Racismo, Ciência e Darwinismo social

Antonio Bertollo
Me explica ciencia
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3 min readNov 22, 2020
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Em 1859, Charles Darwin lançava o seu livro mais importante, que mudaria completamente a forma como vemos o mundo: “Sobre a origem das espécies por meio da seleção natural”. Em seus escritos, Darwin destacava a ideia de o mundo ser vivo, mutável, e teorizava sobre a crença de que homens e macacos são ramos diferentes de uma mesma espécie. Apresentava também a ideia de que os processos de mutações são lentos, graduais e que o dispositivo de mudança é a seleção natural.

Nesse contexto de fim do século 19 e início do século 20, diversas movimentações para o fim da escravidão pipocavam por todo mundo e não demorou muito para que “teóricos” racistas utilizassem argumentos para “aplicar” as leis da teoria da seleção natural de Darwin na vida e sociedade humana.

Como bem afirmam Étienne Balibar e Immanuel Wallerstein, “não há racismo sem teoria”, e, por isso, Jay Gould, um dos “teóricos” mais importantes do Darwinismo Social, dizia que os “seres humanos são, por natureza, desiguais, ou seja, dotados de diversas aptidões inatas”. Portanto seria normal que os brancos e mais ricos tivessem sucesso, ficassem mais ricos, tivessem acesso ao poder social, econômico e político. Gould, ainda concluiu que “os grupos oprimidos e em desvantagem — raça, classes ou sexos — são inatamente inferiores e merecem ocupar essa posição”.

A ciência produziu um discurso de autoridade de que poucas pessoas têm a condição de contestar essa situação, com exceção daqueles que estão inseridos nas instituições em que a ciência é produzida. Durante esse período, é importante ressaltar que o Darwinismo Social concorreram em diversas áreas da ciência.

A genética considerou que a definição e a hierarquização das raças se baseavam em caracteres aparentes, como a cor da pele, textura do cabelo e forma do crânio. Na psicologia e neurologia, buscava-se a todo tempo comparar rendimento intelectual em testes de QI e de aptidões, em diversas outras áreas da ciência, argumentos racistas eram utilizados para justificar “resultados” encontrados. de argumentos racistas para justificar “resultados”.

Por isso, jamais se pode desprezar o impacto de filósofos e cientistas para a construção do colonialismo, Nazismo, racismo e Apartheid. O Darwinismo Social foi utilizado como base também para os diversos discursos de eugenia que pairavam pelo século XX.

Aqui no Brasil, o racismo científico contou com uma grande participação das faculdades de medicina, das escolas de direito e dos museus de história natural. O mito do Darwinismo Social perdeu forças no Brasil no século XX, mais especificamente na época de Vargas, por meio do discurso da democracia racial. A partir desse momento, teorias envolvendo ciência e cultura fundiram-se em um complexo sistema de ideias que sustenta as práticas racistas presentes no país até hoje.

Referências:

BOLSANELLO, Maria Augusta. Darwinismo social, eugenia e racismo “científico”: sua repercussão na sociedade e na educação brasileira. Educar em Revista, n. 12, p. 153–165, 1996.-+

ALMEIDA, Silvio. Racismo estrutural. Pólen Produção Editorial LTDA, 2019.

SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, p. 99–133, 1993.

FANON, Frantz. Racismo e Cultura. I° Congresso dos Escritores e Artistas Negros, Paris, Présence Africaine, 1956 .

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