Políticos: hora de enfrentar a solidão nas redes sociais

Agora eles estão se preparando para invadir as redes sociais. As nossas!

Com a Lava Jato a grana para campanhas vai secar e os políticos já começaram a olhar para a rede de um jeito diferente. Vamos dar uma ajuda.

Alexandre Secco
DeepContent
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5 min readMay 13, 2015

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Uma das possíveis consequências da operação Lava Jato é o desaparecimento dos grandes financiadores de campanhas. Com uma perspectiva de verba curta no horizonte de 2016, alguns candidatos estão prestando atenção a internet pela primeira vez. Aleluia! Teoricamente é simples: um sitezinho, um perfilzinho no Facebook, uma conta no Twitter, quem sabe até Instagram, WhatsApp, Buzzfeed…..Gênio! De modo geral, produzir para a internet é mais barato, porém, construir audiências e engajamento na rede não é menos difícil do que na TV ou em outra mídia qualquer. Aliás, na campanha para a TV o candidato sempre pode pular sobre um eleitor desavisado no intervalo do programa da Ana Maria Braga. Na internet, você precisa convencer as pessoas a sair de casa para conferir o espetáculo que montou para persuadi-las a votar em você. Em um mundo repleto de ofertas e tentações, onde as novelas, os amigos do Face, as promoções do magazine, e tudo mais compete pela atenção do internauta, convencer um cidadão a clicar no site de um… po-lí-ti-co é uma tarefa realmente muito difícil. Quando eu ouço o deputado dizer que a internet não funciona, eu fico quieto, mas acho que ele sabe muito bem que a história é outra. Não existe nada de errado com a internet, o problema é que quase todos os políticos estão acostumados a um modelo de campanha que vai goela abaixo do eleitor. OK, ok, os programas de TV podem ser bem caprichados, mais isso não muda o fato de que são obrigatórios. Na rede você precisa fazer amigos, ser fiel, mostrar consideração antes de convidá-los a visitar sua casa para ouvir o que eventualmente tenha a dizer. Se conseguir, só terá uma única chance para causar uma boa impressão antes de um clique levar o sujeito para longe. Não acabou. Em seguida, terá que convencê-lo novamente, dessa vez a deixar de lado o universo lúdico da rede para prestar atenção às suas propostas e promessas. Propostas e promessas! Excitante, não? E o ciclo só estará fechado quando o seu visitante falar para um amigo sobre tudo que viu. Se ele falar bem, sua campanha vai crescer. Caso contrário, todo esse trabalho servirá apenas para ampliar o número de pessoas que não votarão em você. Exatamente: uma operação de alto risco. Fácil? Não. Nunca foi. É que os políticos têm um certo fetiche pela campanha digital do presidente americano Barack Obama em 2008. A web ajudou a arrecadar centenas de milhões, ajudou a promover milhares de eventos de apoio e é considerada um dos fatores decisivos em sua vitória. A outra parte da história é que a equipe digital de Obama tinha quase 300 pessoas, reuniu algumas das mentes mais brilhantes do vale do silício e trabalhou com um conteúdo pronto e acabado para ser consumido nas redes sociais: uma esperança, um jovem negro com uma mensagem pacifista, que falava direto aos jovens cansados de anos de guerra. Em resumo, a internet e as redes sociais não vão resolver o problema de ninguém que não ofereça aos internautas uma boa razão para uma visita, para ouvi-lo e contar para os amigos que gostou. E se tudo isso parece assustador, o susto pode ser ainda para os que resolverem ficar de fora. Para um número cada vez maior de pessoas, fugir da web é como fugir de debate. Então seguem alguns conselhos, reflexões e provocações (todos já testados) para aumentar as chances de sucesso de sua campanha digital.

Um conteúdo pronto e acabado para ser consumido nas redes sociais: uma esperança, um jovem negro com uma mensagem pacifista, que falava direto aos jovens cansados de anos de guerra

  1. Não vá ao Twitter depois de beber. Nunca.
  2. Um equívoco e um videozinho besta e sua campanha está destruída. Cuide das suas coisas e deixe as senhas em mãos seguras.
  3. Não finja. Ainda ouve rádio, faz anotações em bloquinhos e detesta Facebook? Tudo bem, sua presença na rede não precisa ser pessoal, precisa ser profissional.
  4. Prepare-se para apanhar. Na TV, nos seus comícios e na papelada você se acostumou a falar para plateia mudas, geralmente dóceis. A graça da web é que todo mundo pode falar, seu fãs e os outros.
  5. Contrate alguém com autonomia para falar por você. Defina limites de autonomia. É impossível fazer campanha e cuidar da aprovação de todos os posts em sites, Facebook, etc, etc…
  6. Com quem você quer falar? O que quer dizer? Não se engane pela aparente confusão, use a tecnologia para acertar.
  7. Antes de postar pense: alguém vai se interessar por isso? Alguém terá vontade de falar sobre isso para um amigo? Não trate seu canais digitais como mais uma alternativa para distribuir releases monótonos.
  8. Ouça os números (e respeite-os): você ouvia os especialistas quando não haviam os dados e a experiência era tudo. Não deixe de ouvi-los, mas perguntes sobre os dados e as estatísticas. No mundo digital tudo pode ser medido.
  9. Se não está no Google não está no mundo. Teste saber para saber se sua campanha vai digital vai bem. Só comemore se o seu nome aparecer na primeira linha do Google.
  10. Audiência e engajamento. Uma grande audiência é um cinema lotado. Um grande engajamento é um cinema lotado de pessoas interessadas no filme. É melhor algumas pessoas prestando atenção do que uma plateia sonolenta.
  11. A audiência certa. Google, Facebook e Twitter permitem a criação de anúncios extremamente segmentados, para você falar com quem realmente quer falar.
  12. Imagem é tudo. Imagens respondem por mais de 80% das visualizações no Facebook e Twitter.
  13. Qualquer smartphone grava imagens e vídeos com ótima resolução para internet. Obrigue seus colaboradores a registrar encontros e outros eventos que possam ser usados em seus canais.
  14. Vídeo de casamento. Quantos pessoas aguentam ver vídeos de casamento? E um grande sucesso de Hollywood? Uma trama sensacional e gente linda se esgota em uma hora e meia. Na web, o vídeo de um político com mais de três minutos não será visto por ninguém a não ser que traga alguma revelação estarrecedora, ou picante
  15. Não se convenceu a entrar para valer na internet? Dê um Google, pesquise nas redes sociais e descubra o que seus adversários estejam fazendo. Só decida depois dessa pesquisa.

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