A potência do “Rito de Passá” de MC Tha

O funk brasileiro está com os pés no futuro por causa dela. A cantora paulistana MC Tha foi uma das estrelas do MECAInhotim com sua mistura contagiante de funk, MPB e R&B, repleta de letras positivas e dançantes

Ela diz que tem alma velha. Mas a sensibilidade de olhar e entender o antes se projeta num futuro imenso. Desde a infância no extremo leste de São Paulo, MC Tha, 26, foi guiada pela música. Ela tinha 15 anos quando se apresentou pela primeira vez em um baile funk. Em 2016, estreou com o single “Pra Você”. Desde então, envolveu a tudo e a todos com seu furacão, fortalecida por sucessos como “Bonde da Pantera” e “Valente”.

Agora, abrimos caminhos para “Rito de Passá”, EP de estreia lançado em junho. No MECAInhotim, ela apresentou músicas novas e contagiou o público. Sua mistura deliciosa de funk, MPB e R&B, abençoada pela força da umbanda, é mágica. Em bate-papo com Débora Stevaux, MC Tha comenta sobre sua participação no festival e sua formação como artista que está mudando o funk brasileiro.

Como a música te move? “Eu vivo da música, então tudo o que eu faço é voltado à música. Interiormente, a música me move porque me ajuda a expressar o que eu não consigo dizer. Consigo botar para fora muita coisa compondo e, depois, cantando. O que a Thais não consegue dizer, a MC Tha diz. E isso alivia muita dor e outros sentimentos guardados.”

Quais foram suas principais influências para fazer o disco “Rito de Passá”? “Por mais que sinta todo esse empoderamento, quando eu me pegava ouvindo alguma coisa, ficava insegura. Achava que o que eu estava fazendo não era tão bom. Por isso fiquei um tempão sem ouvir coisas novas. Procurei ficar um pouco distante. Mas é claro que ouvi o maravilhoso “Pajubá”, da Linn da Quebrada, e o disco incrível da Duda Beat, “Sinto Muito”.”

Onde estão suas raízes musicais? “Sou muito apegada ao que foi lançado no passado. Costumo até dizer que a minha alma é um pouco velha. Eu gosto muito de ouvir músicas da Tropicália, samba e funk antigos. É por isso que as minhas composições têm essa fórmula da música brasileira no jeito de falar as coisas. Esse é um reflexo de tudo que eu gosto de ouvir.”

Qual o funk antigo dançante que você mais curte? “Foi na festa da escola que tudo começou, eu olhei pra ela e ela me olhou” [canta um trecho de “Estrada da Posse”]. Eu amo essa música! Quando escrevi “Bonde da Pantera”, quis descrever um baile funk dos anos 90. Tem quem ache que estou sendo sensual na letra, mas não. Porque nos anos 90 as pessoas iam para o funk com o bonde, né? E davam nomes para o seu grupo. Não sei se você já foi num baile funk, mas é a coisa mais quente do mundo! [risos]”

Qual foi seu maior Rito de Passagem? “Eu tinha 12 anos quando o Douglas, meu irmão mais velho, morreu num acidente de moto. Foi o Dimis que me criou e me incentivou a gostar de música. Eu ouvia muito rap nacional por causa dele, e foi ele quem descobriu que eu sabia cantar. Eu pegava o radinho de fita e me gravava cantando [se emociona]. Um dia ele saiu mostrando para todo mundo do bairro: ‘Olha, a Thaís canta bem!’ Nunca me enxerguei como artista, até hoje tenho dúvidas… Um dos principais “Ritos de Passá” foi lidar com toda essa questão familiar e seguir sem o meu irmão.”

Como foi tocar no MECAInhotim? “Foi incrível. Tinha uma galera que me conhecia, e percebi que o público estava bem aberto, mesmo não me conhecendo. No começo do show, alguns estavam mais fechados, mas no meio, já estavam se soltando. O Inhotim também é maravilhoso. Senti uma energia muito forte. Quando entrei na Galeria Cildo Meireles, uma moça me explicou sobre a importância de ocuparmos esse espaço e, agora mais que nunca, incentivar o turismo local em Inhotim e em Brumadinho. Porque as pessoas já não pensam em lá como uma rota de passeio, mas é agora que a gente tem que incentivar ainda mais isso. Eu não tinha essa consciência até vir aqui. Quando entrei na Galeria do Cildo, no fim tinha uma torneirinha e era tudo muito escuro, vermelho. Me senti tocada. Parece que bateu toda essa consciência.”

Eu te acompanho nas redes e vejo que você é uma pessoa bem ligada em memes. Queria saber qual foi o que mais te fez rir ultimamente? “Eu tô com o do “Ô louquinho, meu!” na cabeça [risos]. Fui pra Ribeirão Preto, e a gente parou numa lanchonete de estrada para jantar, era domingo e o Faustão estava assim gritando na TV do lugar, dava muita risada e ficava repetindo o “Ô louquino, meu!” Alguém pára esse Faustão, pelo amor de Deus! [risos] E o “Sem Tempo Irmão”, que eu tenho usado bastante também porque é demais, né?!”

Esta seção foi escrita pela nossa repórter e social media Débora Stevaux para a edição #27 do MECAJournal. Segue a gente no Instagram? E no Twitter também? ❤

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