Sobre não perder a paixão no ofício

Mauro Amaral
SobreNós
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2 min readAug 8, 2011

O Tempo que passa é um cara bacana. Ele, com a sua sabedoria de ampulheta, nos faz perceber coisas erradas no tempo errado e as coisas certas na hora mais adequada.

Foi assim no quesito: toda arte necessita de paixão.

Em primeiro lugar um aviso: viver de escrever ocasiona sequelas físicas e necessita de dedicação franciscana ou, pelo, menos monástica. No meu caso é uma jornada que se prolonga das 7h30 às 11h30 da manhã, em seu período mais criativo; e em outras ações esporádicas que me ocupam até 20h.

O final do dia é um embalar nada melódico de maré alta, onde eu sou as pedras e as ondas uma quantidade abissal de informação consumida. Ressaca.

Explico: meu fazer envolve criar conteúdos de escopo tão variado que hoje — a título de realidade — , posso começar falando de cinema, discorrer sobre tecnologia, convencer uma dona-de-casa incauta a comprar uma lavadora de roupas e, para finalizar, arriscar um artigo autoral sobre todo este processo.

Como que ao cobrar por antecipação, a vida comercial toma lugar a todo momento e o homem de tipos vira um tipo de homem que precisa coordenar o trabalho de outras tantas pessoas nunca bastantes para ocupar os espaços que a quimera digital exige em sacrifício.

Desavisados que chegam, que olham de longe e que perguntam entre cochichos, “como ele consegue?”, esquecem que o ingrediente de tantas concessões é a paixão fundamental por produzir bom conteúdo. É uma fórmula desequilibrada, concordo. Para escrever um pequeno prólogo ou capítulo da narrativa de sua geração, da grande Obra Coletiva que é o Memorável, distribuímos folhetos na frente de um Coliseo sempre vazio que nos lembra sempre que o povo quer Pão e Circo.

(Não sei por que tenho esta mania de, até mesmo nos textos em que só eu aprovo, querer deixar um conselho final, uma moral, um sentido. Qual dos quais seria: Esopo, raposa ou uva? Bom, deixemos isso para outra oportunidade)

Mas fica aí um conselho final: mova-se sempre pela paixão Ideal do melhor trabalho já feito dos últimos tempos na última semana. E encontre um lugar onde ele possa, de fato, acontecer. Mesmo que de forma absolutamente fraternal, gratuita e voluntária.

Essas coisas de é dando que se recebe realmente acontecem!

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Mauro Amaral
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