Pra você se debulhar num mar de novas referências e refrescar o que entende por cultura!

Domingas (Sônia Braga) nos bastidores do longa “Bacurau”. (Crédito: Reprodução/Instagram).

Nossa listinha de lançamentos do mês vem robusta porque agosto é um mês bem longo, não é mesmo? Confira 13 lançamentos culturais pra você se debulhar nesse mês e nos meses posteriores (porque nem tudo precisa ser tão datado, né?!) e refrescar suas referências. ❤

1. DISCO // “Cada Voz É Uma Mulher”, de Virginia Rodrigues

Crédito: Divulgação.

Lançado em julho, o sexto álbum da cantora, compositora e diva Virgínia Rodrigues merece (e muito!) seu espaço por aqui. As nove faixas de “Cada Voz É Uma Mulher” representam uma investigação decolonialista pelas ressonâncias ancestrais que nos conectam — seja no Brasil, Angola, Cabo Verde, Moçambique ou em Portugal. ✨

Crédito: Ana Quintela.

A lírica sensível e potente de 20 anos de carreira de Virgínia nos liberta a cada nota e a cada sílaba. O trabalho impecável e hipnotizante conta com a participação talentosíssima do músico baiano Tiganá Santana. Ah, Virgínia também aparece no primeiro single do novo disco da rainha Elza Soares, “Libertação”, idealizado também com o BaianaSystem. ❤

2. DISCO // “Ideia Errada”, de Breu

Crédito: Divulgação.

Este é um convite irrecusável pra você mergulhar no pop rock psicodélico do novo trabalho da banda brasiliense Breu. Anteriormente chamado de MDNGHT MDNGHT, o quarteto se lança numa fase que mescla os ritmos regionais do ❤ do Brasil com um instrumental expansivo, envolvente e letras que falam de todas as consequências necessárias para que a gente cresça e floresça de dentro pra fora. São 11 músicas que dissecam a nossa qualidade mais expressiva e livre: a de pensar sobre os caminhos das relações humanas e sobre os desdobramentos possíveis, seja perdão, culpa, superação e leveza.

Banda Breu. (Crédito: Rodrigo Gianesi).

Você não vai conseguir ficar parado com o groove delicinha de “Mano do Céu”, se reconhecer e talvez se projetar na fragilidade humana — e masculina — de “Sucata”; rever suas ideias e ideais em “Tabuada” e entrar num vórtice maravilhoso & reflexivo em “Parquinho 209/210”.

3. TEATRO // “O Auto da Compadecida”, do Grupo Maria Cutia, no Sesc Pompeia

Crédito: Tati Motta Fotografia.

“Já fui barco, fui navio, mas hoje sou escaler. Já fui menino, fui homem, só me falta ser mulher!” Pra quem já foi um pouco de tudo e quer continuar sendo — mesmo que só no mundo da imaginação, vá ao espetáculo “O Auto da Compadecida”, baseado na obra-prima do dramaturgo paraibano Ariano Suassuna e encenado pelo grupo mineiro Maria Cutia. Em cartaz até 1º de Setembro no Sesc Pompeia, em São Paulo! 💙

Crédito: Tati Motta Fotografia.

As aventuras de João Grilo e Chicó ganham um novo sentido no momento político-social em que vivemos — o que destaca qualidades fundamentais de uma obra de arte: a relevância e a adaptação mesmo com a ação do tempo. Assinada pelo diretor Gabriel Villela, a peça ganha uma estética barroca e pitadinhas brechtianas um tanto irônicas. Um espetáculo para fazer brilhar os olhos e os sentidos! 😻

Quando? Até 1/9. De quinta a sábado, às 21h, e aos domingos, às 18h.
Onde? Sesc Pompeia. Rua Clélia, 93 — Pompeia, SP.
Quanto? Ingressos a partir de R$10
pelo site do Sesc ou nas bilheterias das unidades.

4. DANÇA // 2ª edição da Semana Paulista de Dança, no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP)

Balé Teatro Guaíra, espetáculo “Trânsito”. (Crédito: Sergio Vieira)

Para aproximar a população da dança contemporânea e apresentar alguns dos nomes mais reluzentes da cena por meio de uma programação gratuita, a segunda edição da Semana Paulista de Dança acontece em um dos cartões-postais mais queridinhos da capital: o MASP, de 28 de Agosto a 1º de Setembro.

Bailarinos do Balé Folclórico da Bahia. (Crédito: Divulgação/Instagram)

Curada por Anselma Zolla, a programação conta com participações mais-que-especiais do Balé Teatro Guaíra (foto), da Companhia de Danças de Diadema, Quasar Cia. de Dança, a Studio3, a São Paulo Companhia de Dança, Miriam Druwe, Marilena Ansaldi e Raymundo Costa e o maravilhoso Balé Folclórico da Bahia.

A programação completa você confere aqui! 😉

Ah, o eixo curatorial que guia as exposições do MASP deste ano são histórias feministas. E no dia 23 de Agosto serão inauguradas duas exposições imperdíveis e fundamentais, “Histórias das mulheres: artistas antes de 1900” e “Histórias feministas: artistas depois de 2000”.

“Admiring Polvo de Gallina Negra” de Lydia Hamann & Kaj Osteroth. Mistresses of Feminist Art. (2016)

Com curadoria de Isabella Rjeille, “Histórias feministas” motiva novos debates a partir da produção de artistas cujas produções emergiram no século 21. Já “Histórias das mulheres”, com curadoria de Mariana Leme, Bryan-Wilson e Lilia Schwarcz, reposiciona a obra de artistas que trabalharam até o final do século 19 ao discutir a diferença de valor entre o universo masculino e o feminino e também entre arte e artesanato. Incrível, né?! ❤

Quando? “Semana Paulista de Dança”. De 28 de agosto a 1 de setembro. De quarta a sábado, às 20h; domingo, a partir das 16h.
Onde? No MASP. Av. Paulista, 1578 — Bela Vista, SP.
Quanto? Entrada gratuita. Os Ingressos deverão ser retirados 2h antes de cada espetáculo.

5. EXPO // “Luiz Braga: Interiores, retratos [e paisagens]”, na galeria Leme/AD

“Mercearia Ordem e Progresso” (2019) e “Rapaz no desfile escolar” (2018). Ambas de Luiz Braga.

A nova mostra individual do fotógrafo paraense Luiz Braga inunda a capital paulista com uma série de fotografias que desnaturalizam e desmistificam a “verdade fotográfica” em sua vasta gama de técnicas e conceitos pré-estabelecidos ao longo das décadas. 💖

Em cartaz até 17 de Setembro na galeria Leme/AD, a mostra é tocante pela precisão com que flagra expressões e objetos retratados. Vá com tempo para analisar todas as obras de um dos maiores nomes da fotografia nacional.
Mais informações aqui!

“Menino no arraial” (2018) e “Interior casa em verde” (2019). Ambas de Luiz Braga.

Quando? Até 17 de Setembro. De terça a sexta, das 10h às 19h, sábados, das 10h às 17h.
Onde? Na galeria Leme/AD. Av. Valdemar Ferreira, 130 — Butantã, SP.
Quanto? Entrada gratuita.

6. EXPO // “36º Panorama da Arte Brasileira — Sertão”, no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM)

“A Idade da pedra”, Ana Vaz (2013).

O Sertão é tão imenso de significado que ultrapassa as barreiras geográficas nesta mostra coletiva e imensa, em cartaz até 15 de Novembro no MAM São Paulo. 29 artistas e coletivos reunidos por Júlia Rebouças integram uma exposição que traz o sertão na sua “instância de experimentação e resistência”. Habitantes de Cachoeira (BA), Recife (PE), Brasília(DF), Florianópolis (SC) e São Paulo (SP) apresentam o “modo de pensar e de agir, que tem a criação artística como um de seus importantes aspectos definidores.” Mais informações aqui! 💥

“Antonio Obá: Artista e obra” (2018) e “Diários de Combustão” de Randolpho Lamonier (2014).

Quando? Até 15 de Novembro. De terça a domingo, das 10h às 18h.
Onde? No Museu de Arte Moderna de São Paulo — MAM. Parque Ibirapuera (Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº — Portões 1 e 3), SP.
Quanto? Ingressos a partir de R$7. Aos sábados, a entrada é franca.

7. EXPO // “NUNO — Poéticas têxteis contemporâneas”, na JAPAN HOUSE

Sudo Reiko. (Crédito: Kosuke Tamura)

Um dos destaques mais reluzentes da 8ª edição da DW! (Design Weekend) — maior festival urbano de design da América Latina — que idealiza mais de 400 eventos em 140 pontos da capital paulista até 25/8, é a exposição “NUNO — Poéticas têxteis contemporâneas”, em cartaz na Japan House São Paulo até o dia 27 de Outubro.

“Polygami” e “ Tanabata”. (Crédito: Sue McNab).

A exposição com curadoria de Adélia Borges e Mayumi Ito exibe 35 peças criadas pela designer japonesa Reiko Sudo, idealizadora da marca NUNO, termo que significa tecido na sua língua mãe. Conhecida mundialmente por desenvolver linhas estéticas, materiais e técnicas que reinterpretam a tradição têxtil do país para o mundo contemporâneo, a marca usa matérias-primas que vão do bashofu (fibra de bananeira produzida em Okinawa, no Japão) a páginas de jornais, passando por washi (papel japonês), cobre, plástico, borrachas, penas até materiais tradicionais, como algodão, seda, poliéster, lãs e feltro. Uma vibe, né?!

A mostra conta com objetos de acervos importantes como o MoMA (Museum of Modern Art), em Nova Iorque, e o museu Victoria & Albert, em Londres, e busca mostrar os caminhos costurados entre as técnicas manuais e as tecnologias mais avançadas. Funcionando desde 1984 em Tóquio, a NUNO é tida por muita gente como um dos melhores laboratórios de pesquisa têxtil da atualidade. 💙✨

Ah, nesta sexta-feira (23/8), a Japan House São Paulo inaugura uma nova série de eventos na sua programação, a “Experiências Japan House São Paulo”, com atividades e bate-papo com a designer Reiko Sudo, das 16h às 20h30. O rolê conta com uma boas-vindas na Cafeteria Sabor Mirai, visita à exposição, bate-papo sobre os processos de criação de Reiko com a participação da própria, experiência gastronômica no restaurante AIZOMÊ e uma palestra com Kiri Miyazaki. O investimento é de R$300 por pessoa e as inscrições podem ser feitas pelo e-mail experiencias@jhsp.com.br. Mais infos aqui!

“NUNO — Poéticas têxteis contemporâneas” na Japan House São Paulo. (Crédito Alisson Louback)

Quando? A exposição fica em cartaz até 27 de Outubro. De terça a sábado, das 10h às 20h. Domingos, das 10h às 18h.
Onde? Na Japan House São Paulo. Av. Paulista, 52 — Bela Vista, SP.
Quanto? Entrada gratuita.

8. LIVRO // “Mary Ventura e o Nono Reino”, de Sylvia Plath — Biblioteca Azul

Crédito: Divulgação.

Pra quem, assim como a gente, é completamente fissurado no trabalho da escritora norte-americana, o novo livro lançado pela Biblioteca Azul é um prato cheio. A fábula lotada por símbolos e obscurantismos foi escrita por Sylvia quando a autora tinha apenas 20 anos de idade e permaneceu inédito desde então. “Mary Ventura e o Nono Reino” é a história de uma viagem de trem necessária para a entrada na vida adulta. Todos os desafios e transformações contidos na transição se fazem presentes aqui até que a protagonista assume o controle do seu destino. Lotado de referências sutis e de paisagens tão bem descritas que nos colocam quase dentro de um filme literário, o carro alegórico do rito de passagem serve para quem desejar abrir a sua porta.

Quanto? R$49,90 pelo site da Globo Livros. (Preço consultado no dia 20/8, sujeito a alterações).

9. SÉRIE // “Sintonia”, de KondZilla, na Netflix

Nando (Christian Malheiros), Doni (MC Jottapê) e Rita (Bruna Mascarenhas), (Crédito: Divulgação/Netflix)

A série assinada por um dos maiores nomes do funk brasileiro, KondZilla, é um retrato necessário e cativante da cena que permeia o gênero musical na capital paulista. Os olhares e tramas acompanham a vida de três jovens: Nando (Christian Malheiros), Doni (MC Jottapê) e Rita (Bruna Mascarenhas). Os seis episódios disponíveis na Netflix costuram e exploram temas como música, tráfico de drogas, religião, precariedade de recursos e o fervilhar dos sonhos de uma “juventude sônica, 1% de chance, 99% de fé”, como descreve o rapper Black Alien na música “Carta para Amy”.

Instigante pela sua capacidade de envolver, o seriado se torna indispensável para qualquer um que se interesse minimamente por cultura popular brasileira. Há um tempo, ouvi de longe um entregador de água dizer para outro: “Veja ‘Sintonia’, fulano. Você vai entender tudo da nossa caminhada a partir de agora.” É sobre reconhecimento e projeção dos próprios sonhos.

10. EXPO // “Arte Atual | Jamais me olharás lá de onde te vejo”, no Instituto Tomie Ohtake

“Sem título” da Série Cenas Singulares de Éder Oliveira. (2016).

Para celebrar a arte do retrato, dos limites que permeiam o ‘eu’ e o ‘outro’, e jogar luz sobre a figura humana no seu aspecto mais transformador, a exposição coletiva “Jamais me olharás lá de onde te vejo” fica em cartaz até 29/9 no Instituto Tomie Ohtake. As obras de Éder Oliveira, Regina Parra e Virginia de Medeiros pedem minúcia e peito aberto ao serem contempladas.

“não eu” de Regina Parra (2019).

“É possível, por intermédio dos trabalhos, discutir parâmetros de como os artistas constroem os limites entre o “eu” e o “outro”, e delimitam relações de afinidade e de distinção. Mais do que isso, os trabalhos presentes explicitam como os artistas convidados se valem da figura humana como uma de suas ferramentas para abordar a violência que imputamos ou a que são imputados nossos corpos, os limites e rastros do tempo e a noção do corpo como um lugar de resistência”, contam os curadores Diego Mauro, Luana Fortes, Priscyla Gomes e Theo Monteiro.

Quando? Até 29 de Setembro. De terça a domingo, das 11h às 20h.
Onde? No Instituto Tomie Ohtake R. Coropé, 88 — Pinheiros, SP.
Quanto? Entrada gratuita.

11. EXPO // “Ocupação Vladimir Herzog“, no Itaú Cultural

Fotos tiradas por Vladimir Herzog. (Crédito: Divulgação/Itaú Cultural).

É urgente tornarmos Vlado maior que a sua própria morte. É com esse objetivo — o de ressignificar e dar luz à vida do jornalista que se tornou símbolo de resistência diante da truculência da ditadura militar — que a “Ocupação Vladimir Herzog” está em cartaz até 20/10 no Itaú Cultural.

A exposição reúne fotos, reportagens e cartas que o croata radicado no Brasil trocou com cineastas do mundo todo. Entrevistas de familiares, amigos e colegas de trabalho recriam a figura de um jovem curioso, que escolheu o jornalismo pela vontade pulsante de salvar o mundo. Fundamental! ✊

Fotos tiradas por Vladimir Herzog. (Crédito: Divulgação/Itaú Cultural).

Quando? Até 20 de Outubro. De terça à sexta, das 9h às 20h.
Onde? No Itaú Cultural. Av. Paulista, 149 — Bela Vista, SP.
Quanto? Entrada gratuita.

12. DISCO // “Any Human Friend”, de Marika Hackman

Crédito: Divulgação.

Pra gente mergulhar nas sutilezas dos encontros, desencontros, amores e desamores dessa vidinha sem freio. O sexto e novo disco da cantora, compositora e multi-instrumentista inglesa Marika Hackman,“Any Human Friend”, te guia num mergulho interior pelas 11 faixas meticulosamente construídas. A nossa favorita é a dilacerante e dançante “hand solo”.

13. FILME // “Bacurau”, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles

Domingas (Sônia Braga) nos bastidores do longa “Bacurau”. (Crédito: Reprodução/Instagram).

“A maior arma de Bacurau é a identidade”, disparou em coletiva de imprensa Wilson Rabelo, que dá vida a Plínio no premiado longa-metragem dos diretores recifenses Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, “Bacurau”.

Cena do enterro de Dona Carmelita. (Crédito: Divulgação).

A película que estreia nas telonas brasileiras no dia 29 de Agosto é uma produção franco-brasileira que mescla com maestria drama, faroeste, terror gore, fantasia, suspense e ficção científica. A trama é cuidadosamente costurada a partir da morte de Dona Carmelita, interpretada pela rainha Lia de Itamaracá, em uma cidadezinha localizada no sertão brasileiro. Dias depois, os habitantes percebem que a comunidade desapareceu da maioria dos mapas e uma série de acontecimentos estranhos começa a assustá-los.

O título da obra faz referência a como os pernambucanos chamam o último ônibus da madrugada em Recife e também a uma ave de hábitos noturnos muito comum na região, também chamada pelos povos indígenas que tinham a tupi como língua-mãe de wakura’wa.

Domingas (Sônia Braga) e Michael (Udo Kier) em cena de “Bacurau”. (Crédito: Divulgação)

Com Sônia Braga como Domingas, Udo Kier como Michael, Bárbara Colen como Teresa, Karine Teles como forasteira de moto, Silvero Pereira como Lunga e mais uma porção de gente talentosíssima — incluindo habitantes da própria comunidade — , o filme é um dos mais políticos (talvez premonitórios) e necessários quando se fala de cinema nacional. Porque traduz plenamente e enche por inteiro até inundar o conceito de resistência. Será impossível ver só uma vez! ❤

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Débora Stevaux
MECA // Informação, cultura, criatividade e festivais: um radar da cena cultural do Brasil e do mundo. @mecalovemeca

repórter de cultura & social media do @mecalovemeca que escreve porque acha que a arte é transformadora o suficiente para gerar impactos sociais positivos