Para o novo perfil comportamental mapeado pela WGSN, consumir local e conscientemente é um ato político pulsante para construir um mundo melhor e mais justo

O ativismo local tem o poder de mudar o mundo? Os Localtivistas acreditam que sim. Destacado pelo bureau de pesquisa de tendências WGSN no reportO Consumidor do Futuro 2020”, esse perfil comportamental é formado por pessoas de diferentes idades e nacionalidades que querem construir um mundo melhor por meio de escolhas e ações dentro de suas próprias comunidades.

O grupo, que deve pautar o mercado a partir da próxima década, aposta no consumo consciente e local como forma de fazer política. Por isso, um Localtivista prefere, por exemplo, se vestir com roupas de marcas regionais, em vez de redes de fast-fashion internacional. Ou comprar alimentos em feiras de produtores locais em vez de grandes supermercados.

“É dessa forma que você garante a sobrevivência de um repertório, de uma identidade.” — Luiz Arruda.

“É um grupo que prioriza a própria comunidade e sua consciência”, afirma Luiz Arruda, diretor da consultoria WGSN Mindset. “E a definição de local é relativa: pode ser a de um país versus o mundo, de um estado versus um país. É sempre uma questão de priorizar um local menor. De manter o conteúdo, a cultura e o dinheiro dentro dessas comunidades e garantir a vitalidade desse ciclo.”

Na África do Sul, por exemplo, o movimento “Be Local-Buy Local” ganhou força ao apoiar empreendedores locais e celebrar as tradições africanas. Fomentar o comércio local se torna uma maneira de revisitar a própria história e fortalecer vínculos. “É dessa forma que você garante a sobrevivência de um repertório, de uma identidade. Não deixa de ser uma ação de resistência”, destaca Luiz.

Os Localtivistas também dão preferência a marcas sustentáveis e conscientes. O estudo “Millennial CSR”, da consultoria Cone, apontou que nove em cada dez millennials substituiriam sua marca favorita por qualquer outra associada a causas nas quais eles acreditam — reforçando a valorização de empresas locais em detrimento de multinacionais.

“Se o ativismo de sofá bastasse, não passaríamos por situações de perdas de direitos como passamos em níveis local e mundial” — Luiz Arruda.

De acordo com a WGSN, investir dinheiro em iniciativas locais também reflete a descrença dos Localtivistas na capacidade de países e governos lidarem com questões sociais. Para eles, o ideal é que cidades e áreas metropolitanas tracem seus próprios destinos e contribuam de maneira ativa no processo evolutivo.

E tem mais: os Localtivistas estão redescobrindo as ruas. Exemplo disso é o que aconteceu no Dia Internacional da Mulher deste ano, quando milhões de mulheres, de todas as idades, participaram de protestos organizados pela Marcha Mundial das Mulheres em 50 países.

O fator inédito é a junção das gerações mais novas, que se engajam civicamente por meio da tecnologia, com as gerações veteranas. Unidas, elas começaram (ou voltaram) a praticar o “ativismo analógico”, transpondo barreiras etárias, locais e virtuais em um só corpo coletivo.

“Se o ativismo de sofá bastasse, não passaríamos por situações de perdas de direitos como passamos em níveis local e mundial”, destaca Arruda. “A tecnologia se mostrou insuficiente para dar conta das nossas lutas.” Para os Localtivistas, petições online e textões são insuficientes para a conquista de mudanças efetivas. Mas mudar nossa forma de consumir pode fazer toda a diferença.

Primeiro passo: 4 iniciativas alinhadas com a proposta dos Localtivistas no Brasil e no mundo:

Mãos Ateliê // A marca tem como propósito cocriar com comunidades artesãs brasileiras, unindo mulheres de norte a sul. A venda das peças é feita seguindo as práticas do comércio justo, em que o lucro é revertido para financiar as comunidades e fomentar diversas ações locais.

Proudly South African // Criada em 2017, a campanha incentiva o comércio local na África do Sul. Com uma edição anual que acontece em Joanesburgo, o evento busca dar apoio financeiro e educacional para empreendedores.

Extração de látex, principal matéria-prima da PAIMM.

PAIMM // A marca nasceu em 2016, no meio da Floresta Amazônica. Criada por Manoela Paim, investe no trabalho de comunidades seringueiras locais por meio da confecção de roupas com borracha, tecidos orgânicos e garrafas pet com uma pegada fashion.

House of Aama // Criada em 2013 por Akua Shabaka e sua mãe Rebecca Henry, a marca de roupas resgata a identidade cultural negra do sul dos Estados Unidos. A primeira coleção foi feita com tecidos vindos direto do Quênia.

Em parceria com a consultoria internacional WGSN,

o MECA analisa as principais tendências de comportamento e consumo atuais. O resultado você confere no MECAJournal e em talks realizados no MECASpot. Nesta edição, apresentamos os Localtivistas — um dos perfis de consumidores em ascensão global.

Esta matéria faz parte da edição #023 do MECAJournal e foi escrita pela repórter Débora Stevaux.
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MECA // Informação, cultura, criatividade e festivais: um radar da cena cultural do Brasil e do mundo. @mecalovemeca

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