Linux naWeb

Ricardo Saraiva da Cruz
MCTW_TDW
Published in
8 min readJul 25, 2022

A dependência do mundo web em sistemas Linux

Logótipo Linux
Logótipo Linux (Fonte: Link)

Quando ouvimos falar de “sistema operativo”, lembramo-nos essencialmente de dois: Windows e MacOS, dominantes no que toca à utilização no computador pessoal, e Android e iOS para os smartphones.

Mas e quanto a Linux? Um sistema pouco conhecido fora da comunidade geek, mas que alimenta grande parte da web. Surpreendido? Neste artigo vou explorar o passado, presente e o possível futuro deste sistema.

Linus Torvalds explica o porquê de Linux não ser popular em desktops

Um pouco de História

No passado, os computadores eram um recurso caro e único. Face a isto, cada fabricante tinha o seu próprio sistema operativo para cumprir as necessidades para o qual fora desenhado.

O software UNIX, considerado o pai de todos os sistemas operativos, apareceu em 1969 com o objetivo de introduzir alguma conformidade. Na altura, foi adotado por universidades e instituições governamentais. Contudo, este software era pago, o que levou geeks com baixos recursos a procurar desenvolver o seu próprio sistema operativo baseado em UNIX. Esta altura ficou conhecida como a guerra de sistemas operativos UNIX visto que a empresa detentora dificultava a existência de variações a este sistema.

Em 1983, foi criado o GNU Project que tinha como objetivo replicar o sistema UNIX com a diferença de ser grátis e open source. Este projeto ganhou rapidamente popularidade, no entanto, faltava uma parte core, o Kernel, o sistema que gere recursos do computador, como memória, processamento, etc.

Em 1991, Linus Torvalds, face aos seus baixos recursos computacionais, decidiu criar um novo sistema mais leve, o Linux. O Linux não era na verdade um sistema operativo completo, mas sim um Kernel.

O que aconteceu nesta altura foi então a conjunção do GNU Project com o Linux Kernel, criando-se um dos sistemas operativos mais utilizados até ao presente, o GNU/Linux.

Distribuições de Linux

Como mencionado anteriormente, o Linux em si não pode ser considerado um sistema operativo. Existe alguma confusão e, na verdade, quando é dito que um computador usa Linux, na verdade utiliza uma das centenas de distribuições descendentes do GNU/Linux.

Como é um projeto grátis e open source, resultou na criação de variações para cumprir diferentes necessidades, quer de empresas, quer de pessoas curiosas.

Para os curiosos, aqui está uma timeline das distribuições.

As primeiras distribuições a aparecer, no início dos anos 90, tinham uma interface muito pouco apelativa, muito semelhantes ao que conhecemos hoje como a linha de comandos. A maioria destas distribuições são já consideradas históricas, e perderam o apoio da sua comunidade.

Imagem ilustrativa da distribuição MCC Interim Linux, criado em 1993
MCC Interim Linux 1993 (Fonte: Link)
Imagem ilustrativa da distribuição Softlanding Linux System (SLS), criado em 1992
Softlanding Linux System 1992 (SLS) (Fonte: Link)
Imagem ilustrativa da distribuição Yggdrasil, criado em 1992
Yggdrasil 1992 (Fonte: Link)

Atualmente, novas distribuições são criadas não só para desktop, mas também para servidores web, e até para Android, que utiliza Linux na sua base. Dependendo do seu propósito, a maioria tem já melhorias significativas face às antigas, quer sejam versões desktop com design mais user-friendly, quer versões para servidores com melhor performance.

Ubuntu

Um exemplo perfeito de distribuição que está continuamente em melhoria, é o Ubuntu. Esta distribuição é descendente da histórica Debian, criada por Ian Murdock em 1993.

Imagem da Interface da distribuição Ubuntu 22.04
Interface Ubuntu 22.04 (Fonte: Link)

O Ubuntu é uma distribuição largamente utilizada em desktops, sendo um ótimo ponto de partida para quem se quer iniciar em Linux. É também muito utilizada em servidores web, pelo que a sua utilização em desktop, ajuda na introdução aos servidores web.

Existem outras distribuições muito populadores como, por exemplo, red-hat, mais focada em uso empresarial porque promove mais segurança e consistência e Arch Linux para os que procuram um sistema operativo mais simples e costumizável.

Será que a internet pode sobreviver sem Linux?

A crescente popularidade do Linux deveu-se a muitos fatores mencionados anteriormente, no entanto, algo também influente foi o exponencial crescimento da internet nesta altura. Quando este boom aconteceu, grande parte dos sistemas eram UNIX ou UNIX-like, e por isso, é fácil de imaginar que o projeto GNU/Linux foi uma das bases para a construção da internet como a conhecemos hoje.

Apesar de continuar a ser uma das bases da internet, esta sobreviria sem o Linux. Existiram sempre alternativas exequiveis para o substituir. Contudo, já imaginaram o que seria pagar por uma licença de Windows para hospedarmos uma aplicação na internet? Para além disto, o Linux é uma alternativa mais leve e com melhor performance, não exigindo tantos recursos de hardware. Apesar de não ser recomendado para serviços complexos, um computador antigo e obsoleto pode funcionar como um servidor web de Linux para testes e experiências pessoais.

Para além dos servidores web, também os pontos de acesso à internet são relevantes para a classificação da sua importância. Quanto aos smartphones, pode-se dizer que o Linux é o vencedor. Surpreendido? Bem, os telemóveis Android que representam aproximadamente 85% do mercado, são construídos com base em Linux. Para além de computadores e smartphones, também o fenómeno Internet of Things (frigoríficos, torradeiras, etc), tem maioritariamente como base sistemas Linux.

Internet sem Linux é algo difícil de imaginar e que provavelmente nunca irá acontecer.

Algumas Estatísticas

Apesar do pouco reconhecimento de Linux, a verdade é que o Linux está em todo o lado.

Um exemplo perfeito é a própria Microsoft oferecer no seu catálogo de máquinas virtuais, máquinas Linux. Para além da Microsoft, também a Google utiliza Linux no seu sistema Android como vimos anteriormente.

Em termos de utilização, um sistema que há partida é pouco reconhecido, é na realidade utilizado por big tech companies como Windows, Google, Tesla, Apple.

Talvez tudo isto seja difícil de acreditar, mas aqui vão algumas estatísticas importantes:

  • Dos 25 websites mais utilizados, apenas 2 não utilizam Linux.
  • Do top 1 milhão de servidores, 96.3% utilizam Linux.
  • Em 2021, Linux corria em 100% dos 500 supercomputadores do mundo.
  • 85% dos smartphones utilizam Linux.

Para mais estatísticas surpreendentes, aconselho os recursos a seguir.

Influência no desenvolvimento Web

Vimos que o Linux é um sistema enraizado no mundo da web, e consequentenemte, tem influência para os seus desenvolvedores.

Existe um estereótipo muito conhecido no mundo da programação, que é:

“ Se és programador tens de utilizar Linux”

Embora não seja necessariamente verdade, na maioria dos casos é uma situação a ponderar.

Esta decisão depende muita da área de trabalho.

  • Para um designer UI/UX , talvez não seja a melhor opção, visto que o Linux tem incompatibilidades com alguns softwares.
  • Para um desenvolvedor de tecnologias Microsoft, o melhor é utilizar Windows.
  • Por outro lado, para engenheiros DevOps talvez faça sentido, uma vez que, provavelmente irão utilizar Linux para hospedar a sua aplicação. Este caso aplica-se em geral a muitas áreas do desenvolvimento, e daí existir este estereótipo, apesar de não existir uma necessária dependência.

Uma alternativa ao Linux, que tem o melhor dos dois mundos é o macOS que pode ser uma solução interessante e mais compatível para diferentes áreas de trabalho.

Algumas Desvantagens

Apesar de todos os aspetos positivos mencionados ao longo deste artigo, o Linux tem ainda algumas falhas que fazem com que não seja um sistema para todos:

  • Desencorajador escolher uma das centenas de distribuições disponíveis.
  • Curva de aprendizagem maior.
  • Incompatibilidade de software (Adobe, Figma, etc).
  • Jogos

Dos problemas aqui mencionados, o maior é a falta de compatibilidade de algum software essencial. Algum software plug-and-play disponível para Windows e MacOS, pode não existir em Linux, ou então possuir grandes dificuldades de instalação. Como o Linux tem uma baixa utilização em computadores, as empresas de software focam-se mais no desenvolvimento para Windows e MacOS, o que agrava cada vez mais a incompatibilidade.

Reflexões finais

Como vimos, o Linux é um gigante invisível que está enraizado no nosso dia a dia, sem nos apercebermos disso. Apenas pessoas com alguma literacia tecnológica é que percebem as possibilidades deste sistema.

Como utilizador dos três sistemas operativos aqui falados, posso afirmar que cada um tem os seus pontos fortes e fracos.

  • Windows — Sistema operativo para lazer, com maior compatibilidade de software e jogos (Pode ser utilizado para desenvolvimento de tecnologias Microsoft).
  • MacOS —Sistema leve e com boa performance. Para mim, é uma mistura entre Ubuntu e Windows, com muito software compatível, mas também muito focado no trabalho (Essencial também para desenvolvimento no ambiente Apple).
  • Ubuntu — Sistema muito leve e smooth. Proporciona um ambiente menos intrusivo comparado com os anteriores, e tem toda a eficácia que um programador procura.

Se ainda não estás convencido a experimentar Linux, no entanto, ficaste curioso, vê os recursos abaixo para ver mais algumas vantagens.

Conclusões e Futuro

Em suma, vimos que o Linux esteve diretamente ligado à forma como se construiu o que conhecemos hoje no mundo da web. Atualmente, continua a ser uma das principais escolhas em muitos mercados, devido à sua simplicidade e perfomance. Com a internet em contínuo desenvolvimento, e com novos dispositivos a terem acesso à internet, é de esperar que o Linux continue a ser uma das principais bases.

Quanto ao lugar onde mais falha, utilização em desktop, vemos também já alguns avanços. Cada vez mais começa a haver maior compatiblidade de software, e para outros problemas que vão surgindo, existem comunidades que suportam e corrigem estes erros.

Um exemplo do poder da comunidade é uma distribuição recente, PopOS, que tem vindo a obter melhores resultados em alguns jogos em comparação com Windows. Apesar de ainda não haver total compatibilidade com todos os jogos, quem sabe no futuro não existe uma enorme transição da comunidade gamer para Linux.

E por fim, se ficaste curioso em relação a Linux, give it a shot.

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