Gravado na Memória

Irla Vaz
MCTW_TDW
Published in
8 min readJul 29, 2022

Se o objetivo do texto fosse falar sobre a origem dos dispositivos de armazenamento, provavelmente iríamos começar por acontecimentos da década de 40, 50, e 60, quando a maioria de nós, meros mortais, ou não tinha nascido, ou nem imaginava o que era um computador, quando com sorte, ouviram falar do Atlas. Mas como referido, esse não é o objetivo. Por isso, vamos dar um salto temporal, e vamos focar este texto nos dispositivos de armazenamento portáteis.

Ode à Disquete

3 disquetes de difetentes tamanhos e modelos
Diferentes tamanhos e modelos de disquetes

Para começar a conversa, vamos falar sobre as disquetes. Embora este dispositivo tenha entrado no mercado na década de 70, foi bastante popular até a década de 90, que é também quando a autora que vos escreve começa a ganhar lugar de fala.

Com 8 polegadas (20,32 cm), e um espaço de armazenamento de 80 KB, o dispositivo de 1971 foi evoluindo com o passar das décadas, tanto em relação ao tamanho da sua estrutura física, quanto à sua capacidade de armazenamento, sendo o modelo mais popular o de 3,5 polegadas (8,89 cm), e 1,44 MB de capacidade.

A proposta de um dispositivo de memória removível e portátil era tão promissora na época, que fez com que a disquete fizesse também parte da história das câmeras digitais. Uma das primeiras câmeras digitais lançadas no mercado foi a Mavica, da Sony, com resolução máxima de 0,3 megapixel, era possível tirar aproximadamente 10 fotos por disquete e passar essas fotos para um computador sem ser necessário cabo.

Breve vídeo demonstrativo da Sony Mavica MVC-FD73

A olhar pelos números assim, não parece nada extraordinário, uma vez que uma única fotografia tirada a partir de um smartphone pode facilmente ultrapassar a capacidade máxima dos modelos mais populares de disquetes. Mas tentem-se imaginar naquela época, mal se falava em armazenamento móvel, poder tirar 10 fotos e salvá-las em disquete era tão altamente quanto 10 fotos nestas câmeras instantâneas modernas tipo Instax (vendo pela perspetiva da tendência da fotografia analógica hoje em dia, é até irónico, mas deixemos essa discussão para um próximo texto).

Voltando aos dispositivos de armazenamento, vamos avançar! Embora os modelos mais populares de disquete não reflitam o ápice da capacidade de armazenamento alcançado pelo dispositivo, os de maior capacidade nunca chegaram a ter tanta popularidade, porque em paralelo tínhamos um concorrente no mercado que começou a roubar-lhe espaço: o CD-R e CD-RW, e para os mais íntimos, apenas CD.

Dez curiosidades sobre disquetes, que fizeram sucesso nos PCs dos anos 90 | Armazenamentos | TechTudo

Grande parte das pessoas pode não estar tão familiarizada com a disquete, ou no máximo só reconhecê-la como símbolo que é usado como ícone de “guardar” na maioria das tecnologias, mas o CD toda a gente conhece!

O eterno CD

Durante a década de 90, os CD-R (Compact Disc Recordable) e CD-RW (Compact Disc Recordable Rewritable), começaram a ganhar espaço como dispositivos de armazenamento por serem mais compactos e duráveis. Para além disso, com o advento da evolução tecnológica neste período, em pouco tempo os arquivos passaram a ocupar centenas de MB, ou seja, seriam necessárias várias unidades de disquetes para armazenarem arquivos assim, enquanto um único CD na sua capacidade padrão era capaz de manter 700 MB de dados, e logo nos anos seguintes ainda surgiu o DVD, que tinha capacidade de manter de 4,7 GB a 17 GB de dados (DVD-DL).

Ao contrário das disquetes, o armazenamento dos CDs/DVDs funciona por discos óticos, ou seja, os dados são escritos e lidos sobre a sua superfície através de lasers, e para isso, era necessário um leitor específico: uma unidade de disco ótica. Inicialmente os CDs eram utilizados para gravar músicas e filmes, pois na versão “-R” (Recordable) apenas era permitida a gravação de dados uma única vez, mas com a versão “-RW” (Recordable Rewritable), em que era permitido regravar e acrescentar novas informações, passaram a ser bastante requeridos para o armazenamento de dados, como backup.

Os discos óticos continuaram a ser aprimorados com o decorrer dos anos, e em 2006 foram lançados no mercado os discos Blu-ray, que tinham uma capacidade de armazenamento que ia de 25 GB a 128 GB, sendo capazes de armazenar vídeos em alta definição, e uma capacidade ainda maior para armazenar dados. Entretanto, assim como ocorreu com a disquete, enquanto esta tecnologia se ia aprimorando, uma nova ia surgindo em paralelo e conquistando o mercado, e desta vez, a tecnologia que vinha a avançar eram os flash drives.

Pen Drive, o favorito

No início dos anos 2000, os dispositivos de flash drive começavam a destacar-se, e logo surgiu aquele que viria ser o favorito do público, o memory flash USB, mais conhecido como pen drive. Não que inicialmente ele tenha sido um concorrente direto em nível de memória em relação aos CDs, pois a sua versão de entrada no mercado tinha apenas 8 MB. Mas a sua baixa capacidade de armazenamento inicial não o impediu de ganhar popularidade. As pen drives além de possuírem um tamanho bem inferior aos dos CDs, também apresentavam uma maior resistência, pois não corriam o risco de se partir ou arranhar e danificar a leitura do conteúdo, sendo assim muito mais seguros.

Uma pen drive pousada por cima de CDs
Estrutura física da pen drive com relação aos CDs

A popularidade era tanta, que não demorou para que os computadores passassem a incluir entradas USB na sua parte frontal, e concomitantemente ao sucesso, ia-se investindo no aprimoramento de memória. Em 2009 era possível encontrar algumas pen drives de até 256 GB de memória, como era o caso da DataTraveler 300, da Kingston.

“The DataTraveler 300 will enable users to carry huge volumes of data with them everywhere they go — up to 365 CDs for example. That’s one album for every day of the year, and it demonstrates how far flash technology has developed” Kirsty Miller — Product Marketing Manager — Consumer, Kingston Technology Europe.

À medida que essas tecnologias foram evoluindo, o CD, como dispositivo de armazenamento de dados, foi caindo cada vez mais em desuso, ao ponto de os computadores mais modernos começarem a remover a sua unidade de disco ótica, pois ocupava demasiado espaço e já não era tão explorada.

Embora os fabricantes ainda estivessem a aprimorar a capacidade e armazenamento das pen drives, a popularidade e evolução das entradas USB permitiu também a ascensão de tecnologias como os HDDs externos, que fazem o processamento através de um disco rígido. Os HD externos supriam a necessidade extra de memória das máquinas, e serviam também para fins de backup e armazenamento mais massivo de dados. Os HDDs são de facto incríveis e superfuncionais, mas não chegaram a superar a popularidade das pen drives, por isso, não vamos dedicar um tópico específico a eles, esse parágrafo terá de ser suficiente. Porque embora tenhamos memória de sobra, aqui trabalhamos com limites de palavras. Por isso vamos avançar para o presente!

Na atualidade, existem pen drives de até 2TB!

“1 pendrive de 2TB equivale a 26.843.545,6 disquetes de 8 polegadas e se assumirmos espessura de 8 milímetros de cada um desses disquetes, eles ocupariam nada mais nada menos que uma pilha de 2,147,483 quilômetros de altura, daria para você ir a lua mais de 5 vezes. Ou dar incríveis 168,535 voltas ao redor da terra.” Ademar Junior

UOW, right? Se a pen drive ficou tão popular, e alcançou uma capacidade de memória tão brutal, deve-se estar a perguntar “Como é que não está toda a gente para lá e para cá com as suas pen drives?”. Obviamente não, não existe ninguém a fazer essa pergunta, porque se está a aceder à internet para ler este artigo, provavelmente conhece a tecnologia que tomou o posto de favorito da nossa geração… a Cloud!

Estamos nas NUVENS!

Uma ilustração com objetos de caracteristica humanóide, onde uma disquete preta com um sabre de luz em mãos está a dizer a clássica frase do Darth Vader para uma nuvem. A disquete diz “I am your father” e a nuvem responde “NOOOOOO!”
Meme do disquete reivindicando a paternidade da Cloud. | Fonte: Ideia de Marketing

Eu poderia estar a falar de dispositivos de armazenamento externos, mas no primeiro parágrafo, fiz uma escolha consciente quando usei a palavra “portáteis”, mas talvez tenha errado ao usar a palavra “dispositivo”, já que a atual protagonista não é propriamente um dispositivo. Na verdade, esse chega a ser um dos maiores pontos fortes do armazenamento em nuvem (Cloud), não depender de um dispositivo físico secundário.

Google Drive, Dropbox, iCloud, OneDrive, são atualmente as opções mais populares de armazenamento em nuvem do mercado, e certamente você usa uma ou mais dessas, isso porque cada uma delas tem uma perspetiva de abordagem diferente do utilizador, por exemplo, o Google Drive fornece para além do armazenamento de partilha de ficheiros, a criação de ficheiros diretamente na nuvem, o iCloud permite uma sincronização global entre todos os seus dispositivos iOS, o OneDrive vem incluído na aquisição do Office 365, e todos esses costumam oferecer um espaço de armazenamento inicial gratuito, podendo ser expandidos para 1 TB a 10 TB a depender do serviço e plano contratado.

Os 10 TB parecem uma quantidade de memória infinita, mas se pensarmos que em aproximadamente 35 anos saímos do limite de 1,44 MB das disquetes e alcançamos os 10 TB de armazenamento em nuvem, a definição de “infinita” parece questionável.

Como nesse tempo surgiram tantas tecnologias distintas para armazenamento, muitos podem imaginar que brevemente a Cloud se tornará obsoleta, mas eu acredito que não. Bom, não dá para prever o futuro, mas eu vejo no armazenamento em nuvem um grande diferencial. Enquanto os outros se preocupavam apenas em diminuir o tamanho físico dos seus dispositivos e aumentar a capacidade de armazenamento, a evolução do armazenamento em nuvem acompanha o cenário tecnológico, sendo peça fundamental do mesmo, evoluindo tanto em nível de mobilidade, como de conectividade. Todos os dispositivos ligados à internet fornecem dados, e o potencial da Cloud está justamente na escalabilidade do armazenamento (Vertical Cloud), gestão e aproveitamento desses dados pelas tecnologias à nossa volta (IoT). Mas vamos aguardar e ver o que o futuro nos promete.

Dos disquetes à Cloud

Referências e outros links interessantes

Memory & Storage | Timeline of Computer History
Tipos de dispositivos de armazenamento — Dropbox
Armazenamento: conheça as principais características de cada dispositivo
Na memória: relembre a evolução dos dispositivos de armazenamento | Listas | TechTudo
A Origem da Disquete
Mídias CD-R e CD-RW: como funcionam
40 anos de CD: A história do CD
Discos ópticos: o que são, para que servem e quais são os tipos? — Mania de Computação
History of the USB Flash Drive
7 vantagens de usar o armazenamento em nuvem na sua empresa — MJV
Evolução do armazenamento móvel
Kingston Unveils the World’s First 256GB USB Flash Drive

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