A evolução da tecnologia Wi-Fi

Samuel Pinto dos Santos
MCTW_TDW
Published in
7 min readJul 29, 2022

Antes de mais, o que é o Wi-Fi?

Bem… Wi-Fi é uma palavra inglesa, mas segundo o dicionário português, Wi-Fi é…

“uma tecnologia de comunicação de informação sem uso de cabos elétricos, nomeadamente através de frequências de rádio, infravermelhos, etc.”

wifi — Dicionário Online Priberam de Português

Por outras palavras, Wi-Fi é o sinal de rádio enviado de um router para um dispositivo próximo, que traduz o sinal em dados que se podem utilizar. O dispositivo transmite um sinal de rádio de volta para o router, que se liga à Internet.

O conjunto destas ligações forma uma rede Wi-Fi, que é simplesmente uma ligação à Internet que é partilhada com múltiplos dispositivos numa casa ou empresa através de um router. O router funciona como um hub para transmitir o sinal de Internet a todos os seus dispositivos com Wi-Fi. Isto dá flexibilidade aos utilizadores para permanecerem ligados à Internet enquanto estiverem dentro da área de cobertura dessa mesma rede.

Wi-Fi Official Logo

O que é que significa o termo Wi-Fi?

É um debate entre a comunidade. Há quem diga que Wi-Fi não significa nada e que o termo foi criado por uma empresa de marketing porque a indústria estava à procura de um nome de fácil utilização. É verdade que a Wi-Fi Alliance, organização mãe da tecnologia, contratou a Interbrand, empresa de marketing, para criar um nome que fosse “um pouco mais apelativo do que “IEEE 802.11”. Mas segundo Phil Belanger, membro fundador da Wi-Fi Alliance, o termo Wi-Fi foi escolhido de uma lista de dez nomes que a Interbrand propôs.

O nome é frequentemente escrito como WiFi, Wifi, ou wifi, mas estes não são aprovados pela Wi-Fi Alliance. A IEEE é uma organização separada, mas relacionada com a Wi-Fi Alliance, e em várias ocasiões declarou que “WiFi é um nome curto para Wireless Fidelity” — como pode ser visto neste documento oficial publicado no website mas entretanto retirado:

Wayback Machine (archive.org)

Normas Wi-Fi

Desde que o Wi-Fi foi apresentado em 1997 (protocolo IEEE 802.11), a tecnologia sofreu várias revisões e melhorias ao longo dos anos, resultando em velocidades de transmissão mais rápidas, fortes e estáveis. Como estas melhorias são adicionadas à tecnologia original, ficam marcadas pelos seus sufixos (802.11b, 802.11a, 802.11g, etc.). Na tabela abaixo estão listadas as versões mais importantes do protocolo que foram lançadas desde a sua introdução.

Tabela ilustrativa das várias normas Wi-Fi
Tabela adaptada de: IEEE 802.11 — Wikipedia

802.11 (1997)

Foi a primeira norma sem fios, que foi lançada em 1997, mas que está agora obsoleta. Esta define o protocolo e a interligação compatível dos equipamentos de comunicação de dados, através do ar, numa Local Area Network (LAN). Como primeira versão da tecnologia, este protocolo apenas permitia ligações com um máximo de 2Mbps de taxa de transmissão. Este protocolo não foi amplamente aceite devido a questões de interoperabilidade, custo e falta de desempenho, quando comparada com uma ligação por cabo, que era o mais utilizado na altura.

802.11b & 802.11a (1999)

A norma 802.11b utilizava a mesma frequência de 2,4 GHz que a norma 802.11 original, mas suportava uma taxa máxima de 11 Mbps e tinha um alcance de até 50 metros.

O aumento dramático de desempenho desta nova norma, juntamente com a redução substancial dos preços dos componentes necessários para a suportar, levou a uma ampla aceitação da 802.11b como uma tecnologia de rede local sem fios.

No entanto, a norma 802.11b partilhava a mesma de frequência de outras normas sem fios. Assim, dentro de uma casa doméstica, dispositivos sem fios tais como fornos, micro-ondas, dispositivos Bluetooth e telefones sem fios, causavam interferências com a rede Wi-Fi, resultando em quebras nas taxas de transmissão de dados e instabilidade na rede.

Apesar de ter sido lançada no mesmo ano, a norma 802.11a surgiu posteriormente à norma 802.11b, e introduziu algumas vantagens que a marcaram pela positiva.

Esta norma funcionava na frequência de 5 GHz, menos congestionada, tornando-a menos propensa a interferências, mas com menor alcance. Para a tornar ainda melhor, a largura de banda era muito superior à 802.11b, com um máximo de 54 Mbps.

Apesar da aparente preferência por esta última, a adesão à nova e teoricamente melhor norma não foi tão forte porque os dispositivos 802.11b eram mais baratos e tornaram-se, muito rapidamente, populares no mercado de consumo doméstico. Por isso, a norma 802.11a era utilizada principalmente em aplicações comerciais que necessitavam da performance extra em locais mais congestionados.

802.11g (2003)

Tal como a 802.11a, esta nova norma, lançada em 2003, suportava uma largura de banda máxima de 54 Mbps, mas tal como a 802.11b, funcionava na frequência de 2,4 GHz e, por isso, estava sujeita aos mesmos problemas de interferências).

A grande vantagem e o porquê de ter sido um grande sucesso é que esta norma era compatível com dispositivos que comunicavam na norma 802.11b. Assim, como a antiga norma já tinha penetrado o mercado e estava presente nas casas dos consumidores, com a adoção gradual da norma 802.11g, estes desfrutavam de um avanço significativo nas velocidades e cobertura Wi-Fi. Nesta época, os routers sem fios iam rapidamente melhorando, tornando-se equipamentos com maior potência e melhor cobertura do que as gerações anteriores.

802.11n | Wi-Fi 4 (2009)

Seis anos depois, se os clientes achavam que a tecnologia já era boa, ficou ainda melhor! A norma 802.11n chegou num ápice aos clientes, aliciando-os com velocidades até dez vezes mais rápidas e muito mais estáveis, operando em ambas as frequências (2.4Ghz e 5Ghz).

802.11ac | Wi-Fi 5 (2013)

Poucos anos depois, em 2013, a largura de banda volta a aumentar, desta vez exponencialmente, alcançando velocidades de até 6.8Gbps (1Gbps = 1,000Mbps). Esta nova norma, ainda presente nos dias de hoje, funciona exclusivamente na frequência de 5Ghz e, para além de melhorar significativamente as capacidades da norma anterior, introduziu uma tecnologia (na altura revolucionária) chamada beamforming, que consiste na transmissão dos sinais de rádio direcionando-os ao dispositivo que está a consumir essas ondas. Assim, como é fácil de entender, a qualidade, estabilidade e força da ligação foram melhoradas em todos os dispositivos que suportavam a norma.

802.11ax | Wi-Fi 6 & 6E (2019 & 2020)

Mais recentemente, em 2019, a nova geração de Wi-Fi chegou e, com ela, chegaram obviamente muitas melhorias e benefícios para os utilizadores. Praticamente qualquer dispositivo tecnológico comprado hoje e que se ligue à internet, suporta esta norma. Esta, para além do óbvio aumento da largura de banda, suporta ambas as frequências 2.4 e 5Ghz, e trouxe melhorias no que toca à congestão da rede em espaços muito saturados, que quer queiramos quer não, são muito comuns nesta era onde estamos rodeados de dispositivos ligados à Internet.

Com tantos dispositivos ligados em todo o lado, em 2020, foi anunciado que iria ser permitido ocupar uma nova frequência para a propagação do sinal Wi-Fi — 6Ghz. Rapidamente foi introduzida uma nova norma para diferenciar os dispositivos que conseguem comunicar nesta frequência — Wi-Fi 6E. A mais recente norma ainda está em expansão no mercado e tudo indica que se tornará o standard nos próximos anos, uma vez que transporta consigo todas as vantagens do Wi-Fi 6 normal e é compatível com as normas mais antigas. Para além disso, como consequência do uso da nova frequência, existe uma redução significativa de interferências do sinal, o que beneficia imenso os utilizadores.

Infográfico com a evolução das normas Wi-Fi
Fonte da Imagem: The History of WiFi | Purple.ai Blog

O Futuro

Em retrospetiva, as normas Wi-Fi foram acompanhando sempre as necessidades dos utilizadores para a época em questão. Com a expansão do mundo tecnológico e digital desde o final do século passado, estamos numa fase de rápido desenvolvimento de soluções que acompanhem o ritmo de evolução da indústria. Com o Wi-Fi 6E, e com o seu suporte para a frequência de 6Ghz até agora não tão utilizada, os utilizadores devem estar muito bem servidos para os próximos anos. No entanto, já se especula sobre a próxima norma, que tudo indica, será lançada em 2024. Algumas das melhorias esperadas para o Wi-Fi 7 são:

Velocidade ainda mais rápidas

Maior alcance

Tráfego descongestionado

Suporte para múltiplas frequências ao mesmo tempo

É realmente fascinante viver nesta era de evolução tecnológica tao rápida que, muitas vezes, (como aconteceu com o Wi-Fi 6) num espaço de apenas um ano, uma tecnologia torna-se obsoleta.

(1450 palavras)

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