Entrevista: Reibatuque tece as relações do corpo, de memória e identidade

A apresentação do artista quilombola brumadinhense foi um dos momentos mais luminosos e poderosos do Ano Novo do MECA.

Reibatuque durante um show brilhante no ❤ de Brumadinho. (Crédito: Luara Baggi da Shake It BSB).

Um dos momentos mais luminosas do Ano Novo do MECA foi a apresentação “Memórias de Um Quilombo”, do artista quilombola brumadinhense Reibatuque. O show foi o primeiro do MECABrumadinho, evento sem fins lucrativos que rolou no dia 27/12, no ❤ da cidade mineira e pela sua luminosidade sonora e visual nos fez lembrar e sentir todas as narrativas pulsantes da Comunidade Quilombola de Marinhos. O artista que remete à brilhante presença de Luis Melodia, Itamar Assumpção e Seu Jorge — alguns dos nomes mais importantes da música afro-brasileira — instigou a todos pela mistura cheia de gingado, resistência e brasilidade. A imersão sonora norteada pela projeção da ancestralidade no futuro aconteceu e foi emocionante. Toda a força do congado e de Moçambique nos arrepiou do cóccix até o pescoço.

Reibatuque durante um show brilhante no ❤ de Brumadinho. (Crédito: Luara Baggi da Shake It BSB).

Cumprimentado por todos os integrantes da banda da rainha Gal Costa — sem exceção — pelo belíssimo show, Reibatuque tece as relações entre corpo, memória e identidade. Uma versão de “Pra Que Me Chamas?” de Xênia França ganhou vida pela vibração dos instrumentos da sua banda em sinergia. A lembrança da mãe que se foi há pouco tomou forma de afeto e transbordou por todos os cantinhos do palco. “Estou sentindo a minha mãe aqui, ela está aqui”, disse ele com os olhos marejados. Em entrevista aos repórteres Débora Stevaux e Kim Olivier, Rei fala sobre passado, presente e futuro — tempos e espaços diferentes que se entrelaçam num abraço imenso chamado música.

Como Moçambique vive em você?

“Moçambique vive dentro de mim como corpo, como umbigo, como resistência, como a força da mulher quilombola, materna, com muita garra, luta e resistência. Esse som ‘Moçambique’ vive dentro de mim como corpo é, literalmente, o corpo.”

Se a música de Reibatuque tivesse um cheiro, qual seria e por quê?

“O meu som tem cheiro de mirra, uma planta muito forte, muito afetuosa, celebrativa, pura. Meu som cheira mirra, cheira guiné, cheira arruda, cheira manjericão, cheira espada-de-São-Jorge.”

Até onde você quer que o seu batuque chegue?

“Nasci em casa e minha avó era parteira, então, eu quero chegar com o meu batuque no útero das pessoas. Porque quando vem do útero ele nasce, não é colocado.”

Esta entrevista foi feita pelos repórteres Débora Stevaux e Kim Olivier. Segue o MECA no Instagram? E no Twitter também?

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Débora Stevaux
MECA // Informação, cultura, criatividade e festivais: um radar da cena cultural do Brasil e do mundo. @mecalovemeca

repórter de cultura & social media do @mecalovemeca que escreve porque acha que a arte é transformadora o suficiente para gerar impactos sociais positivos