Entrevista: o amor sublime e incondicional de Gal Costa pela vida

A rainha da Tropicália, que se apresenta dia 27 de Dezembro no MECABrumadinho, conta de quem está “cuidando de longe”, qual é o sentimento que a acompanha e o que espera de 2020.

Gal Costa durante seu show no MECAMaquiné. (Crédito: Luara Baggi/Shake It).

Um dos momentos mais especiais para toda a equipe & público do MECA em 2019 foi, certamente, a apresentação fantástica da rainha da Tropicália, Gal Costa, no MECAMaquiné. O show da cantora baiana inundou a exuberância esverdeada da Fazenda Pontal e o ❤ de todo mundo que dançava, cantava e não conseguia conter os olhos cheios d’água de tamanha emoção.

O brilho nos olhos da cantora no camarim após o show também surpreendeu, em uma entrevista descontraída e permeada de afeto. Do alto dos seus 74 anos, sendo 50 deles de uma carreira impecável, ela recebeu a todos se atentando pela carinha ‘jovem’ de quem está por trás do festival, para um bate-papo descontraído que você acompanha a seguir.

Gal Costa durante seu show no MECAMaquiné. (Crédito: Vitoria Proença).

E como “um beijo molhado de luz selou o nosso amor”, no dia 27 de dezembro temos outro encontro marcado com Gal Costa no MECABrumadinho, evento sem fins lucrativos idealizado para ecoar boas energias no ❤ da cidade mineira que recebe os eventos do MECA carinhosamente há cinco anos.
Além dela, o artista quilombola Reibatuque e o bloco mineiro Swing Safado também esbanjarão talento no nosso palco.

Este é um convite irrecusável, afinal, “toda vez que o amor disser, vem comigo, vai sem medo de se arrepender”!

Como é ser ser sublime nos dias de hoje?
Gal Costa: “É muito especial e engraçado. Eu estava vendo tanta gente jovem ali [na plateia do MECAMaquiné], carinhas bem de bebê, e eu fiquei viajando no tempo e pensando como é bom você manter vigoroso o seu trabalho, vendo as gerações passarem e você permanecer influente. É muito mágico para mim ver essa conexão das pessoas mais novas com o passado, porque elas conhecem e gostam. Tenho muita alegria de ver isso, de ver essa realização. Isso, de fato, acontece, e é muito gratificante, é maravilhoso!”

Gal Costa durante seu show no MECAMaquiné. (Crédito: Luara Baggi/Shake It).

De quem você está cuidando de longe?
Gal Costa: “Ah, eu cuido de muita gente de longe. Meus amigos que eu amo, as pessoas que eu gosto e até quem eu não conheço. É o que eu falei no palco: o meu amor é incondicional no sentido de que a gente transmite amor o tempo todinho. Porque a minha intenção é mandar amor através da música, ainda mais nos tempos de hoje, onde o ódio está aí latente através das mídias sociais e também no comportamento de algumas pessoas que a gente vê por aí pelo mundo. Então, eu acho que é muito importante que a gente mantenha vivos esses trabalhos da gente, da minha geração principalmente, que já lutou muito contra a ditadura, já sofreu com isso. E a gente está inteiro, todo mundo mandando vibrações não só através das letras, mas também através da energia que a gente passa com os nossos shows. É importante que a gente fique aí até quando Deus quiser, e espero que Ele queira muito que a gente fique aí velhinho e cantando.”

“O meu amor é incondicional no sentido de que a gente transmite amor o tempo todinho. Porque a minha intenção é mandar amor através da música, ainda mais nos tempos de hoje, onde o ódio está aí latente através das mídias sociais.”

O que é necessário para ser fatal?
Gal Costa: “É necessário simplesmente ser, não precisa pensar em ser. Tem que ser naturalmente, tem que nascer fatal. Eu nasci fatal. [ri]”

“Acho que [o meu show] seria uma rosa branca para oferecer à minha mãe.”

Gal Costa durante seu show no MECAMaquiné. (Crédito: Luara Baggi/Shake It).

Se o seu show fosse uma flor, qual seria?
Gal Costa: “Olha, eu me lembro da minha mãe imediatamente. Minha mãe adorava plantas, adorava flores. Ela me chamava de ‘Gracinha’, era o apelido pelo qual ela me chamava, e me falava: ‘Quando eu morrer, quero virar uma árvore.’ E ela adorava rosas. Rosas brancas, principalmente. Acho que seria uma rosa branca para oferecer à minha mãe.”

Como foi a experiência de tocar aqui em uma fazenda, no meio do mato?
Gal Costa: “Ah, foi maravilhoso! Eu me lembrei logo de Trancoso (BA), onde vivi mais de três anos depois que a minha mãe morreu. Era muito bom chegar naquela estrada de terra, no meio da natureza, em frente ao mar. Gosto muito de lugares assim porque tenho uma integração muito forte com a natureza, sou uma pessoa muito meditativa, não gosto de festa, multidão. Sou mais zen mesmo e esses lugares são muito especiais para mim.”

“Vou fazer um projeto novo, não sei exatamente quando, mas vou fazer um projeto novo. Ano que vem vai ser ainda melhor!”

E isso fez com que o show fosse ainda mais especial?
Gal Costa:
“Ah, sim, claro, muito especial. E a plateia também me fez fazer um show especial.”

Se hoje você fosse se inspirar em algum novo nome da música popular brasileira, quem seria?
Gal Costa: “Ah, eu não me inspiraria em ninguém, porque não me vejo em ninguém. Sei que grande parte da galera mais nova hoje da música popular brasileira se inspira em mim, no meu trabalho da década de 1960 e de outras décadas também e sei do meu papel como influenciadora de uma geração. Mas hoje não me vejo em alguém especificamente.”

E quando você começou, se inspirou em quem?
Gal Costa: “Eu me inspirei em mim mesma. [ri]”

Como foi 2019 para você e o que você espera do ano que vem?
Gal Costa:
“Esse ano foi bom, muito bom, fiz esse show maravilhoso. Ano que vem vou fazer uma tour na Europa de dez shows. E vamos ver o que vem por aí. Vou fazer um projeto novo, não sei exatamente quando, mas vou fazer um projeto novo. Ano que vem vai ser ainda melhor! ❤”

Esta entrevista foi feita por Débora Stevaux, Dimas Henkes e Felipe Seffrin, da equipe de conteúdo do MECA. Segue a gente no Instagram? E no Twitter também?

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MECA // Informação, cultura, criatividade e festivais: um radar da cena cultural do Brasil e do mundo. @mecalovemeca

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