3 recursos para ouvir a opinião das redes sociais (de graça)

Ou: Porquê daqui a pouco ninguém mais vai precisar de um especialista para fazer o tal do "monitoramento" na web

Gabriel Attuy
DeepContent

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Eu sou fã do IFTTT (If This Than That), um aplicativo que cria ações (que eles chamam de receitas) interligando seus outros apps e programas. Toda vez que eu sou taggeado em uma foto no Facebook, por exemplo, o IFTTT salva a imagem automaticamente em uma pasta no meu Dropbox e manda para outra pasta no meu celular. Quando eu adiciono um novo contato no meu celular uma planilha no Google docs é atualizada com a mesma informação para backup.

Por aí vai. É possível interligar mais de uma centena de canais — do Gmail ao GitHub ou apps WeMo que tornam a sua casa "inteligente" (apesar de que nem tudo está disponível no Brasil). E as "receitas" criadas por outros usuários estão disponíveis para consulta. Acho bacana dar uma olhada de vez em quando para ver o que as pessoas estão criando e como essas coisas podem ser úteis.

Na semana passada me deparei com uma receita que permite delimitar uma região geográfica em qualquer lugar do mundo e receber um e-mail com os posts do Instagram públicos feitos naquele lugar no dia. Ou receber um e-mail cada vez que um post novo é feito.

Estabeleci um perímetro na Praça dos Três Poderes em Brasília e nos últimos dias recebi no meu e-mail posts de deputados, senadores, assessores, perfis de partidos, turistas, gente tirando sarro da Dilma, reuniões com Michel Temer e visitas do governador e prefeito de São Paulo.

Tem muita ferramenta por aí que cobra caro para fazer algo similar. Muitas excelentes e que valem o que cobram, mas nem todo mundo precisa de todas as funcionalidades, tem orçamento ou volume para justificar o preço.

O Topsy, infelizmente, foi desativado e não está mais disponível (atualizado em dez/2016)

Outro recurso gratuito é o Topsy, uma ferramenta de pesquisa no Twitter mais robusta do que muitas pagas. Eles contam com todo o histórico de tuítes desde 2006, permitem buscas diretas por palavra-chave, segmentação por língua, tipo de conteúdo e até notificações por e-mail se você se logar.

A versão PRO não está mais disponível desde que o serviço foi comprado pela Apple em 2013 (dizem que a aquisição foi motivada justamente pela base de dados do Topsy no momento em que o Twitter começou a colocar algumas restrições ao uso do seu API), mas os recursos gratuitos ainda funcionam. Acompanhar conversas em tempo real é um dos fortes do Topsy.

"maioridade penal", "reeleição" e "reforma política" viraram assunto no Twitter no último mês

O Flocker é um recurso gratuito para análise de redes sociais no Twitter. A partir de uma palavra-chave a ferramenta começa a coletar em tempo real os tuítes relacionados e vai criando uma rede que relaciona os perfis envolvidos na conversa que mencionam um ao outro e retuítam.

Dá para identificar os perfis mais populares na conversa, ver quais são os links mais divulgados, ver uma nuvem de palavras e acompanhar a intensidade da discussão. Todo o conteúdo pode ser exportado em formato .gexp para manipular no Gephi, outra plataforma gratuita de visualização e análise de dados de redes. Usar esse último demanda alguns dias de aprendizado e testes, mas é um recurso poderoso para manipular essas informações, descobrir influenciadores, conexões entre grupos, ou medir o papel da mídia em uma discussão, por exemplo.

Pesquisa de 10 minutos pela palavra-chave "dilma" encontrou 226 tuítes
Rede de uma conversa (muito intensa) no Twitter no módulo de visualização do Gephi

Menos Facebook, mais análise

Quando o Facebook anunciou que não disponibilizaria mais informações de perfis públicos a partir de maio deste ano muita gente ficou na mão. Empresas que buscavam por queixas e reclamações postadas por consumidores em suas timelines não tem mais acesso a essa conversa. Políticos não conseguem mais identificar quem está gerando uma discussão envolvendo o seu nome ou distribuindo um post especialmente problemático. Muita gente falou da morte, do fim ou da crise do monitoramento.

Inclusive a gente, leia isso aqui depois:

O outro lado dessa conversa é que, se não podemos ler o que cada pessoa individualmente está falando, os recursos de análise (semântica, de redes, de discurso), inteligência, big data, jornalismo, filosofia, conhecimento de Game of Thrones e, enfim, cabeças pensando, passam a ser mais importantes.

E existe um terceiro aspecto que pode influenciar ainda mais no que vai acontecer com o tal monitoramento nos próximos anos. Assim como desenvolvemos a etiqueta do e-mail (CC para todos nunca mais) e estamos criando regras para o que devemos ou não divulgar nas redes sociais (especialmente depois que a sua mãe entrou no Facebook), aos poucos vamos nos familiarizando com a ideia de que a opinião social gerada nessas redes tem valor.

Começou com hits e page views, passou para likes, compartilhamentos e RTs, e daqui a pouco vai chegar ao ponto de analisar que obras são mais fotografadas no Instagram dentro de um museu para informar como uma exposição pode ser melhorada, por exemplo. Ou verificar os tuítes do outro lado da cidade para saber se está chovendo na faculdade e se você deve levar um guarda-chuva. Com o IFTTT já para fazer essas duas coisas, de graça.

Nesse mundo a opinião dos especialistas vai valer cada vez mais. Mas eles precisam ser verdadeiros especialistas, e não simples operadores de ferramentas. Ninguém mais precisa de um webdesigner para construir um site simples, bonito e eficiente. Mas os bons webdesigners continuam empregados.

Daqui a pouco ninguém vai precisar de um analista de redes sociais para dizer o que estão falando sobre a sua marca no Twitter. Quem souber capturar, analisar e transformar a opinião social em informação objetiva e valiosa vai sobreviver.

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