A greve dos caminhoneiros: 3 estudos, diferentes abordagens.

Ramon Fernandes Lourenço
MediaLABFOZ
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4 min readMay 31, 2018

O MediaLAB FOZ, além de realizar seus próprios estudos, acompanha as atividades de outros grandes laboratórios de análises de redes no país. Hoje traremos um pequeno apanhado da análise sobre a Greve dos Caminhoneiros realizada pela FGV e pelo LABIC.

O estudo da FGV compara as discussões no Twitter relacionadas à greve dos caminhoneiros aos dois maiores fenômenos discursivos nesta rede: “Este ano, apenas Lula e a morte de Marielle Franco tiveram impacto nas redes sociais da mesma dimensão”.

Lembra a dinâmica de discussões ocorrida nas manifestações de 2013, momento em que uma pauta específica, os 20 centavos de aumento na passagem de ônibus, se amplia em um coro coletivo contra a corrupção.

O estudo da FGV identificou a quebra com a dinâmica polarizada que vinha ocorrendo em discussões políticas, momentos em que dois lados eram facilmente identificados como os maiores grupamentos da rede. Isto quer dizer que não há um ou dois posicionamentos hegemonicos ou mesmo grandes consensos, embora o apoio a pauta dos caminhoneiros fosse uma linha comum dos 8 grupos identificados na rede.

O estudo na íntegra pode ser conferido no link: http://dapp.fgv.br/publicacao/greve-dos-caminhoneiros-o-debate-nas-redes-sociais/

Já o LABIC divulgou no dia 30/05, sua análise do movimento dos caminhoneiros.

O estudo do laboratório apresenta um comparativo por meio da análise das ocorrências de hashtags e termos sobre a greve dos caminhoneiros e sobre os pedidos de intervenção militar, para verificar se há alta co-ocorrência, o seja, grande correlação entre estas citações.

O estudo levado à cabo pelo Labic aponta:

“Tem muita gente querendo pegar carona na popularidade do movimento dos caminhoneiros!”

Leia o post completo em:

Vale ressaltar que apesar de os estudos utilizarem técnicas parecidas, como a coleta automatizada dos dados nas mídias sociais, análise de redes sociais e dos conteúdos dos textos, há diferenças nos períodos de coleta e também na própria análise dos dados apresentados.

Nós, do MediaLAB, coletamos os dados no Twitter entre os dias 24 e 25/05 com os seguintes termos: #EuApoioAGreveDosCaminhoneiros, caminhoneiros, greve. A pesquisa retornou um total de 1.093.024 tweets e 478.354 usuários únicos, ou seja, perfis envolvidos na discussão captada.

Montamos a rede com os 500 usuários mais ativos,

Analisar os principais perfis para identificar os clusters:

Verde: defende a greve mas sem viés politico claro.

A comunidade verde se constroi a partir do perfil de @rodrigosharpyon, com um perfil de apoio a greve dos caminhoneiros, com críticas ao governo Temer e aparentemente sem vinculação com partidos de esquerda ou direita.

Roxo: defende a greve com viés político de esquerda

A comunidade roxa já tem um viés mais politizado, utilizando as #ForaTemer, com diversas postagens relembrando as conquistas dos governos do PT e com muitas referências aos riscos de um retorno à ditadura militar. Os principais perfis são @mar_costacabral e @yarus13, ambos.

Azul: grupo à favor da greve e com viés claramente de direita

É o cluster mais denso, ou seja, que apresenta relações mais próximas entre seus agentes, por isso tem maior número de nós com alto grau de conexões. Tem forte vinculação com apelos religiosos, constantemente fazem referência ao Exército e aos militares e grande valorização da Operação Lava Jato e do juíz Sérgio Moro. Destacamos 3 agentes principais: @MBrasilOnline, @AruthCao e @profsandrag1.

Fato interessante é o que constatamos no principal nó desta rede.

@MBrasilOnline está com a conta temporariamente restrita, muito provalmente por utilizar bots para espalhar seus conteúdos. Ao navegar no perfil é possível ver uma grande quantidades de postagens em pouco tempo, o que é sinal claro de uso de robos gerando spams e inflando as conversações online.

Alaranjado: forte vínculo com a intervenção militar.

Este é um cluster pequeno, porém chama a atenção das fortes ligações construidas e sua proximidade com o cluster Azul, também de direita. Os principais nós e conexões alaranjados são defensores da intervenção militar são @MMucke e @LipeOsorio22.

Por meio de nossa análise constatamos os pontos elencados tanto pela FGV e pelo LABIC, que a alta polarização que vinha ocorrendo em outras controvérsias agora foi um pouco diluida, apesar de ainda se mostrar presente. Vemos também agentes que tentam manipular a agenda de discussão da greve para temáticas claras do embate direita x esquerda, principalmente com o uso de robôs nesta discussão.

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Ramon Fernandes Lourenço
MediaLABFOZ

Relações públicas na UNILA, mestre em Ciência da Informação e curioso sobre as formas como estabelecemos relacionamentos mediados pelas tecnologias.