, ou por uma simples boa idéia, ocorrida ali mesmo, na pressa do fechamento de uma edição. Pressa cruel, aliás, pois é a base de uma das várias frases prediletas de jornalistas ao redor do mundo: a reportagem boa é a que chega. Repórteres e fotógrafos lutam diariamente contra essa sina.

O que move essa máquina da notícia é o valor básico do trabalho da mídia: ver e ouvir, para então criar ou interpretar a informação e entregá-la ao seu público. Sua empresa faz o mesmo.

Para que esse fluxo de trabalho dê resultados, é necessária alguma sinergia entre os participantes desse plenário. E para cumprir o objetivo de reorganizar sua empresa na direção da informação, o que é defendido aqui, é necessário criar as condições e sinergias para isso. (. . .)

(trecho do livro Matriz de Marketing, Comunicação e Negócios, de Cassiano Polesi, edição texto integral, de 7 de novembro de 2008, pgs. 368–370)

Um pouco da Folha molda meu livro Matriz de Marketing

Capas das edições do meu estudo Matriz de Marketing, disponível sob demanda pelo site Lulu.com, por aqui: bit.ly/livraria-matrizmarketing

O trecho acima é parte do estudo que dividi em três partes e publiquei com as capas ao lado, desenhadas por Luciano Pessoa, o mesmíssimo que criou a nova marca da Anand Store Japamalas, história também publicada aqui. A edição de capa branca junta tudo e resulta em um catatau de 400 páginas. É um projeto de autopublicação e edição sob demanda, por isso é relativamente simples ter esses exemplares separados — embora o serviço de publicação Lulu.com tenha descontinuado a versão que possibilitava a edição de capa vermelha. O estudo ainda está on-line e disponível na minha lojinha e livraria. Confira.

E já que estamos resgatando os tempos de Folha, aproveito para publicar uma foto que encontrei também no baú da querida colega, dos tempos em que eu fechava a Folha Illustrada. Nesse momento, até parece que eu explicava para esse grupo de bambambãs como é que se faz uma página de jornal… Bem, não fiz feio, aliás: passeie pela mostra de páginas que criei para a Ilustrada, também publicada aqui; siga por este link: bit.ly/mktvendas-folhailustrada

Marcos Augusto Gonçalves observa algo que estou comentando para o editor Matinas Suzuki Jr.; ao lado dele está Márion Strecker, que olha para Andrea Fornes, de costas; atrás, passando batido, Luis Antonio Giron. Isso foi em algum momento de 1986; foto do arquivo da Folha, publicada no Facebook. Levei!

Claro que um pouco da Folha molda meu estudo. Assim como um pouco de qualquer redação, em qualquer ponto do planeta e sob qualquer tecnologia. Essa é a graça da coisa: o fazer editorial é universal e atemporal. Ou, como mostra a imagem dos bisões nas cavernas de Altamira, somos todos editores.

A conversa continua, aos poucos, neste blog ou no blog específico do livro Matriz de Marketing, que abriga na aba Meio Sem Bússola o que costumo chamar de “a tese dos bisões”. Confira lá os longos embates que esse enfoque provoca, uma pequena boa briga com o pessoal da Escola de Redes.

Até +

c., agosto de 2018

Ps.: Este post, cujo teor original foi publicado em 2014 no Facebook, estava planejado para ser portado para este Medium há tempos e foi precipitado pela perda em 21/08/2018 do mentor do projeto Folha. Minha homenagem discreta é esta: a Folha foi uma escola onde aprendi muito, apanhei um bocado e ensinei um tantinho, mesmo sem saber… Como toda escola, ela marca. Deixa também pistas que podem ser usadas hoje pelas empresas e, principalmente, pelas startups e sua cultura de experimentação: a imprensa é literalmente uma referência para a cultura do “aprender fazendo”. Pauta para outro post, o papo é cabeção :)

Cassiano Polesi
011 9 6929–8888
cassianopolesi@matrizmkt.com

Gerenciamento da informação corporativa é um dos trabalhos que este atendimento mkt:vendas entrega. Entre em contato e vamos conversar!

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Cassiano Polesi, mkt:vendas: marketing, marcas, vendas, agora com foco em gestão patrimonial imobiliária // || \\ 011 9 6929–8888 cassianopolesi@matrizmkt.com