Luka Doncic não é um bom perdedor. E ele também é uma sensação.

Tradução NBA
Mavs Brasil
Published in
8 min readFeb 28, 2019

O novato do Mavericks está sendo comparado a Lebron James e acelerou a reconstrução de seu time.

DALLAS — Dirk Nowitzki já viu bastante coisas em suas 21 temporadas com o Dallas Mavericks. O que ele nunca havia visto, até mês passado, foi um companheiro de time que poderia atrair cerca de duas dúzias de fãs querendo autógrafos no frio congelante, com temperaturas abaixo de zero, só para receber o ônibus do time em uma quinta de manhã em Detroit.

É razoável presumir que nenhum dos 197 companheiros de Nowitzki nas últimas duas décadas em Dallas, poderia ser a razão para o que aconteceria algumas horas depois. Em uma troca surpreendente, Dallas adquiriu Kristaps Porzingis do Knicks para servir como coadjuvante a Doncic, com o General Manager do Mavericks, Donnie Nelson abertamente admitindo que realmente forçou a troca devido ao Doncic ter “acelerado o processo de tomada de decisão” do time.

Doncic é constantemente abordado por fãs querendo autógrafos, Nowitzki disse: “é quase como se fossemos os Warriors.”

“Quando chegamos as cidades agora, mesmo tarde da noite, tem tantas pessoas o esperando com coisas para ele autografar, que é quase como se fossemos os Warriors”, disse Nowitzki. “Lukamania é real. Nós estamos vivendo isso todo dia”.

Essa semana traz outra conquista para Doncic, que comemora seu 20° aniversário nesta quinta. Ele está com médias de 20.9 pontos, 7.2 rebotes e 5.7 assistências em 56 jogos e é responsável por quatro dos cinco triplo-duplos feitos por menores de 20 anos na história da NBA. É um começo que validou rapidamente a ideia já antiga de Nelson que Doncic possui potencial de se tornar uma superestrela.

O único outro novato na história da liga a atingir esses números em uma temporada inteira foi Oscar Robertson em 1960–61.

“Eu adoro, adoro, adoro caras que conseguem passar a bola,” disse Nelson, priorizando a habilidade de Luka de armar o time com 2 metros de altura apesar do fato de já ser conhecido por ter o step-back mais assustador da liga, somente atrás de James Harden.

“Eu sabia que podia jogar por aqui,” disse Doncic. “Mas é melhor do que eu esperava.”

Doncic está com médias de 20.9 pontos, 7.2 rebotes e 5.7 assistências por jogo. O único outro novato a atingir essas médias foi Oscar Robertson.

Um sucesso instantâneo

Esses números incríveis e o interesse mundial em suas habilidades permitiu Doncic alcançar mais de quatro milhões de votos na votação do All-Star, somente atrás de LeBron James e Giannis Antetokounmpo. Doncic, em outras palavras, terminou com uma votação melhor que Michael Jordan como novato (foi o quinto). Melhor também que LeBron James (13°) e até Yao Ming, que chegou a ser o 4° mais votado em 2003, apesar de serem inflados pela população da China, país de Yao.

A produção instantânea de Doncic também o validou a todos os tolos que insistiram, totalmente céticos, em suas preocupações sobre o atletismo e a capacidade de lidar com o tamanho dos defensores da NBA, que existiam mesmo com todo o sucesso dele tanto no clube (Real Madrid) e na seleção (Eslovênia) com apenas 18 anos. No processo, Doncic gerou uma série de questionamento dos times (Phoenix, Sacramento e Atlanta) que deixaram ele ser escolhido pelo Mavericks.

Ainda assim Doncic insiste que sua temporada na NBA, que aparenta que será coroada com um prêmio de novato do ano, não tem sido tão fácil quanto parece.

O Mavericks entrou para o jogo de quarta em casa contra o Indiana com um recorde de 26-34 e provavelmente não irá para os playoffs pela terceira temporada seguida. Eles trocaram todos os quatro titulares ao lado de Doncic (Dennis Smith Jr., DeAndre Jordan, Wesley Matthews e Harrison Barnes) em trocas que os deram Porzingis e cerca de $30 milhões em teto salarial, e nenhum dos dois podem os ajudar nessa temporada.

É a primeira vez na vida de Doncic, desde de que pegou em uma bola com 7 anos, que ele experimenta derrotas. Uma dica de como ele tem lidado com isso: Doncic rasgou sua camisa em frustração após uma jogada tenha dado errado – duas vezes.

“É mais difícil do que pensam,” disse Doncic.

“Ele é um vencedor – ele ganhou tudo na Europa,” disse Juancho Hernangomez do Denver Nuggets. “Então toda vez que ele perde, ele fica muito irritado.”

Hernangomez tem observado Doncic de perto por anos, tanto na quadra – já que Doncic jogou com seu irmão, Willy Hernangomez do Charlotte, no Real Madrid – e através do grupo do Whatsapp que abriga vários jogadores europeus que jogam o popular jogo Fortnite. Mas os profissionais do Mavericks não estão preocupados com o relatório dado de um jogador que diz que Doncic não é um bom perdedor.

“Ele não lida bem com derrotas – eu tenho certeza disso, ” disse o técnico do Dallas Rick Carlisle. “Mas eu também não lido bem com derrotas.”

A esperança é que Kristaps Porzingis consiga se tornar o coadjuvante a Doncic nas futuras temporadas.

Aquele que (quase) escapou

Em 15 de maio, executivos do Mavericks estavam preocupados com Doncic – e muito. Sabendo por mais de um ano que eles queriam escolhê-lo se tivessem a chance, os oficias do time ficaram devastados em Chicago quando Dallas caiu da projetada 3° escolha para a 5° na loteria daquela noite.

“Foi devastador para gente, ” disse Nelson. “Nós achamos que a nossa chance de o escolher foram embora porque é muito difícil subir escolhas na loteria.”

Nowitzki demonstrou uma dica pública da decepção da organização quando ele tweetou essa reação:

Para subir o suficiente, Dallas teve que persuadir o Atlanta Hawks a desistir da 3° escolha do draft. Custou ao Dallas a 5° escolha, que Atlanta usou em Trae Young, e também a escolha do time em 2019.

Mas o dono do Dallas, Mark Cuban, aprovou o negócio, mesmo naquele preço, pois Nelson trabalhou muito por ele. Cinco anos atrás, durante o draft de 2013, Nelson e seu olheiro internacional, Tony Ronzone, queriam muito que o Mavericks usasse a 13° escolha em um pouco conhecido grego chamado Giannis Antetokounmpo. Cuban não permitiu, dado que Antetokounmpo, ao contrário de Doncic, era um grande mistério – e logo depois iria se arrepender dado que Antetokounmpo se tornou uma estrela em Milwaukee.

Então dessa vez, depois da decepção da loteria, Cuban deu liberdade para Nelson fazer o que fosse preciso para pegar Doncic. O que o time recebeu foi o filho da ex-profissional da Eslovênia – Sasa Doncic – e um veterano de três temporadas na EuroLeague e na La Liga da Espanha no Real Madrid após Luka Doncic fazer sua estreia profissional com 16 anos.

Para o prazer do Mavericks, Doncic estava mais preparado para a NBA do que eles sonhavam – como sugere seu aproveitamento de 16-29 nos arremessos nos últimos três minutos de um jogo com uma diferença de 3 pontos ou menos nessa temporada. Como Carlisle disse: “Passador único, habilidade única, tipo de corpo único.”

“Eu hesito bastante ao fazer comparações com jogadores como LeBron James e Magic Johnson, que foram estrelas que faziam de tudo, mas é bem claro agora que Luka tem muitas das mesmas características e tem provado que consegue fazer muito dessas coisas,” disse Carlisle. “Ele tem tamanho, força e agilidade – e uma compreensão do jogo muito à frente da sua idade em como usar seu corpo para fazer jogadas e sofrer faltas.”

Carlisle quase nunca está sozinho ao fazer essas comparações. Dwyane Wade de Miami, um dos maiores especialistas em James após suas quatro temporadas juntos no Heat, se referiu à habilidade de passar de Doncic como “tipo LeBron.”

O técnico do Los Angeles Clippers Doc Rivers disse sobre Doncic: “Ele é quase meu jogador favorito de assistir, e não estou falando apenas de novatos. Primeiro de tudo, ele joga com uma alegria imensa – eu adoro isso. E ele é tão avançado na sua forma de jogar. O céu é o limite para ele. Espera até ele entrar em forma.”

Mãe do Doncic, Mirjam Poterbin, mora próximo de seu filho em Dallas.

Mantendo a mãe por perto

Rivers estava rindo quando disse a última frase, mas ele acertou em cheio a área com maior preocupação com Doncic em seu primeiro ano – condicionamento.

Os representantes do Mavericks e do Doncic, comandado pelo agente principal, Bill Duffy, aceitaram logo após o draft em impor o maior descanso possível de Luka de julho até setembro após uma sequência imparável de jogos no maior nível de basquete internacional por quase um ano. Doncic começou a temporada mais pesado do que o listado (218 libras) e tem recebido piadas sobre sua dieta desde então.

Mas os oficiais do Mavericks estão satisfeitos com as mudanças graduais nos hábitos de dieta de Doncic. Por ordem do time, Doncic contratou um chef em dezembro para preparar suas refeições no pré-jogo e nas noites livres. Doncic também começou a trabalhar com sucos frescos saudáveis na sua rotina.

Em Madrid, Doncic viveu os últimos dois anos e meio com sua mãe, Mirjam Poterbin, que criou Doncic enquanto comandava dois salões de beleza em Ljubljana. (Doncic se rejeita há muito tempo em falar sobre seu pai.)

Em Dallas, mãe e filho vivem separados perto do American Airlines Center, enquanto Doncic desenvolve sua independência. Mas ainda vivem perto um do outro.

“Esse era seu sonho,” disse Poterbin. “Com 7 anos de idade ele já estava falando sobre NBA. Eu choro muitas vezes.”

Ainda sim existem desafios em seu primeiro ano e decepções para Doncic no meio da Lukamania – e o ajuste difícil para jogar em um time com escassas perspectivas de jovens prospectos após essa temporada.

Ele assistiu de forma impotente seu companheiro de equipe fluente em espanhol J.J. Barea, sofrer uma lesão no Aquiles em janeiro que iria acabar com sua temporada. Ele teve que ver também sua primeira grande troca, vendo Dallas acabar abruptamente a planejada dupla Doncic/Smith Jr. quando veio a chance de adquirir seu amigo Porzingis.

“Eu fiquei chocado,” disse Doncic. “Na Europa não funciona assim.”

Doncic também teve problemas às vezes com seus lances livres, convertendo apenas 72.6% de suas tentativas nessa temporada apesar de ir para a linha muitas vezes (6.4 vezes por jogo). A mãe, enquanto isso, admitiu que Doncic estava “bem triste de início” após perder a vaga no All-Star após a mudança de formato na votação popular, já que desde temporada passada, apenas conta como 50% da equação para determinar os titulares.

A boa notícia: esses testes são muito bem-vindos – mesmo com o recorde negativo do Mavericks – comparado com as coisas anteriores enfrentadas por Doncic com 13 anos. Essa foi a idade que Doncic deixou sua mãe na Eslôvenia para entrar na academia do Real Madrid.

“Não tem palavras para descrever isso”, disse Poterbin. “Honestamente, eu não passaria por isso de novo.”

“Foi muito mais difícil sair de Madrid do que para cá”, encerra Doncic.

Texto de Marc Stein no NY Times. Link original: https://www.nytimes.com/2019/02/27/sports/luka-doncic-dallas-mavericks.html#click=https://t.co/3qRseLNvcl

--

--