JORNALISMO.
As respostas estão no além.

Alexandre Secco
DeepContent
Published in
3 min readJun 10, 2015

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Discussões sobre jornalismo costumam ser tão emocionais, generalistas, apelativas e imprecisas quanto a média do próprio jornalismo. Mas afinal de contas, do quê estamos falando quando nos referimos ao jornalismo? Sob um guarda-chuva assim tão amplo, qualquer coisa cabe e, teoricamente, qualquer conclusão pode estar certa. O jornalismo acabou, o jornalismo está mais vivo do que nunca, os robôs são o futuro do jornalismo, as pessoas não precisam mais de jornalismo, as pessoas serão cada vez mais dependentes dele… Está tudo certo pois cada uma dessas ideias se aplica a um tipo de coisa genericamente chamada de jornalismo. De qualquer forma, toda essa prosa é muito, digamos jornalística. Nunca vi engenheiros, médicos e advogados dizendo por aí que acabou-se a engenharia, a medicina e o direito. Mas jornalistas… foi só aparecer um blog e fecharem um jornal e pronto! A categoria envolveu-se em uma animada discussão sobre o seu próprio fim. E olha que isso já dura uns 20 anos. Realmente, somos mesmos uns... jornalistas! Brincadeiras de lado, uma pequena lista de representantes desse mundo maravilhoso. Tenho certeza de que podemos ficar em paz, pois um desses deve sobreviver à próxima novidade do Vale do Silício.

O The New York Times faz jornalismo.
A revista Caras faz jornalismo.
Veja faz jornalismo.
Arquitetos, engenheiros e pilotos de avião podem fazer jornalismo.
Folha de S.Paulo e Estadão fazem jornalismo.
Até os blogs do Paulo Henrique Amorim e Luis Nassif fazem jornalismo.
Mesmo que patrocinado pelo Getúlio Vargas, e mesmo que escrevesse só para o que pudesse agradá-lo, Samuel Wainer fazia jornalismo.
Dizem que os Diários Associados de Assis Chateaubriand eram usado para achacar políticos e empresários, mas ninguém discute que lá se fazia jornalismo.
Aqui no Medium muita gente diz que faz jornalismo.
E o Huff Post? É jornalismo.
O Jornal Bancário, do sindicato dos bancários do Rio, faz jornalismo, assim como se faz na Revista da Fiesp.
Jornalismo serve para publicações feitas em linotipos e computadores. Na verdade, o Jornalismo pode se valer até de mimeógrafos.
Uma fanzine (quem se lembra?) e um documentário de duas horas da CBS usam como matéria prima o jornalismo.
E jornalismo é jornalismo até mesmo quando não ouve o tal do outro lado. Jornalismo pode ser preguiçoso e despreparado.
Jornal que conta mentiras é mentiroso, mas continua sendo jornal.
Meninas ricas que recebem presentes de marcas de luxo para falar bem deles fazem jornalismo.
A redação "Minhas férias" também é jornalismo.
Jornalismo se faz em vídeo, áudio, no papel, em bytes, memes.
Buzzfeed é uma das mil melhores formas de jornalismo
Em 140 caracteres dá para fazer jornalismo.
Hoje até os robôs fazem jornalismo.
O pessoal que só escreve para falar bem do governo diz que faz jornalismo, assim como aqueles que só falam mal.
O que são as notícias e vídeos escabrosos divulgados pelo Estado Islâmico?
E vamos parar por aqui. Em resumo, quase todas essas discussões sobre o jornalismo tem um quê de esquizofrenia pois não estabelecem distinção entre o jornalismo imaginado por uns e o praticado pelos outros. Como se vê, é uma conversa bem ao gosto do jornalismo — pelo menos a um certo tipo de jornalismo.

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