A orkutização do Facebook e a buzzfeedização do Medium

Alexandre Secco
DeepContent
3 min readJun 25, 2015

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Já deve ter ouvido isso: o Facebook está cada vez mais parecido com o Orkut. Estamos livres de gifs animados, de memes palavrosos e o controle de excessos é mais eficiente, porém aqui no Brasil o Face parece mesmo cada vez mais Orkut. Você gostaria de ver mais imagens interessantes, posts inspiradores e informação relevante, mas tromba a todo instante com correntes e bobagens, manifestações raivosas, sexistas, preconceituosas, fotos constrangedoras... Um pé no saco. Em parte, não me parece que os algoritmos do Facebook sejam tão eficientes como se pode esperar de uma das maiores redes de inteligência já criadas. Falo por mim, recebo menos do que gostaria e muito do que preferia não ver. E sobre o conteúdo, eu tenho uma teoria. A medida que avança e vai reunindo mais e mais pessoas o Face vai se parecendo cada vez mais com o Brasil e com a sua falta de educação, violência, seu erotismo à deriva, etc, etc… É isso aí, o Face é cada vez mais a nossa cara, MCs, domésticas, pedreiros, médicos bêbados, trabalhadores honestos, advogados espertos, políticos hipócritas, mamães histéricas, gays ressentidos — todos alegres torcedores da seleção 7x1, comedores de feijoada.

Finalmente, todos nós adoramos fórmulas prontas e isso também deve explicar a buzzfeedização do Medium. Você já deve ter visto por aqui: sete maneiras de subir em uma escada, as cinco formas mais eficiente de assistir TV, oito lições de quem subiu na vida, 17 monges contam como encontraram a luz……Curioso pois essa é um fórmula que começou a ser usada pela imprensa de papel e tinta nos tempos do Guaraná com rolha. Com essas listas numeradas os editores queriam dizer que "entre toda a informação disponível no mundo, aqueles "x" pontos haviam sido selecionados por serem indispensáveis para formação do leitor". Hoje o negócio aqui está mais bagunçado, mais parecido com diversão mesmo.

Mas afinal porque essa comparação entre Face, Orkut, Buzzfeed e Medium? Entramos nessas redes sociais e canais para viver experiências mais particulares e interativas, diferentes do que temos na TV e nos jornais. Mas ando inclinado a acreditar que o sucesso desses canais tende a pasteurizá-los, deixá-los todos mais ou menos parecidos. O sucesso do Buzzfeed depende da construção de uma audiência ampla, que justifique investimentos e dê retorno. O mesmo se aplicado ao Face e ao Medium. Naturalmente, quanto maior essa audiência, menos ela se parece com o seu grupo e mais com a média. A média gosta de listas, gifs animados e outras traquitanas. Por algumas décadas, os editores de jornais fizeram o trabalho de decidir o que deveríamos ler e o que não deveríamos em uma batalha diária pela sobrevivência. Editor que acerta agrada os eleitores e mantém o emprego, quem perde a mão da notícia, acaba perdendo também a cabeça. Francamente, adoro a web, mas também gostava do mundo dos jornais. Delícia pegar uma revista, fotonas de página dupla, textos bem escritos…Tempos que não voltam mais.

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