Por que a homeopatia é pseudociência?

Antonio Bertollo
Me explica ciencia
Published in
3 min readJan 19, 2021
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O que é?

O princípio básico da homeopatia é “similar cura similar”. Vamos exemplificar para uma melhor compreensão. Quando ocorre a mudança de tempo, muitas pessoas ficam congestionadas, com sintomas de rinite, olhos lacrimejando, certo? Como curariam esses sintomas com o princípio da homeopatia? Uma possibilidade é o extrato de cebola. Sim, porque o efeito causado pelos extratos de cebola são bem parecidos com os da rinite. Em suma, se uma substância causa o sintoma, ela pode curá-lo.

Um outro princípio que é levado em conta é a ultradiluição. Como assim? Voltemos ao nosso exemplo do extrato de cebola. Caso você já tenha cortado cebola uma vez na vida, você já deve ter passado pelo sofrimento de lacrimejar enquanto corta essa cebola, certo? Então, para a homeopatia, o extrato de cebola deve ser ultradiluído, porque dessa forma a solução homeopática não terá o efeito tão tóxico quanto ao da substância original.

Problemas científicos

Os problemas científicos relacionados à homeopatia têm início em seu próprio conceito de ultradiluição. A ideia base é que quanto maior a diluição do “princípio ativo”, maior a capacidade curadora. Calma, se você não entendeu, vamos exemplificar.

Algumas substâncias que são utilizadas para tratamento homeopático são diluídas, em ordem de grandezas, de 10³⁰ (praticamente uma gota da substância tóxica em um oceano). Segundo os homeopatas, a toxicidade da substância diminuiria e a capacidade curadora aumentaria. Além de ser completamente contra a lógica de qualquer princípio farmacológico, químico e bioquímico, não há evidência científica alguma que sustente tal afirmação.

Como é bem explicado no artigo referenciado abaixo, a maioria dos artigos publicados relacionados à homeopatia não passam de casos isolados, ou seja, experiências anedóticas que não possuem um acompanhamento clínico e que não apresentam a metodologia científica utilizada para ensaios clínicos.

Nesse ponto é importante lembrar que, mesmo em ensaios clínicos com o mais alto rigor da metodologia científica, são esperados falsos positivos ou negativos, simplesmente por uma chance estatística. Agora, imagina em ensaios sem acompanhamento, grupos de controle e todos os outros elementos básicos de ensaios clínicos?

A maioria dos ensaios clínicos de homeopatia são invalidados por várias falhas graves de metodologia. Algumas dessas falhas são: número amostral baixo, grupos de controle e execução pobre da metodologia.

Placebo

A maioria dos estudos sérios, que seguem toda a metodologia de ensaios clínicos e são apresentados em revistas científicas, mostra que os terapêuticos homeopáticos não possuem um benefício maior que o efeito placebo. Em um estudo publicado na The Lancet, revista científica já citada em posts anteriores, foram comparados mais de 100 testes feitos com terapêuticos homeopáticos com outros 100 testes feitos com drogas convencionais, para tratamentos semelhantes. O trabalho realizado conclui que quanto melhor a metodologia aplicada com os terapêuticos homeopáticos, maiores eram as chances de se concluir que os efeitos eram psicológicos e não biológicos.

Proibição, Brasil e o mundo

Recentemente as academias francesas pediram o fim da homeopatia no sistema público de saúde francês. Há anos o tratamento homeopático já não é coberto pelo sistema público de saúde inglês, bem como não são recomendados na Austrália. Nos Estados Unidos, são alvos de advertência, e, na Espanha, são alvos de ataques das autoridades da saúde.

Aqui no Brasil existe um forte lobby político ligado à homeopatia, fazendo com que a prática seja reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e incluída no SUS. Essas práticas e o lobby mantêm o país longe da tendência mundial do abandono da homeopatia.

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