Uma loja que vende o seu tempo atual

Mauro Amaral
SobreNós
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2 min readSep 1, 2013

A primeira questão logo de saída, como alguém que pula pela primeira vez de um trampolim e ao tirar os pés da prancha lembra que não sabe nadar. Ando cultivando um desapego a esta fama — quase irreal — , que seres da minha geração têm em se manter sempre à frente nas indicações de consumo de produtos culturais, como livros, filmes e séries de TV.

Acho que, vez em quando, nós que somos fundadores da blogosfera, profissionais de conteúdo digital etc; devemos mesmo é relaxar e ver o que nossos contatos mais próximos indicam. Sem preconceitos, sem o clima de “ele sabe mais do que eu”. Acontece com vocês também? Pois é.

E aconteceu comigo, dia desses ao dar a primeira olhada diária no Facebook e me deparar com um post rápido de um antigo contato indicando o livro “A livraria 24 horas do Dr.Penumbra”, de Robin Sloan.

Você conhece o Robin Sloan, ou pelo menos seu trabalho, mesmo sem saber. Ele trabalhou no começo do Twitter e antes na Current TV. Ou seja, Sloan sempre esteve nos bastidores da movimentada cena digital em São Francisco. Qual seria o peso desta posição na criação de um livro de fantasia contemporâneo? Talvez aquele apenas que recai sobre os produtores culturais de todas as épocas: o de ser a voz de sua geração.

Sloan consegue. Digo isso porque há tempos a cena de literatura fantástica necessitava de uma voz que refletisse as angústias do povo que “veio ao mundo” entre o final dos anos 90 e início dos anos 2000. A bolha da internet, o trabalho remoto, os planos de negócio das startups atuais e a inatividade frente a um mundo instantâneo foram temas que sofreram de seu próprio ambiente imediatista e respiravam com a ajuda de aparelhos em uma UTI artística sem dar sinais de recobrar sua posteridade. Até agora.

Com “A livraria 24 horas…”, Sloan consegue dar voz à sua geração nos apresentando uma trama que mistura o Google, um webdesigner, uma sociedade secreta e um insuspeito amor por livros que, de tão antigos, são impossíveis de serem lidos. Ao menos que você tenha o código secreto.

Como esta aqui não é uma resenha, mas apenas um convite (o livro está disponível na Amazon por poucos reais), deixo os detalhes da trama que envolve Clay Johnson e Kat Potente para outro tempo e espaço, me reservando aqui apenas o direito a deixar no ar uma questão transcendental.

Qual seria o seu código no livro da vida? Público, inacessível ou inexistente?

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Mauro Amaral
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