Vozes de Brumadinho: “O carinho do MECA e o cuidado com o que é nosso é inigualável e indescritível”

Para ouvir, entender e aprender: o que os habitantes da cidade mineira de Brumadinho têm a dizer sobre o MECAInhotim, nosso maior festival

Paulo Fonsêcà no Instituto Inhotim. (Crédito: Reprodução/Instagram).

Quem são os moradores de Brumadinho e o que eles pensam sobre a situação da cidade e a realização do MECAInhotim, festival que acontece na região desde 2015? Foi a partir do questionamento do papel do MECA diante de uma comunidade que sempre nos acolheu tão bem, mas sofreu e ainda sofre as consequências do rompimento da barragem do Córrego do Feijão, que surgiu a série Vozes de Brumadinho.

O objetivo é dar voz aos moradores da cidade e compartilhar mensagens de persistência e esperança. Ninguém melhor do que aqueles que foram diretamente afetados pelos acontecimentos de janeiro para avaliar a situação local e refletir sobre a importância ainda maior que o MECAInhotim assume para a recuperação de Brumadinho.

O primeiro a compartilhar conosco seu depoimento e impressões sobre o nosso trabalho e a real situação da cidade é Paulo Fonsêcà Marinho Júnior, de 27 anos. O engenheiro mecatrônico é nascido e criado em Brumadinho, se formou pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG) e atualmente dá aulas de física e de inglês. Confira!

“Fui ao MECAInhotim descrendo da possibilidade de tal festival, e quando por lá cheguei foi real amor à primeira vista

1. Como você conheceu o MECA?
“A história é engraçada. Minha primeira edição foi também a primeira de vocês em Inhotim, ainda em 2015. Fui mediador em arte contemporânea no Inhotim por quase 5 anos, deixei o cargo apenas para poder ingressar na universidade, dessa forma em 2015 ainda tinha muitos amigos trabalhando por lá.
O comentário não era outro: teria show da dupla londrina AlunaGeorge em Brumadinho. Eu não conseguia acreditar, sempre amei o trabalho dos dois! Ouvia a música “Best Be Believing” na época quase 24 horas por dia. Fui ao MECAInhotim descrendo da possibilidade de tal festival e quando cheguei por lá foi amor à primeira vista. A vibe do festival, a forma como ele é conduzido, o carinho e o cuidado do MECA com o que é nosso é inigualável e indescritível. Desde a ‘surpresa MECA’ ainda em 2015, não mais faltei no festival. Vi AlunaGeorge, Jorge Ben Jor, Elza Soares e em breve vou ver Gil e Duda Beat (Ai, meu Deus!). Já tive oportunidade de estar em muitos festivais, mas falo com muita segurança: a magia e a forma que o MECAInhotim são conduzidas são inigualáveis.”

AlunaGeorge na primeira edição do MECAInhotim. (Crédito: I Hate Flash).

Atuei na linha de frente da divulgação dos desaparecidos, depois por semanas como voluntário recolhendo doações, levando a quem precisava, escutando e agindo. Brumadinho foi uma família, exatamente isso, família.”

2. Qual a importância do festival acontecer mesmo depois do rompimento da barragem do Córrego do Feijão?
“Até a data do festival terão se passado 4 meses. O que foi perdido não tem volta. A cidade está em luto desde então. Tem tristeza demais, tem luta demais. Para os que ficaram tem também vontade de falar, de seguir em frente, de agir. O MECAInhotim é uma forma de fazer voltar a funcionar as engrenagens da cidade e de mostrar que Brumadinho respira e insiste. Insiste em gente do bem e acolhedora, insiste em arte, insiste em vida. Por mais que os nossos corações ainda estejam aflitos após o rompimento da barragem, nós continuaremos indo à luta. Eu me vejo dentro de toda a complexidade do que a cidade passou e ainda passa, mas também enxergo e entendo aos meus olhos e de tantos amigos os sonhos ainda vívidos. O MECAInhotim também é sonho e oportunidade.
É oportunidade de fazer a cidade voltar a andar, a respirar. Arte também é necessário. Arte também é política e resistência.

“O MECAInhotim também é sonho e oportunidade. É oportunidade de fazer a cidade voltar a andar, a respirar.”

3. Você estava na cidade no dia em que tudo aconteceu? Se sente à vontade para me contar um pouco de como foi passar por isso?
“Estava. Atuei na linha de frente da divulgação dos desaparecidos, depois por semanas como voluntário recolhendo doações, levando a quem precisava, escutando e agindo. Brumadinho foi uma família, exatamente isso, família. Ainda no dia, com o desespero de não poder fazer nada e na vontade ajudar, escrevi um desabafo no meu Instagram que gostaria de compartilhar.

Agora, enxergo que ainda somos de luta e resistência, e acima de tudo que Brumadinho vive e que esta batalha está só começando.
Brumadinho Vive! Brumadinho Resiste
.”

4. O que você achou do lineup? Você está mais ansioso para ver quais artistas?
Vou chorar litros ao ver Duda Beat e Gilberto Gil no palco! O show do Castello também é maravilhoso, tanto é que eu já perdi a conta de quantos fui! Quero escrever uma carta para a Pitty dizendo o quanto ela foi sinônimo de força para mim desde sempre e, principalmente, em janeiro quando tudo aconteceu em Brumadinho. Essa potência dela foi uma luz no meu dia a dia e me permitiu fazer a diferença na vida daqueles que estavam precisando de mim naquele momento. A música da Pitty é a definição de resistência para mim, por isso vê-la ao vivo vai ser um sonho realizado.”

Esta entrevista foi feita pela repórter e social media Débora Stevaux. Segue a gente no Instagram? E no Twitter também?

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MECA // Informação, cultura, criatividade e festivais: um radar da cena cultural do Brasil e do mundo. @mecalovemeca

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