A evolução da indústria musical na Web: Desde o fonógrafo ao Spotify

Beatriz Bastos
MCTW_TDW
Published in
6 min readJul 29, 2022

Com certeza que nalgum dia da tua vida, enquanto te encontravas a ouvir música no teu quarto ou até a andar na rua te questionaste como em tão pouco tempo conseguimos chegar tão longe. Estou a falar da época em que a música não era um produto web que era possível ser ouvida através de um dispositivo, mas apenas por vinis, CD ou se quisermos voltar mesmo aos primórdios, por um fonógrafo. Neste artigo vou falar um pouco sobre esta evolução e explicar que tecnologias foram utilizadas até chegarmos às plataformas stream de música que atualmente usamos no nosso dia-a-dia.

Breve história da evolução musical

Embora a música seja algo que sempre existiu no nosso mundo, através da nossa voz e mais tarde, através de instrumentos musicais, não existia forma de eternizar os sons que eram reproduzidos. É assim que nasce o fonógrafo, em 1877, criado por Thomas Edison. Esta foi a primeira criação que permitiu a gravação de sons e a sua reprodução através de cilindros e diafragmas. Mais tarde, em 1889, surgem os primeiros cilindros pré-gravados, também desenvolvidos por Edison que permitiram que a música fosse distribuída. Os vinis nascem deste conceito de cilindros pré-gravados. Estes discos eram feitos de resina e só foram substituídos pelos vinis após a segunda guerra mundial. Isto veio permitir que várias músicas fossem gravadas num único disco. Além disso, a tecnologia que permitia que os próprios vinis fossem tocados também evoluiu, o que levou a que a distribuição da música sofresse um enorme crescimento.

Em 1960, surge a primeira cassete compacta, produzida pela Philips, sendo esta um dos primeiros formatos que levou a que a música fosse algo portátil. Mas a portabilidade musical só muda radicalmente quando em 1979, a Sony lança o Walkman (Figura 1). A partir deste momento as pessoas começaram a poder levar a sua música para qualquer sítio tendo que carregar com eles, apenas um pequeno leitor e a respetiva cassete.

Figura 1 — Primeiro Walkman, produzido pela Sony
Figura 1 — Primeiro Walkman, produzido pela Sony

Mais tarde os walkmans evoluíram quando apareceram os CDs, começaram a ler música com CDs (compact discs) e as cassetes começaram a cair em desuso. Os CDs surgiram nos anos 80 e até ao surgimento da música codificada, estes eram considerados incontestáveis quando se tratava de armazenamento de música.

Surge então, o MP3, em 1993. Esta foi uma das primeiras formas de compressão de áudio a ser criada, onde as perdas relacionadas com este processo eram praticamente impercetíveis ao ouvido humano. A partir deste momento, a música começou a poder ser partilhada por vários meios de serviço de música. Algumas destas partilhas era feitas de forma ilegal pois, o formato MP3 não permitia que fossem encriptadas regras relacionadas com copywriting, sendo muito fácil comprar uma música e partilhá-la sem ter em conta os seus autores.

Plataformas stream: Como surgem?

As plataformas streaming de música surgem com a criação da Internet Underground Music Archive (IUMA) em 1993, um arquivo grátis de música online que permitia aos utilizadores fazerem o download das músicas em formato MP3. Esta foi criada a pensar nos artistas independentes, que não tinham contrato com editoras, deixando que estes partilhassem a sua arte e comunicassem com o público sendo apenas necessário que o upload das suas músicas fosse realizado através do Gopher. Os artistas tinham a possibilidade de se registarem com um URL gratuito e de distribuírem as suas músicas sem taxas de largura de banda.

Com o aparecimento do formato MP3, também surgiu a Napster no final dos anos 90. A Napster era um serviço de streaming de música que permitia que as pessoas tivessem um arquivo de áudio em rede P2P (peer-to-peer). Este arquivo era descarregado através de um modem e podia ser reproduzido no computador. Isto levou a que as pessoas começassem a copiar as músicas dos CDs e a partilhá-las de forma ilegal, violando os direitos de autor dos artistas. A empresa acabou por enfrentar inúmeros problemas, acabando por ser vendida à Roxio.

Em 2000, é lançada a Pandora (e não, não é a marca de joalharia), um serviço de stream de música criado com o objetivo dos seus utilizadores poderem criar estações de rádio personalizadas tendo por base as suas preferências. Este foi o primeiro serviço a oferecer uma experiência personalizada e música gratuita aos seus utilizadores, onde o dinheiro era gerado através de anúncios.

Na onda da personalização de conteúdo em prol do utilizador, é lançado o Last.fm em 2002 que criava um perfil detalhado do gosto musical de cada utilizador através de um recomendador de música. Este site dispõe de um algoritmo que sugere aos seus utilizadores artistas semelhantes ao que este considera favoritos.

Mais tarde, surge no mercado o Spotify, uma das maiores e mais utilizadas plataformas de streaming de música atualmente. Esta plataforma nasce com o intuito de poder resolver os problemas gerados pela pirataria musical. A plataforma oferece uma infinita variedade de música ao público, assim, os artistas deixam de ser pagos pelo número de downloads realizados às suas músicas e passam a receber royalties por cada reprodução feita.

Em 2007, surge o SoundCloud, uma plataforma que não só permite que os artistas partilhem a sua música/conteúdo de forma gratuita, mas que estes também comuniquem com os seus ouvintes, tendo uma vertente de rede social.

Por fim, em 2015, a Apple decide lançar a Apple Music para os seus utilizadores. Este é um serviço pago de streaming de vídeo e música onde é possível ouvir música/conteúdo selecionada ou playlists já existentes. Para além disso, este serviço também inclui acesso à estação de rádio Beats 1 que têm um grande alcance a nível mundial.

Mas afinal que tecnologias utilizam estas plataformas?

Para entender melhor quais as tecnologias que atualmente são utilizadas no desenvolvimento de plataformas stream de música, vamos analisar o caso do Spotify, uma das plataformas mais utilizadas atualmente.

Embora o Spotify seja uma das plataformas stream mais prestigiadas, ao longo do seu desenvolvimento, este também tem vindo a enfrentar alguns desafios. O principal desafio foi conseguir acabar com o buffer time da transmissão das músicas, ou por outras palavras, o tempo que o Spotify demorava a reproduzir uma música a pedido do utilizador e as interrupções que podiam ocorrer durante a sua reprodução. A melhor solução que os seus desenvolvedores encontraram foi o uso da Cloud. Atualmente todas as músicas/conteúdo presente no Spotify encontra-se alojado na Cloud, nomeadamente no Amazon S3 e no Big Query do Google Cloud. Isto permitiu que a velocidade e eficiência da plataforma melhorasse, fazendo com que não houvesse atrasos na capacidade de resposta.

Atualmente, as principais linguagens de programação utilizadas pelo Spotify são JAVA e Phyton. Esta decisão foi feita quando há uns anos a empresa decidiu integrar a arquitetura de micro serviços. Esta arquitetura permite que uma aplicação grande se divida em várias partes, atribuindo uma tarefa a cada uma. Desta forma, para responder a algum pedido, estes micro serviços podem ser chamados para responder, permitindo que os desenvolvedores se concentrem essencialmente no desenvolvimento dos seus serviços principais.

DevOps — conjunto de práticas e ferramentas que permitem agilizar e aumentar a capacidade de um produto responder aos serviços — é algo que também está a ser implementado pelo Spotify através de diferentes ferramentas, nomeadamente o Docker para fazer criar containers (pacotes de software que contêm tudo o que é necessário para poder ser executado — permitindo que o problema seja resolvido de forma rápida sem interferir com o resto do desenvolvimento). Assim, todos os processos realizados tornam-se mais rápidos e ágeis.

Em suma, as plataformas stream estão numa constante procura de quais as melhores tecnologias a implementar para garantir um desempenho ágil, rápido e confiável e que lhes assegure uma maior organização e eficiência no trabalho. Através do uso de tecnologias minimalistas, torna-se possível otimizar os seus serviços, garantindo um stream de qualidade para os seus utilizadores.

Referências

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