Entrevista: a força da natureza chamada Luedji Luna

A cantora apresentou as canções do seu primeiro álbum, “Um Corpo no Mundo”, no MECANewYear no Instituto Inhotim, e falou sobre música, amor e representatividade.

Luedji Luna no MECANewYear (Foto:Dynelle Coelho)
Luedji Luna no MECANewYear (Foto:Dynelle Coelho)

O show de Luedji Luna no MECANewYear no Instituto Inhotim no dia 29 de dezembro foi repleto energias de alta vibração e cura. Com certeza, as letras profundas da cantora e compositora baiana lavaram a alma de muitos que ali estavam presentes. Mesmo tendo suas músicas construídas em situações bem íntimas e pessoais, elas não deixam de ter uma linguagem universal.

Foi fácil perceber que as emoções de todos dançavam em sincronia com a voz desse ser tão lindo, que traz toda a energia de sua ancestralidade e expressa isso em forma de arte. Luedji Luna transforma momentos e transborda alegria e inspiração para quem a presencia, fazendo carinho em nossos tímpanos e trazendo aconchego para os corações.

Confira a entrevista que a cantora concedeu logo após um show que lavou as nossas almas.

Em “Banho de Folhas” você fala em procurar respostas. Após tantas voltas, qual a resposta que você ainda procura?

“Ah, acho que já encontrei a resposta, na verdade. Definitivamente a música me deu um lugar, a música é o meu lugar. Espero em 2020 continuar ocupando esse lugar, continuar fazendo o que tenho feito. Tocando as pessoas mesmo, com novas histórias, novas canções. Acho que 2020 é a continuidade. Não espero uma grande resposta, já encontrei ela no caminho.”

Você tem uma canção que faz a metáfora da mulher como uma árvore. Se a Luedji fosse uma arvore frutífera, qual seria o fruto?

“Um disco novo! (risos). Um fruto, filhos. Maternidade. Essa maternidade que é a música, que é nascer pro mundo essas canções novas. Esse fruto é literalmente um novo disco.”

Qual folha não pode faltar em um dos seus banhos?

“Como sou praticante do candomblé, eu não tomo banho em casa, tomo banho no terreiro, me dão banho. Tomo com as folhas que a minha mãe retira da própria natureza. Esse banho de folhas que eu canto na música “Banho de Folhas” foi meu primeiro banho na vida, eu não tinha religião, era leiga. Hoje eu percebo a função de cada folha naquele momento: para cortar a negatividade, abrir caminhos, cortar a inveja, para energizar. Não faço nenhuma recomendação, pois essas foram que eu tomei e que estavam dentro de um contexto. A gente precisa ter um consulente que vai determinar as folhas que a gente precisa. Mas, para não deixar de responder, eu uso alfazema pra tudo: pra dormir, pra acordar, no banho. Às vezes a folha mesmo e às vezes o perfume, que eu dissolvo na água.”

Você fez muitas conexões e construiu músicas lindas com artistas que são referências na música afro-brasileira, como Rincon Sapiência, Tássia Reis. Existe algum artista afro-brasileiro que você gostaria de se conectar?

“Acabei de fazer um single com o Zudzilla, um MC de Pelotas, um rapper. Acabamos de fazer um trabalho juntos e vamos lançar um clipe em janeiro. Então acho que o artista que eu queria fazer uma conexão eu acabei de me conectar. Quem não conhece ele, procure conhecer!”

Luedji Luna no MECANewYear (Foto: Luara Baggi/Shake It BSB)

Por que é bom estar de baixo d’água?

“O título dessa canção, “Bom mesmo é estar embaixo d’água”, é um trecho de uma outra canção que eu gosto muito, do François Muleka. É uma canção que eu fiz num contexto em que estava muito apaixonada. Paixão é afogar-se em sentimentos, vem muita coisa. Essa canção traz toda essa profundidade, a partir da perspectiva de uma mulher preta que ama e é amada. A água é essa metáfora do amor, de estar imersa, completamente mergulhada nesse sentimento que é fundamental da vida e de tudo que existe. No final, é tudo sobre amor. É sobre essa necessidade de demarcar o lugar dessa mulher preta que deseja, que ama, e que também é amada e desejada. Falar de amor é muito importante, mas é mais fundamental ainda quando você é mulher e preta. Por isso acho que vai meu novo disco vai ser bem importante, bem lindo. Estou doida pra gravar logo!”

Esta entrevista foi feita pelo produtor Kim Olivier, em parceria com a produtora de conteúdo e social media Débora Stevaux. Segue a gente no Instagram? E no Twitter?

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