As gêmeas franco-cubanas Lisa-Kaindé e Naomi Díaz falam sobre as misturas culturais de Cuba, França e Brasil, e compartilham referências de jazz e MPB.

Crédito: David Uzochukwu

O duo Ibeyi já é nosso queridinho há um bom tempo. As gêmeas franco-cubanas Lisa-Kaindé e Naomi Díaz foram capa da edição do MECAJournal em abril de 2018.

De volta ao Brasil para uma participação mais-que-especial no show do rapper Emicida durante o Rock in Rio, quando cantaram os singles “Hacia El Amor” e a recém-lançada “Libre”, as cantoras esbanjaram talento e pluralidade. Em entrevista exclusiva ao MECA, elas falam sobre a diversidade e similaridade que enriquece o trabalho primoroso das artistas, com uma mistura impecável de ritmos africanos e referências francesas.

Nós falamos sobre a Liniker antes de começar essa entrevista. Quem são as suas referências musicais brasileiras?

“Não é tão forte quanto gostaríamos que fosse. Mas nós sempre conhecemos mais e mais artistas. Nós sempre escutamos música brasileira. Nós amamos Seu Jorge, Elis Regina… Quando aprendi jazz, lembro que ela me ajudou a entender o auge. Como ela consegue fazer isso?! É como Allen F. John. Super fluído. Sempre estudei sobre isso e é maravilhoso. Você sabe, nós temos Candomblé, Aruba… e é engraçado como todos esses ritmos tradicionais tão diferentes são ao mesmo tempo tão familiares e têm a mesma história.”

Crédito: Reprodução/Instagram

Como vocês sentem França e Cuba na vida de vocês?

Naomi: “Ah, são opostos. É bom ter os dois porque aprendemos muito mais e sabemos muito mais. Mas é realmente diferente.”
Lisa: “Sabemos que essa experiência é uma benção, somos muito sortudas. Nos sentimos sortudas por termos duas culturas tão diferentes e ricas. E sim, nós literalmente voamos para visitar os dois lugares e isso você consegue escutar na nossa música, você sente a divisão de culturas opostas.”

Se a música de vocês fosse um rio, qual seria? Por quê?

Lisa: “Ai, meu Deus! Nossa música é mais oceano…”
Naomi: “Então a questão seria: qual oceano?”
Lisa: “Não importa, são todos, eu acho. Assim que deveria ser. Toda água, todos os rios. Todos conectados com tudo. Estamos em todos os lugares e um dia vamos submergir. Ai, meu Deus, isso soa estrondoso. Acho que é isso!”

Como ser uma mulher inspira você na música?

Lisa: “É maravilhoso ver as minorias tendo cada vez mais e mais poder. Não apenas na música, mas na indústria, tomando decisões como indivíduos — e essa é a maior parte da mudança atual. Nós vemos pessoas próximas incríveis, amigos e artistas que são poderosos e estão expandindo, expandindo! Agora, vejo que estamos fazendo a mesma coisa que as mulheres mais velhas que a gente fizeram e isso é muito legal.”

Na música “Libre”, com o Emicida, vocês cantam sobre liberdade. O que liberdade significa para vocês?

Lisa: “Não sentir medo. Mas isso quem disse foi a Nina Simone. Você é livre quando não sente medo. E é fundamental para nós, humanos, não sentir medo. Quando nós estamos no palco, nós pedimos por esse momento sem medo e é o que queremos para quem está nos assistindo. Nós temos uma música chamada “Deathless” (com Kamasi Washington) e fazemos todos gritarem “AQUÍ SOMOS LIBRES!”, porque por um segundo, naquele lugar, quando gritamos e escutamos todo nosso público gritando junto, nós estamos todos juntos, não temos medo e vamos manter esse sentimento porque acreditamos que deve ser assim. É verdade: medo é um sentimento importante, mas ele deixa as coisas mais difíceis. É como se fossem muros , mas temos que pressionar eles e realizar, criar em cima deles. Claro que a sociedade cria muitos muros, mas nossas personalidades podem criar algo maior.”

Esta matéria foi escrita pela produtora de conteúdo Bruck Nogueira.
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