O futuro da humanidade é a babaquice. E isso não me surpreende mais.

Mauro Amaral
SobreNós
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2 min readMay 9, 2012

Aos saudosos Mussum, Dicró, Moreira da Silva e Tião Macalé,

A coisa está feia por aqui, meus compadres. Imaginem que, mal vocês subiram para o andar de cima, fomos invadidos pela tsunami do politicamente correto, espécie de alergia moral que faz a todos torcerem o nariz, senão espirrar, ao mínimo sinal de humor tipicamente nacional.

Lembra quando vocês gritavam “Urubuzis é a mãezins!”, ou ainda “Nojento…tchan…”, ou ainda tiravam onda com os otários que não subiam o morro? Pois é, até que provem o contrário, este tipo de abordagem é, agora, fora da lei.

Senão, reparem. A novidade da semana é que o Ministério Público de Uberlândia está apurando suposta apologia ao racismo em um clipe recente do Alexandre Pires (quem? Ah, o do SPC, que quer tirar onda de astro latino, certo?).

Não entendam errado, meus camaradas. O clipe não é bom e muito menos engraçado e não defendo a peça em si, desprezível e nula em termos culturais como são tantas outras. Estamos falando apenas (e mais uma vez) de letras de duplo ou triplo sentido, em uma piscina cheia de gostosas e com participações que vão do globalizado Neymar ao improvável Mr. Katra. E só.

Segundo as autoridades competentes, a enxurrada de reclamações foi enorme. Racismo e má intepretação do papel da mulher na sociedade figuram entre as acusações. Sabe o que esse caso está me lembrando? Aquela cena toda ao redor dos livros do Monteiro Lobato que correm ainda o risco de serem tirados de circulação.

Parece que falta o entendimento aos Doutores da Lei que, além de se auto-aumentar-se e conceder recessos e férias quando querem, a cultura tem lá seus próprios tempos e movimentos. Se no caso do autor de “O Sítio do Pica-pau amarelo”, o que contou para a posteridade foi o registro das histórias da infância e sua miscigenação com lendas clássicas; no clipe citado acima, nada fica. É obra oportunista e fortuita, destinada a “alguma-coisa-folias” Brasil afora. Não há legado, não há mito, não há herói final.

Em resumo: o tom tão descartável dos poucos minutos em vídeo não vai contribuir ou diminuir a sua influência em sentimentos sejam eles quais forem.

Espero sinceramente que vocês agora habitantes de instâncias sobrenaturais me ajudem a entender uma coisa: onde estavam os nobres doutores do MPF de Uberlândia desde que a cultura nacional foi criada? Que moralismo babaca é esse? Que babaquice moral é essa?

Fiquem atentos vocês, aí de cima, quando não estiverem deixando anjos corados de vergonha com aquela piada do “Leite de mula manca da serra”, a percepção final do caso: a babaquice é o destino final da humanidade. E, não sei porque, isso não me surpreende mais.

Fico por aqui. E Deus foi testemunha que eu queria beber leite!

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Mauro Amaral
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