Afinal, como chegamos até o Metaverso?

Rejane Fernandes
MCTW_TDW
Published in
6 min readJul 25, 2022
Mark Zuckerberg e o seu avatar no Metaverso

Em outubro de 2021, a Meta, uma das maiores companhias tecnológicas do mundo, anunciou o interesse em construir um universo virtual imersivo — o Metaverso. As palavras deixadas por Mark Zuckerberg, CEO da empresa, deixaram claro que esta nova tecnologia em desenvolvimento irá revolucionar a forma como a internet funciona hoje em dia:

“We believe the metaverse will be the successor to the mobile internet, we’ll be able to feel present — like we’re right there with people no matter how far apart we actually are.”

(Retirado de https://www.theguardian.com/technology/2021/oct/28/facebook-mark-zuckerberg-meta-metaverse)

Obviamente, o assunto está a ser muito comentado e muito se especula sobre como poderá ser este universo; quais seriam as reais perspetivas futuras para a internet e, ainda, quais seriam as consequências e os benefícios de algo que mudaria complemente a nossa forma de interagir com os outros.

É de salientar que não é de hoje que uma grande empresa pode influenciar o modo como as concorrentes adotam as suas estratégias. A Apple, por exemplo, ao retirar a entrada jack 3.5mm dos seus iPhones, deu o chamado “passo da coragem” para que as outras empresas também o fizessem. A Meta, como a empresa que introduziu uma tecnologia que alterou a forma como os seres humanos se conectam entre si, anos atrás, através do grande sucesso da sua rede social, o Facebook, poderá agora conseguir ditar mais uma tendência poderosa no mundo da tecnologia?

Para perceber quais as possibilidades do Metaverso é preciso compreendê-lo primeiro

O termo “metaverso” apesar de estar em alta agora, já foi introduzido há algumas décadas e veio originalmente do livro de ficção científica, considerado um clássico do género Cyberpunk, intitulado “Snow Crash”, de Neal Stephenson, lançado em 1992. No livro, o enredo principal é a interligação de duas realidades: o mundo real e o Metaverso, uma realidade virtual, onde os indivíduos daquele universo têm a possibilidade de escolher avatares que os representem, tendo a opção de terem uma vida completamente diferente da que têm no mundo real, caracterizado como uma distopia.

Outro antecessor importante para compreender este novo universo é chamado Second Life, um ambiente virtual que foi bastante popular na primeira década dos anos 2000. No jogo os seus utilizadores podiam criar avatares e interagir de inúmeras formas com o ambiente digital criado. A vida social dos avatares presentes no jogo simulava quase que de forma idêntica à interação entre os seres humanos na vida real.

Avatares do Second Life. Fonte da Imagem

Na prática, o Metaverso idealizado pelo Facebook pouco difere destes dois exemplos, a ideia caracteriza-se pela integração de um mundo imersivo 3D. Um caso prático desta imersão seria pegarmos no exemplo de uma simples tarefa de fazer uma compra online. Atualmente, interagimos e utilizamos aplicações ou websites bidimensionais num telemóvel, ou num portátil para realizar tal ação. Já no Metaverso, o site poderia ser transformado num prédio tridimensional onde seriamos capazes de explorar e interagir virtualmente com aquele ambiente, ou então, simplesmente “saltarmos” de uma loja online (ou edifício) para outra, mas de forma tridimensional.

Desta forma, o conceito do Metaverso caracteriza-se por proporcionar uma internet ainda mais interativa e imersiva. Passar tempo a socializar, trabalhar, e aprender, ou seja, realizar tarefas do quotidiano seria possível e proporcionado pela integração de tecnologias como Augmented Reality (AR), Virtual Reality (VR) e Mixed Reality (MR).

Idealização de uma partida de ténis de mesa no Metaverso
Idealização de uma partida de ténis de mesa no Metaverso — Fonte

Percorremos um bom caminho até chegarmos no nível de interação que o Metaverso poderá proporcionar

A relação e forma de interação que temos com a internet evoluiu consideravelmente ao longo dos anos e esta pode ser explicada através das características das diferentes fases da World Wide Web — conhecidas popularmente como Web 1.0, Web 2.0 (a qual estamos atualmente) e a já discutida Web 3.0, no qual o Metaverso poderá estar maioritariamente presente.

Web 1.0 — Uma pilha de páginas estáticas

Yahoo em 1994 — Fonte da Imagem

Os primórdios da internet era muito diferente do que conhecemos hoje em dia, na sua primeira fase, conhecida popularmente como Web 1.0, que se estendeu entre 1991 e 2004, a internet resumia-se numa pilha de páginas estáticas, o que significava podermos pesquisar por algo nos motores de buscas mais famosos da época, eram mostrados uma listagem de websites onde podíamos ir buscar informações e era isto. Não havia maiores interações, o utilizador e a relação que o mesmo tinha com a internet era considerada, sobretudo, passiva.

Web 2.0 — Finalmente podemos interagir!

Página do Facebook em 2010
Página do Facebook em 2010 — Fonte da Imagem

Já na segunda fase de evolução da internet, que teve início em 2004, veio para transformar definitivamente a comunicação entre os seres humanos. Através de plataformas de criação de conteúdo como blogs e redes sociais, surgiu uma nova forma de interação e colaboração. Os utilizadores, que outrora apenas consumiam a informação de forma passiva, passaram a poder criar, interagir e se comunicar de forma ativa, quer com os outros utilizadores, quer com o próprio conteúdo.

Web 3.0 — É aqui que entra o Metaverso

A Web 2.0 que vivemos e experienciamos hoje em dia, apesar de ter proporcionado uma revolução na comunicação humana, é onde as empresas e desenvolvedores criam os seus produtos e serviços online, como as redes sociais, mas de forma centralizada, o que significa que estas empresas e desenvolvedores têm direito sobre tudo naquelas plataformas, enquanto os utilizadores pouco têm liberdade e, principalmente, posse sobre os conteúdos que criam.

Por este motivo, há muitas questões de segurança e privacidade em jogo, a posse dos nossos dados pelos grandes monopólios da internet sempre foram bastante discutidas neste anos de evolução da Web 2.0, pois trouxe sempre um sentimento de insegurança e incapacidade para os utilizadores. Além disso, grandes escândalos como o caso Cambridge Analytica e Facebook revelam ainda mais a fragilidade de uma internet centralizada.

Já na Web 3.0 os utilizadores podem criar o seu conteúdo enquanto realmente os possuem e os monetizam, através da utilização de blockchain e criptomoedas. No sistema blockchain, os utilizadores interagem com serviços online na rede descentralizada peer-to-peer, em vez de uma única empresa detentora daquele serviço, como atualmente temos na internet centralizada. O total controlo dos objetos e conteúdos criados digitalmente, tal como a forma que estes dados são partilhados é, portanto, devolvido aos próprios utilizadores através de chaves privadas, como é o caso dos NFTs, garantindo a segurança e privacidade daquilo que os utilizadores detêm.

NFTs, um dos produtos digitais comercializados na BlockchainFonte da Imagem

A Web 3.0, portanto, seria a ferramenta que possibilitaria integrar o Metaverso, através da blockchain e das inovações que advém desta nova Web, podendo ser criada dentro do ambiente imersivo uma economia totalmente descentralizada, característica da Web 3.0.

O futuro é promissor

Apesar de algumas opiniões dizerem que a estratégia do Facebook em migrar para o Metaverso seria principalmente para tirar o foco dos escândalos que a empresa está envolvida, o facto é que ao trazer a ideia para a consciência mainstream, faz com que novas oportunidades de criação e inovação sejam abertas.

Portanto, as possibilidades tornam-se infinitas, principalmente para aqueles que trabalham com tecnologia. Os principais pilares do Metaverso, como a realidade aumenta, mista, virtual e inteligência artificial estarão cada vez mais em alta, o que significa que qualquer uma destas áreas vai ser muito requisitada nos próximos anos.

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