Sucesso no rádio e na TV — e inspiração para os milhões de seguidores — , a cantora IZA celebra a repercussão do disco de estreia “Dona de Mim” e se firma como símbolo de empoderamento da mulher negra brasileira

Foto: Gabriel Sampaio

Foi a cantora Alcione quem a definiu com maior precisão: “A IZA é um acontecimento que há muito tempo venho esperando na música brasileira, que me deixou perplexa e preenche todas as qualidades que uma artista precisa” — depoimento que levou a cantora carioca de pop e R&B às lágrimas. Aos 28 anos, IZA (assim mesmo, em maiúsculas) é um fenômeno necessário. Além de cantar muito, compor e dançar, ela é um símbolo de força da mulher negra, o que transparece já no nome do disco de estreia “Dona de Mim”.
Em entrevista ao jornalista Felipe Seffrin, Isabela Cristina Corrêa Lima fala sobre seu processo de transformação em IZA.

Hoje você é a IZA, com letras maiúsculas. Mas, como você lidou com a insegurança na juventude?
São poucas as pessoas que estavam plenas na adolescência. Eu tive as minhas questões, tanto femininas quanto de identidade. Situações de racismo e preconceito que moldaram uma personalidade em mim. Mas, conforme fui ficando mais velha, as coisas mudaram. Aprendi a me olhar com mais cuidado, com mais carinho.

Como foi essa transformação em um símbolo de empoderamento?
Fui mudando aos poucos e um dia percebi que eu estava curada (gargalha). Curada desse complexo de inferioridade, do medo do julgamento. Hoje, tenho outra relação com meu corpo, minha aparência, meu trabalho. Me sinto incrível. Mas nada aconteceu do dia para a noite. Foram anos de caminhada, de descobertas. É simples falar agora, mas não foi nada fácil.

“Talvez não estivéssemos falando tanto de feminismo, racismo e homofobia se o mundo fosse mais empático, se as pessoas fossem mais capazes de se colocar no lugar dos outros. Na política, então… As pessoas esquecem de celebrar a democracia. É incrível que exista gente de esquerda e de direita e que nós sejamos livres para escolher!”

As suas músicas mostram sempre uma IZA cheia de atitude. Por que é fundamental ter autoconfiança?
É ótimo se sentir aceita, mas isso é consequência do amor-próprio. Amar a si mesma é meio caminho andado para amarem você também. Mas é preciso começar a mudança de dentro. Antes de amar alguém, é preciso estar feliz consigo mesma, com a sua história, sua aparência, sua vida, suas qualidades e, principalmente, seus defeitos.

Como você lida com a responsabilidade de ser uma referência?
Acredito que esse lugar de privilégio [da classe artística] precisa ser ressignificado de vez em quando. Acho importante dar minha opinião. Faço questão de falar sobre assuntos como feminismo e empoderamento, porque muitas mulheres ainda sofrem diariamente. A mulher brasileira sobrevive todos os dias. Por mais empoderada que a gente possa ser, a gente ainda tem medo.

Qual é a importância de manter a humildade apesar da fama?
Fico muito feliz de ter começado a cantar com 25, depois de fazer faculdade, de ter vários empregos e chefes diferentes, de conviver com pessoas de diversas origens. Isso foi muito importante, porque eu pude exercitar muito mais a empatia. Tudo na minha vida aconteceu no tempo certo, o que me ajuda muito a já ter começado com pés no chão. Acho que muita gente pira nesse meio. Tenho a consciência e a preocupação de mostrar, até para quem trabalha comigo, que a gente não sabe o dia de amanhã. É preciso ter pés no chão mesmo, porque a vida é louca!

Falta mais empatia hoje em dia?
Talvez não estivéssemos falando tanto de feminismo, racismo e homofobia se o mundo fosse mais empático, se as pessoas fossem mais capazes de se colocar no lugar dos outros. Na política, então… As pessoas esquecem de celebrar a democracia. É incrível que exista gente de esquerda e de direita e que nós sejamos livres para escolher!

Você imaginava que seria famosa?
Eu sempre tive muita insegurança em relação ao futuro. Não sabia como o público ia me receber. Mas sempre sonhei muito alto, e acho que esse é só o começo. Sonho muito mais alto do que tudo que está acontecendo agora. Mas, ao mesmo tempo, estou muito assustada (risos). Sempre quis viver isso, mas nunca imaginei que ia ser agora, já.

O que você ainda quer conquistar?
Quero cantar e fazer o que amo para sempre, até ficar muito velhinha. Até meu corpo não aguentar. Quero que os fãs literalmente envelheçam comigo. Já me sinto reconhecida pelo meu trabalho, e isso é um presente enorme, mas quero cantar para sempre.

Talvez uma parceria com a Rihanna ou a Lauryn Hill, suas influências?Seria muito incrível. Mas se a Alcione quisesse gravar comigo, eu já me sentiria super-realizada!

Esta entrevista faz parte da edição #024 do MECAJournal.
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