Luka Doncic: O futuro Rookie of the Year

João Almeida
Mundo Desportivo
Published in
9 min readDec 5, 2018

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Para quem gosta de basquetebol e não só segue a NBA como também a Euroleague e até a liga espanhola sabia que estava aqui alguém especial. Da elite que foi escolhida no draft 2018, quem o conhecia já sabia que era quase impossível falhar na NBA e que iria brilhar muito devido não só à sua qualidade de lançamento, mas essencialmente devido à sua capacidade enorme de passe e de criar jogadas para os colegas. Neste artigo irei por começar por contar a sua carreira até ao momento e também o porquê de vir a ser o ROY (Rookie of the year) da NBA.

Formação (Union Olimpija e Real Madrid)

Luka Doncic começou a sua formação no Olimpija Ljubljana, mas cedo o seu talento não conseguiu passar despercebido aos olhos das maiores potências europeias de basquetebol. Num torneio em Abril de 2012 em Roma, Doncic foi considerado MVP do torneio fazendo na final um impressionante triplo duplo contra a Lázio com 54 pontos, 10 assistências e 11 ressaltos. Mas até antes desse torneio já tinha começado o namoro do Real Madrid com o esloveno. Em Fevereiro de 2012, o Real Madrid recebeu Doncic emprestado para jogar a MiniCopa ACB desse ano e Doncic brilhou na final contra o Barcelona fazendo desde logo 20 pontos com apenas 12 anos de idade. O namoro com o Real Madrid tornou-se em casamento quando Doncic assinou com os galáticos em Setembro desse ano. O auge do seu período de formação surge em 2014/2015 em que Doncic, apesar de já jogar na equipa B do clube, participou nos jogos decisivos da equipa júnior nessa época e ajudou a equipa a ganhar todas as competições em que esteve envolvida como o Torneio de Madrid, Liga Espanhola e até a Liga Europeia Júnior, sendo MVP das 3 competições.

Carreira sénior: Real Madrid (2015–2018)

A 30 de Abril de 2015, Doncic estreou-se na equipa principal do Real Madrid com apenas 16 anos e 2 meses, sendo o 3º mais novo de sempre da história do clube, depois de Ricky Rubio (14 anos e 11 meses) e Ángel Rebolo (15 anos e 3 meses). O 1º toque de sempre do esloveno na equipa principal culminou num triplo. Seria o início de uma história cheia de títulos individuais e coletivos.

Na época de 2015–2016 começou pela primeira vez a época nos seniores do Real Madrid. Na sua primeira época apresentou números modestos com médias por jogo de 4.9 pontos, 2.8 ressaltos e 2 assistências. O Real Madrid foi campeão espanhol e vencedor da taça nessa época contando com a tripla imparável de Sergio Llull, Sergio Rodriguez e Jaycee Carroll.

Real Madrid a comemorar a conquista da Liga ACB 2016

Na época seguinte foi o ano da sua verdadeira afirmação. Tornou-se numa peça fundamental na equipa liderada por Pablo Laso ganhando inclusivamente lugar no 5 inicial. Numa época em que em termos coletivos os “blancos” falharam a conquista do título nacional e da EuroLeague, a equipa conseguiu revalidar mais uma vez a taça espanhola (4ª consecutiva). Em termos individuais foi uma ótima época, sendo considerado por diversas vezes o MVP da jornada da EuroLeague culminando na sua escolha unânime para o troféu “EuroLeague Rising Star”. Também conquistou o troféu de melhor Jovem para a Liga Espanhola (ACB).

A sua terceira e última época (2017–2018) na equipa principal do Real Madrid foi de longe a melhor da sua carreira quer em termos coletivos quer individuais. Vindo da enorme conquista do EuroBasket pela sua seleção, o esloveno pegou na batuta e levou o clube da capital espanhola às costas durante toda a época. Resultado? Vencedor da Liga Espanhola e da EuroLeague, só perdendo a taça Espanhola para o Barcelona na final.

Luka Doncic a festejar a conquista da EuroLeague contra o Fenerbahçe

Nesta mesma época foi considerado o MVP quer da Liga ACB, quer da EuroLeague, tendo como média nesta última 16 pontos, 4.9 ressaltos e 4.3 assistências por jogo. Tal como na época anterior acumulou aos troféus individuais já referidos o “EuroLeague Rising Star”, tornando-se o 3ª da história a repetir tal feito em anos consecutivos, e o troféu de melhor Jovem para a Liga ACB.

Seleção: Eslovénia (2016-)

Doncic a festejar a conquista do Eurobasket 2017

Luka Doncic estreou-se pela sua seleção em 2016 fazendo posteriormente parte do lote escolhido pelo selecionador Igor Kokoskov para o campeonato da Europa (Eurobasket) de 2017, que se realizou na Turquia, Israel, Roménia e Finlândia. A Eslovénia teve o melhor resultado da sua história ao vencer a competição e sendo 100% vitoriosa. A seleção eslovena ficou no grupo A, que se jogou na Finlândia, ganhando os 5 jogos do grupo. Depois na fase a eliminar para chegar à final Doncic e os seus companheiros bateram a Ucrânia, Letónia e a Espanha. Na grande final bateram a Sérvia de Teodosic e Jokic por 93–85. Doncic teve um papel importante na conquista (tanto que pertenceu ao 5 ideal da competição), mas o prémio de MVP foi para a estrela da companhia: o jogador dos Miami Heat Goran Dragic (na final o base marcou 35 pontos). Mas nem tudo é um mar de rosas. A seleção da Eslovénia irá estar fora do Mundial da China do próximo ano, muito por culpa do sistema inapto de qualificação (jogos de qualificação nos meses de Junho, Novembro e Fevereiro por 2 anos), pois os jogadores que estão inseridos na NBA e Euroleague não podem jogar esses jogos porque não podem ser dispensados dos seus clubes. Veremos se irão conseguir a qualificação para os jogos Olímpicos de 2020 em Tóquio.

NBA: Dallas Mavericks (2018-)

Dia 21 de Junho de 2018 ficará sempre na história do esloveno. Foi o dia do draft anual da NBA. Doncic foi a pick número 3 e escolhido pelos Atlanta Hawks que fizeram logo uma trade com os Dallas Mavericks por Trae Young que tinha sido a pick nº5. E dava-se assim o início da sua caminhada nos Mavs.

Dadas as potenciais equipas que o podiam escolher, os Mavs foram sem dúvida inteligentes na escolha porque Doncic poderá ser a peça que lhes faltava para relançar a equipa para os playoffs, nesta que talvez será a última época da eterna estrela da companhia Dirk Nowitzki. Já de seguida irei explicar o porquê de achar (e de já se estar a comprovar) que Doncic encaixa que nem uma luva nestes Mavs (e de ir ajudar os seus colegas também a atingir os seus potenciais) e de que isso o irá levar a ser o ROY deste ano.

Playmaking

A maior arma de Luka Doncic é o seu passe. A sua capacidade de criar uma jogada e encontrar um companheiro livre é incrível. Em momentos de transição, a sua capacidade de criar rapidamente uma jogada que leve a um cesto fácil é enorme. Desde o seu passe longo que consegue encontrar algum colega que esteja mais próximo do cesto ou com a sua velocidade irá chegar rapidíssimo ao ataque deixando não só vários defesas para trás como os restantes tentarão marcá-lo, o que deixará sempre alguém livre. Encontrando idealmente DeAndre Jordan para finalizar as jogadas com os seus conhecidos Alley oops. Jordan foi o 4º poste da NBA a melhor finalizar jogadas de transição na época transacta, daí Doncic ser o parceiro ideal para o ex-Clippers. Atiradores como Wesley Matthews ou Harrison Barnes também beneficiarão da capacidade de transição de Doncic, através dos open looks criados.

No jogo considerado normal (5x5), Doncic também é muito bom a criar jogadas para os colegas. Utilizando diversas vezes o pick and roll consegue passar, evitando assim as trocas de defesa, e criar possíveis situações de cestos fáceis ou de alley oop, não só de novo para o Jordan como também para Dwight Powell que não tem só a qualidade de finalizar de baixo do cesto, como também tem a virtude de conseguir lançar quer de 2, quer de 3, o que irá acrescentar grande qualidade ao jogo dos mavs.

Utilizando também o seu passe de gancho irá conseguir enganar muitos defesas permitindo muitas das vezes mudar rapidamente a bola de lado permitindo muitas das vezes a possibilidade dos seus colegas ficarem sozinhos e poderem lançar de 3 (Matthews, Barnes…) ou até percebendo que a vantagem está na área restritiva avançar para a penetração (Dennis Smith).

Outra das suas grandes capacidades é encontrar companheiros no canto e está na equipa ideal para isso já que Matthews é fortíssimo na marcação de triplos nessa zona do campo (45% de eficácia de lançamentos do canto na época passada). Harrison Barnes também tem a capacidade de meter triplos do canto, como já o comprovou não só nos Mavs como também nos Warriors, não esquecendo Ryan Broekhoff, que tal como Doncic também veio da Europa este ano onde provou ser um dos melhores shooters do continente europeu ao serviço do Lokomotiv Kuban. Não esquecendo que com Dirk Nowitzki e até com Maximilian Kleber (capacidade de marcar triplos, lançamentos longos de 2 e até debaixo do cesto), Doncic pode jogar e fazer jogar em qualquer zona da quadra.

Triplos

Apesar de na época anterior só ter atingido 31% de eficácia no lançamento de triplos, Doncic é um excelente executante tendo até vários triplos épicos na sua jovem carreira. A percentagem é baixa muito devido a más decisões de lançamento e dos constantes lançamentos longos de finais de períodos (coisas que eram constantes no Real Madrid), aspectos que irão melhorar com a idade, com o aumentar de número de jogos e do passar das épocas. Doncic já nos jogos de pré-época melhorou o seu registo apresentando 43% de eficácia e irá continuar a melhorar.

Jogar ao lado de outros grandes playmakers

Se Doncic fosse o único a criar jogadas seria uma época bastante complicada para o Rookie e para os mavs. Principalmente devido à sua incapacidade de se conseguir desenvencilhar de jogadores que numa situação de 1x1 são mais atléticos que ele, sendo que nesses momentos é normal a Doncic não saber o que fazer e driblar constantemente até realizar um passe para um colega ou um lançamento muito contestado em que a percentagem de acerto é diminuta.

Mas tendo como colegas de equipa Dennis Smith, Barea e até por vezes de Barnes e Devin Harris (embora sejam mais lançadores que criadores), Doncic não precisa de carregar sempre o fardo de criar ele a jogada da equipa. E mesmo se for ele a criar e Doncic não tiver conseguido o desequilíbrio pode sempre passar a bola a Dennis Smith que com a sua velocidade e explosão consegue quebrar qualquer defesa adversária.

Mas Doncic poderá beneficiar e muito das jogadas criadas por Smith ou Barea. Desde poder ter lançamentos sozinho de 2 ou de 3 pontos (enorme capacidade de “catch and shoot” (agarrar e atirar)) ou de até participar na pick and roll com um dos seus colegas que referi na frase anterior e ficar com o base da equipa adversária como marcador direto, beneficiando assim da sua maior estatura para atacar o cesto ao seu belo prazer. Tal como a história indica, o esloveno foi sempre melhor com um grande base ao seu lado, tendo no Real Madrid Sergio Llull, na seleção Goran Dragic e agora nos Mavs Smith e Barea.

Opinião Pessoal

Luka Doncic era e é o meu jogador favorito do draft de 2018. Já o seguia há algum tempo devido aos jogos do Real Madrid e da Eslovénia no Eurobasket. Um autêntico monstro em quase tudo o que faz e imparável quando está em dia sim e isto tudo com apenas 19 anos. Não escondo que como adepto dos Spurs gostaria que ele não tivesse ido para os Mavs, por questões óbvias da grande rivalidade texana, mas sinceramente acho que foi a escolha ideal para ele. Irá evoluir e seguir os conselhos da maior figura da franquia (o alemão Dirk Nowitzki), o que só irá beneficiar a ele e à cidade de Dallas que espera ansiosamente a conquista do 2º anel da sua história, feito só alcançado em 2011 frente aos Heat de LeBron James, sendo aí as grandes figuras dessa final Nowitzki e Barea. Não irá acontecer já esta época, mas pode estar a ser criado o mote para as épocas seguintes. Para esta época Doncic pode em termos coletivos almejar os playoffs e em termos individuais o ROY (tendo já sido eleito o ROY do mês de Novembro para a conferência Oeste), em que este último não tenho dúvidas que o irá conseguir (isto se o Ben Simmons deixar eheheh).

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