Iury Andrew: “A música me move para todos os lugares e me traz de volta ao meu próprio eu”
O DJ e produtor pernambucano arrepia até o mais rígido dos corpos na pista.
Você já ouviu um set que te arrepiou tanto dos pés à cabeça que percebeu depois de um tempinho a recorrência dos movimentos incessantes do seu corpo? Isso aconteceu com a gente quando ouvimos pela primeira vez a sequência musical minuciosamente construída por Iury Andrew, uma das atrações que vai brilhar na pista do MECABrennand, o festival mais lindo de Recife, que acontece no dia 14 de Setembro, na Oficina de Cerâmica Francisco Brennand!
O DJ e modelo de 22 anos nasceu e foi criado na comunidade de Peixinhos, em Olinda (PE). “Da lama ao caos, do caos à lama. Salve Chico [Science]!”, conta ele. Em entrevista à repórter Débora Stevaux, Iury fala sobre sua trajetória musical, sobre a importância de fazer parte da Batekoo — um coletivo cultural que celebra e reafirma a potência da comunidade LGBTQ+ afrobrasileira, sobre seu amor por Recife e também sobre o sentimento que enche seu ❤ quando o assunto é MECABrennand!
Como a música move você hoje? “A música me move ao topo. Um lugar que, de onde venho, jamais imaginaria alcançar. Aliás, imaginava sim, bem lá atrás... mas não achava que seria pela música. A música transformou minha vida, me deu um rumo e tem me movido todos os dias a alcançar todos meus objetivos. Seja em um ônibus lotado ou em algum camarim de um lugar bacana. Ela está sempre lá, me dando forças e não me deixando esquecer quem eu sou e de onde venho. No final, ela me move para todos os lugares e também me traz de volta ao meu próprio eu.”
“Hoje, defino meu som como preto. Sempre quando me perguntam o que eu toco eu respondo ‘música preta e seus plurais’. Música preta universal, seja a mais conceitual ou a mais periférica.”
O seu set é um dos mais impressionantes que já ouvi, passeia com suavidade entre o house, o indie, o funk e o que você achar mais legal tocar. Como você sente a pista que está tocando para fazer essa mistura maravilhosa? “Olha, nem eu sei [ri]. Quando comecei a me profissionalizar como DJ eu passei um bom tempo quebrando minha cabeça tentando achar um único gênero em qual me enquadrasse. Achava que só conseguiria ser levado a sério quando alguém me perguntasse ‘O que você toca?’ e eu respondesse: ‘Tal coisa. House, por exemplo.’ Mas cara, no início eu fui tocando em espaços completamente diferentes. Onde me chamassem eu ia porque precisava da grana e da experiência, fosse festa de uma tiazona evangélica hipster ou um chá da tarde para senhoras ricas em um grande resort. Então, tive que aprender a me adaptar a todos os lugares ao mesmo tempo, sem perder minha identidade. Hoje, não faço mais set antecipadamente, procuro saber antes que tipo de festa estão me contratando e apenas vou. Sinto o que o povo está querendo e procuro passar a sensação para o público dançar como se o mundo fosse acabar, sabe? Seja um reggae ou um bregafunk. Hoje, defino meu som como preto. Sempre quando me perguntam o que eu toco eu respondo ‘música preta e seus plurais’. Música preta universal, seja a mais conceitual ou a mais periférica. Só sei de uma coisa: não tem nenhum set igual ao meu!” [ri]
“É sobre se sentir seguro, é sobre se sentir livre e não tem nada melhor que a liberdade para o nosso corpo que já sofre tanta repressão diária. Sem falar na representatividade feminina na noite que a Batekoo Rec. traz.”
Você faz parte da Batekoo de recife, né?! pra você, qual é a importância de terem movimentos culturais que celebram e reafirmam a potência da comunidade LGBTQ+ afrobrasileira?
“Sou DJ residente da Batekoo Rec. sim! A importância de existirem espaços como a Batekoo onde os nossos corpos pretos e LGBTQ+ se sentem confortáveis e sem medo de serem o que são é inexplicável. Graças à Beysus [ri], aqui em Recife a cena underground tem crescido e outros espaços como o da Batekoo têm surgido e crescido bastante. É sobre se sentir seguro, é sobre se sentir livre e não tem nada melhor que a liberdade para o nosso corpo que já sofre tanta repressão diária. Sem falar na representatividade feminina na noite que a Batekoo Rec. traz. A festa é composta por mulheres fodas e eu sou o único homem cis do espaço. Estar com essas mulheres me fortalece e me faz ver o quão ainda é importante valorizarmos o campo feminino na noite que ainda é tão cis e tão masculina.”
“E temos, sem dúvida, o melhor público do país! Recife é caloroso, Recife é receptivo. Recife respira arte e cultura. Ah, eu só amo esse lugar, o meu lugar!”
Você tá ansioso pro MECABrennand? Quais atrações você está doido pra ouvir?
“SIMMM! Estou bastante ansioso para o show do Mombojó, que faz anos que não assisto e adoro. Também estou muito feliz de ver Noporn de novo. Na última vez que veio a Recife infelizmente o som da festa não estava em boa qualidade. E, claro, meus meninos Shevchenko & Elloco que vêm representando a favela e a música pernambucana. Me quebrarei no passinho! E sem esquecer da 9K, meus amigos merecem muito. Amo vocês! ❤”
Eu amo Recife por quê?
“Por que eu amo Hellcife? Só aqui que existe algo como o bregafunk, isso já é motivo o suficiente [ri]. Recife é um país. Temos a nossa bolha e acho isso o máximo. Temos os nossos próprios gêneros musicais, temos as nossas próprias danças e nossas próprias febres e modas. Temos os nossos próprios ‘TVs Famas’, nossas próprias celebridades, nossas próprias polêmicas e barracos [ri muito]. E temos, sem dúvida, o melhor público do país! Recife é caloroso, Recife é receptivo. Recife respira arte e cultura. Ah, eu só amo esse lugar, o meu lugar!”
O que não tem saído do seu fone ultimamente?
“Nossa eu tenho ouvido muito o álbum “Cuz I Love You” da norte-americana Lizzo, o álbum “Matriz” da Pitty, mas tenho ouvido todos os dias a música “Oásis’ da Potyguara Bardô. Maravilhosa demais! O som me leva para uma outra dimensão [ri]. Procurem o live no MangoLab… É fenomenal, um show de interpretação!”
Pode adiantar pra gente alguma coisinha que vai rolar na pista do MECABrennand?
“Como acredito que estarei recebendo os convidados, apostarei em um R&B bem gostoso, com uma pintada de funky. Uma coisa clássica, mas também pós-moderna. Uma coisa Brooklyn, mas também uma coisa Peixinhos. E é claro que com algumas surpresas também, né?!”