Uma nova era no desenvolvimento web: a revolução dos não programadores

Rejane Fernandes
MCTW_TDW
Published in
6 min readSep 21, 2022

O futuro do desenvolvimento web e mobile é repleto de expectativas, todos sabemos. Mas será possível um futuro onde não seja preciso escrever uma única linha de código?

Dominar uma linguagem de programação e, principalmente, ter a capacidade de transformar respostas aos problemas do mundo real em linhas de código não é algo relativamente fácil. No entanto, basta uma simples pesquisa no Google para encontrar uma enorme variedade de cursos de programação e, investir num desses, é opção para muitos que pretendem aprimorar os seus conhecimentos ou entrar de vez para o mundo do desenvolvimento.

E se dissessem para estas pessoas, ou até para aquelas que trabalham há anos no desenvolvimento web que o ato de escrever linhas de códigos poderia estar próximo de se tornar obsoleto? É aqui que entra o universo do desenvolvimento no-code — que tem expandido a velocidades gigantescas.

“Welcome to the age of no code” por Webflow [1]

Parece novidade, mas o no-code já é velhinho

A história do no-code começa com o Excel em 1985, sim, com o Excel. Com o software, a Microsoft deu aos seus utilizadores o poder de manipulação, análise e visualização de dados, sem que os mesmos precisassem escrever uma única linha de código. Com o passar dos anos, a necessidade de automatização foi se tornando cada vez mais necessária e, em 2003, nasce uma das maiores plataformas de construção de websites no-code dos dias atuais, o Wordpress — até o momento, 35% da internet utiliza a plataforma [2]. Atualmente, a ferramenta no-code de maior dimensão é o Google Sheets, com a integração na cloud, consegue atingir grandes públicos, fazendo parte de apps e automatizando workflows.

Uau, isto vai mudar o mundo!

O meu primeiro contacto, de facto, com o mundo no-code foi após terminar a minha licenciatura em Novas Tecnologias da Comunicação, quando tive a oportunidade de iniciar um estágio de verão como UX/UI Designer numa start-up cujo produto era uma plataforma que permitia que as marcas desenvolvessem aplicações móveis para as suas lojas, criadas inicialmente com o Shopify ou WooCoomerce (plataforma estas que já fornecem templates customizáveis de websites), apenas a fazer drag and drop de “blocos customizáveis”. Quase como montar um LEGO, sendo o resultado final totalmente decidido e feito pelo cliente.

Trabalhar e estar por dentro do desenvolvimento daquele produto, que simplificaria a construção de aplicações mobile, foi fascinante. A primeira impressão que tive foi que o desenvolvimento web, tal como o conhecemos nos dias atuais, complexo e demorado, estaria com os dias contados. Mas será que isto seria verdade? O no-code teria esse poder?

Gif — Batman thinking

Primeiro: no-code é programação de verdade?

Responder a esta pergunta é comparável a responder se Esports são desportos de verdade. Jogar uma partida de 45 minutos no League of Legends e 45 minutos de uma partida de futebol é algo completamente divergente, os esforços são diferentes e os objetivos também. Tal se aplica à programação e ao no-code. Quem procura o no-code não necessariamente deseja ser programador, procura, na verdade, construir um software no menor tempo e com o menor custo possível, como um MVP (Minimum Viable Product), por exemplo. Em poucos dias de dedicação seria possível criar [3]:

  • Um website totalmente responsivo, com CMS e outras funcionalidades integradas, através do Webflow;
  • Um e-commerce completo com o Shopify;
  • Aplicações móveis com o Thunkable;
  • Um simples website single page com o Carrd;
  • Entre muitos outros…
Universo no-code
Área das plataformas do no-code

Estas ferramentas têm reduzido a necessidade de tempo e qualificação requeridas para transformar uma ideia em algo concreto. Desta forma, esta capacidade não estaria limitada a apenas menos de 1% de engenheiros que conseguem escrever código. Além disso, a pandemia do Covid-19 veio trazer urgências e necessidades, quer para as pessoas, quer para as empresas. Uma dessas é a necessidade de acelerar o desenvolvimento de plataformas que são solução para problemas do mundo real, que vão desde a ferramentas de gestão, a meios de comunicação, a um website de um restaurante. Com o no-code, qualquer pessoa com um computador e acesso à internet conseguiria construir uma plataforma sem saber programar.

Há vantagens no no-code, claro…

  • Possui custos que “cabem no bolso”. O preço da subscrição de uma plataforma no-code é infinitamente inferior se compararmos ao valor da contratação de um full-stack developer. A assinatura de um plano no Webflow, por exemplo, varia entre $12 a $212 dólares, o que faz com que, em alguns casos, esta alternativa seja muito mais vantajosa.
  • Todos podem ser um desenvolvedor. Basta ter uma ideia, disponibilidade para dedicar alguns dias e tcharam! já poderá lançar um produto.
  • A customização é acessível. Por vezes, utilizar folhas de estilo para customizar cada detalhe de uma interface é dispendioso e demorado. Com as GUI (Graphical User Interface) das plataformas no-code é muito mais intuitivo e fácil para o utilizador comum modificar a interface do produto.
  • Acelera a produtividade. Quer na área de tecnologia, quer em outras áreas, sendo possível criar diferentes soluções para o uso no dia a dia de forma fácil, possibilitando uma maior produtividade e controlo de atividades recorrentes.

Mas há que se falar das desvantagens também…

  • As soluções podem ser limitadas. Pode ser tedioso trabalhar nos modelos já disponíveis, por não oferecem tantas possibilidades de design e implementação como desenvolver uma aplicação ou website de raiz possibilita. Por isso, pôr em prática alguma ideia extravagante com o no-code pode não ser possível. As construções dentro destas plataformas acabam por ficar “dentro da caixa”.
  • Não é recomendado para empresas de média e grande dimensão. Por possuir funcionalidades limitadas, algumas plataformas podem não cumprir todos os requisitos destas empresas, que requerem um nível maior de tecnologia. Uma solução seria por optar utilizar plataformas que fazem um mix de no e low-code, o que acresce o leque de possibilidades.
  • A curva de aprendizagem ainda é grande. Apesar de ser menor comparada à curva de aprender a programar do zero, aprender utilizar plataformas no-code ainda requer tempo e dedicação.

Dar um passo na acessibilidade é dar um grande passo no futuro

Apesar de muito debate e controvérsia que está a volta do assunto “programação vs. no-code” é inegável que o no-code promove acessibilidade, democratiza a tecnologia e dá oportunidade àqueles que não têm recursos, tempo ou disposição suficientes para aprender uma linguagem de programação. Por isso, é importante estarmos a volta de diversidade e saber aceitar as mudanças que o crescimento tecnológico possibilita. [4]

Reflexão final

Tendo em conta tudo que o mundo no-code oferece, conseguimos perceber que este é para um público específico, sendo principalmente para aqueles que querem construir um produto de forma rápida e fácil, como os pequenos empreendedores, por exemplo. Ter uma enorme variedade de plataformas, que cresce a cada dia, para que isto seja possível é incrível e prova que a tecnologia evolui para facilitar a vida das pessoas.

O facto é que, apesar das maravilhas e simplificações que o no-code podem trazer para o mundo, ele não substituirá a programação, nem os desenvolvedores. As grandes empresas continuarão a precisar de pessoas especializadas para cuidarem de seus bancos de dados enormes e para criarem softwares com demandas personalizadas, avançadas e complexas. E numa perspetiva mais inclusiva, num futuro próximo, o processo de desenvolvimento poderá não ser só desenvolvedores, em vez disso, será híbrida, com pessoas menos especializadas utilizando no-code para automatizar processos dentro de uma empresa.

Gif “just developed a website”

--

--