Paulo Bressiani apresenta a Cubo, fazenda indoor que produz hortaliças livres de agrotóxicos em Pinheiros, Zona Oeste de São Paulo

Paulo Bressiani, fundador da Fazenda Cubo

O engenheiro ambiental Paulo Bressiani acredita que a falta de contato com a natureza é a raiz de muitos problemas da sociedade contemporânea. Mas, em vez de fugir da cidade como um poeta árcade do século 18, ele decidiu ficar e tentar mudar a selva de pedra por dentro. Dessa decisão nasceu a Fazenda Cubo, uma fazenda urbana indoor (ou vertical) que mensalmente produz 350 kg de hortaliças sem agrotóxicos, num galpão de 90 m² em plena Pinheiros, bairro da Zona Oeste de São Paulo.

“Mas como?”, você deve estar se perguntando. A resposta simples é: com tecnologia. Já a engenharia é mais complexa: sem terra, com as hortaliças empilhadas em estantes, recebendo água e adubo por um sistema de irrigação circular e banhadas por luzes LED que simulam o Sol.

Paulo teve o primeiro contato com esse modelo de negócio em 2014, quando leu sobre o surgimento das fazendas indoor nos EUA. De cara, o formato lhe chamou a atenção por reunir diversos de seus interesses em um só projeto — plantas, alimentação e tecnologia — , mas ele presumiu que não haveria espaço no Brasil para uma iniciativa similar. “Por nosso clima ser mais privilegiado, os produtos não têm que percorrer distâncias tão grandes para atender a demanda”, explica ele, que mudou de ideia depois de uma pesquisa mais aprofundada. “Já em 2017, conversando com donos de restaurantes, eu vi que tinha espaço, sim”.

Com a certeza de que teria público, o engenheiro passou a estudar como montar o sistema e procurou investidores para a empreitada. Então, deixou seu emprego de coordenador de projetos em um fundo de investimentos e, a partir de 2018, passou a se dedicar integralmente à Cubo. Para tirá-la do papel, foram necessários R$ 700 mil, incluindo a reforma do espaço, equipamentos e capital de giro para começar a operação.

Em julho de 2019, as luzes LED da fazenda indoor se acenderam no número 100 da rua Deputado Lacerda Franco. Durante todo o segundo semestre do ano passado, a produção era feita a portas fechadas e comercializada aos restaurantes da região. Em janeiro de 2020, foi aberta uma lojinha para o público geral. E, mais recentemente, com o decreto da quarentena devido à pandemia de Covid-19, foi lançado o serviço de entrega das hortaliças.

Em entrevista ao MECA, Paulo fala do processo de implementação da fazenda, do seu dia a dia e dos planos para o futuro.

O que o inspirou a criar a Fazenda Cubo?
Minha principal inspiração foi fazer essa aproximação entre o cultivo de alimentos e as pessoas, entre a natureza e a cidade. Acredito que muitos dos problemas que temos hoje como sociedade se devem ao fato de que as pessoas perderam o contato com a natureza e o meio ambiente. Por isso, queremos abrir essa forma de diálogo, na qual as pessoas podem comprar suas hortaliças no mesmo local onde foram cultivadas.

Por que escolheu montá-la em Pinheiros?
Nossa intenção é estar o mais próximo possível dos consumidores. Em Pinheiros, estamos do lado de uma grande variedade de restaurantes, que são nossos clientes, assim como temos um público que se encaixa com a nossa proposta: um público que caminha bastante pelas ruas, se interessa por propostas inovadoras e se preocupa em consumir alimentos com origem e sem agrotóxicos.

Tem funcionários? Quantos e quais funções desempenham?
Temos três funcionários. Uma engenheira agrônoma, um técnico de alimentos e uma auxiliar de operação. As tarefas que mais consomem o tempo deles são a colheita e embalagem, semeadura e transplantes. Além disso, a Jéssica, nossa engenheira agrônoma, cuida do manejo das plantas para garantir a sanidade e qualidade delas.

Como é seu dia-a-dia a frente da Cubo?
Como dono de um pequeno negócio, eu desempenho todo tipo de função, desde consertar um vazamento no sistema de irrigação e fazer entregas até atender clientes e fazer o nosso planejamento financeiro. No geral, meu dia começa às 7h acompanhando a colheita e fazendo uma vistoria geral na nossa câmara de cultivo, observando como estão nossas plantas, checando o funcionamento dos sistemas e sempre conversando com a equipe para avaliarmos o que podemos melhorar. No final da manhã, faço a separação dos pedidos e as entregas nos restaurantes. Na parte da tarde, fico na loja, onde atendo os clientes e, no meio tempo, cuido da parte administrativa e do desenvolvimento de nossos novos projetos.

Quem é o público da Cubo?
Começamos focados em restaurantes do bairro e ficamos felizes em atender alguns dos meus restaurantes favoritos, como Corrutela, Più, Dô, Banana Verde, Satú e Mensa. Em janeiro deste ano, começamos a atender pessoas físicas diretamente e, logo antes da pandemia, estávamos com uma venda bem equilibrada entre atacado e varejo. Agora, estamos bem focados no varejo. Nosso público ainda é bem concentrado em pessoas do bairro, até porque, como não fizemos muita divulgação, começamos atendendo pessoas curiosas que entraram na loja para conhecer. Hoje, com entregas e redes sociais estamos expandindo mais o nosso público.

O delivery para o público geral já existia antes da pandemia? Como tem sido a procura pelo serviço?
Não, era algo que estávamos apenas começando a desenhar. Com a pandemia, corremos para colocar este serviço de pé e, por isso, ainda é algo que estamos trabalhando para estruturar e melhorar. Estamos bastante satisfeitos com a procura e é muito gratificante poder atender pessoas que já nos acompanhavam pelas redes sociais, mas não tinham oportunidade de vir pessoalmente na loja.

Quanto tempo entre o plantio e a colheita das hortaliças?
Varia em função da planta e do ponto em que queremos colher cada uma. Nós estamos sempre fazendo experimentos para encontrar o melhor momento de colheita, para otimizar a qualidade e a produtividade. Para se ter uma ideia, este período varia entre 30 e 45 dias, aproximadamente.

Quantos quilos são produzidos mensalmente?
Atualmente produzimos aproximadamente 350 kg de hortaliças por mês, mas ainda não estamos produzindo toda a capacidade desta unidade. Para isso, ainda temos que otimizar alguns processos e ampliar as vendas também.

Quais são os planos para o futuro?
Hoje nosso foco é conseguir atender as pessoas nas casas delas da melhor maneira possível, tanto na experiência de compra como na qualidade e segurança alimentar, para que juntos possamos superar essa crise. Em paralelo, estamos melhorando nossa embalagem e comunicação para vender em alguns mercados selecionados e começando a sonhar com uma segunda unidade.

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