Dia da mulher negra latino-americana e Caribenha

Coletivo Perseguidas
ColetivoPerseguidas
4 min readJan 6, 2021
(disponível a narração do texto no tumblr, para ser encaminhado clique AQUI.)

O Movimento Coletivo Perseguidas é um projeto diretamente alinhado ao feminismo radical, fundado por mulheres brasileiras não-brancas e iniciado no ano de 2020. Com a proposta de traduzir vídeos, textos e demais produções feitas por feministas importantes para a análise racial e radical, além de produzir conteúdo próprio e divulgar notícias sobre mulheres marginalizadas no Brasil, que são em sua maioria mulheres pretas e indígenas. Por meio de redes como Instagram, Twitter e Youtube, o Perseguidas mantém seu foco na existência e valorização da mulher marginalizada e segregada na sociedade, principalmente as existentes no território brasileiro, como negras, indígenas e asiáticas, vítimas do racismo recorrente, além do patriarcado.

Inicialmente, o projeto deu-se pela união de cinco mulheres não-brancas determinadas a oferecerem traduções de vídeos e textos feitos por feministas radicais de diversos países. Entretanto, observou-se a urgente necessidade de priorizar e efetivar a atuação da mulher não-branca no feminismo radical, haja vista a existência do racismo na sociedade e a perpetuação da segregação de mulheres diferentes do padrão eurocêntrico. Assim, surge o Movimento Coletivo Perseguidas, com o objetivo maior de denunciar a violência e o apagamento da mulher negra, indígena e asiática no contexto racial e na realidade biológica que as oprimem dentro do sistema patriarcal, dois sistemas que muitas vezes andam juntos. É essencial erguer as vozes dessas mulheres que, recorrentemente, produzem e debatem sobre o feminismo e o racismo e não recebem a visibilidade e retorno que merecem.

O nome Perseguidas é um trocadilho ambíguo, que além de expressar um apelido usado culturalmente por muitas regiões do Brasil para se referir à vulva, também é referente ao fato de mulheres serem caçadas ao longo da história exatamente por nascerem com vulva, vagina, útero e ovários. Além disso, cabe perfeitamente como característica de mulheres feministas radicais que são linchadas de maneiras violentas por entenderem sua opressão e espalhar para outras mulheres. Mulheres essas que, quando não são brancas, são questionadas no objetivo de serem silenciadas a todo momento. É de extrema relevância que, dentro do feminismo radical, exista a consciência de que essas mulheres estão sendo estupradas pelo patriarcado e assassinadas pelo racismo e que, além disso, um sistema ajuda o outro. Essa consciência não pode ser apagada e é dever de todas expandir e gritar pelas que não conseguem mais.

É de conhecimento geral que o racismo sistemático que cai sobre os corpos de mulheres não brancas, as levam para o local mais baixo da pirâmide social. Contextualizado na situação brasileira, o período colonial levou povos indígenas e africanos à longos anos de escravidão. Pós-abolição da escravidão, esses grupos não tiverem qualquer ação para que fossem reinseridos na sociedade, isto é, sem terrenos, sem qualquer ajuda financeira, etc. Assim, mulheres negras e indígenas foram violadas e segregadas de todos os espaços sociais e direitos humanos básicos. Entretanto, há exemplos fortes de mulheres brasileiras que se tornaram símbolo da revolução anti-colonial no Brasil, uma luta constante até hoje em dia, devido as grandes mazelas desse período estarem fortemente presente na realidade brasileira. Mulheres como Dandara, Tereza Benguela e outras mulheres líderes indígenas de diferentes povos lutaram e devem ser lembradas na história (que frenquentemente faz questão de apagá-las), além de atualmente existirem mulheres muito influentes na literatura da sociedade atual que devem ser consideradas pela história, sociologia, e demais áreas de conhecimentos, acrescentando na análise radical de raça e gênero.

O Coletivo Perseguidas explicita a urgência de se dar atenção ao contexto revolucionário existencial da mulher negra, indígena, latino americana e caribenha, já que assim se faz a vida das envolvidas no projeto e das mulheres as quais ele objetiva alcançar. Por isso, entende-se que o dia 25 de julho, especialmente dedicado a relembrar e erguer a luta dessas mulheres, é extremamente necessário a exaltação da garra e luta da mulher indígena e negra brasileiras, no contexto latino-americano. Mulheres como Teresa de Benguela, líder revolucionária quilombola pela libertação negra e ante às opressões escravocratas — cujo nome é homenageado, no dia 25 de julho, no Brasil — , Dandara dos Palmares, ex-escrava que tomara a liderança do Quilombo de Palmares e, posteriormente, cometera suicídio para que não voltasse ao sistema escravagista, dentre outras várias imagens femininas que se assemelham à diversas mulheres radicais brasileiras da atualidade, resistem e urgem pela necessidade de que suas vozes sejam erguidas na sociedade, em geral, latino-americana. Assim, o Coletivo Perseguidas, composto por mulheres necessariamente não-brancas, se inspira e se baseia na resistência permanentemente da mulher negra e indígena no sistema racista enquanto aliado do sistema patriarca.

Dessa forma, mulheres não-brancas devem se unir em uma realidade equivalente para que a retaliação e a revolução aconteça, para que a mulher negra, latino-americana e caribenha não só mais seja memorada na data 25 de Julho, como sejam dominadoras da voz e da frente antirracista e antipatriarcal no mundo inteiro, somadas também às mulheres de demais etnias não eurocentradas. Para o Perseguidas, não há outra palavra melhor destinada e absorvida por tais mulheres que não seja: “Lutemos”.

link para o post em inglês: https://filia.org.uk/news/2020/7/30/collective-perseguidas-the-ascension-of-black-women-in-the-brazilian-materialist-feminism-movement

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