O bicheiro Castor de Andrade: nas colunas sociais

Nesta eleição, mais ideias e menos marketing podem mudar o Brasil.

Alexandre Secco
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Os últimos grandes escândalos políticos ocorridos no Brasil têm origem comum: financiamento de campanhas. Dilma declarou gastos de mais de 300 milhões de reais em 2014. Pelas contas mais conservadoras, um valor igual teria corrido pelo caixa dois, o que daria em 600 milhões de reais. Cabe reforçar logo aqui que esses números do caixa dois são teorias, jamais provadas. Em todo caso, não é pouco. Nem aqui e nem na China. Equivale ao gasto anual de publicidade de mega anunciantes como Boticário e Colgate Palmolive. Só que há luz no fundo da urna. Pouca gente percebeu, mas as novas regras eleitorais já em vigor para as eleições deste ano têm força para injetar uma dose pesada de ânimo e moralidade nesse negócio.

Todo mundo sempre sentiu cheiro de peixe podre nessas histórias de financiamento de campanhas. Tradicionalmente, os maiores financiadores sempre foram também os grandes beneficiários de empréstimos subsidiados pelo BNDES e contratos de obras públicas. A JBS, o frigorífico que tem Tony Ramos como garoto propaganda, é um caso interessante. Desde que começou a tomar recursos do BNDES "a empresa já repassou R$ 463,4 milhões a políticos e partidos nas eleições de 2006, 2008, 2010 e 2014", segundo reportagem da Folha. Pega dinheiro com juro barato no banco público para reforçar seu caixa e tira do outro bolso para doar a partidos. Tudo dentro da lei. Na verdade, os sinais exteriores da malandragem nunca faltaram e várias vezes foram bem mais do que sinais. Em um caso simbólico, nos idos de 1987, a Folha de S.Paulo antecipou em um anúncio cifrado em seu caderno de classificados o vencedor da licitação para a construção da Ferrovia Norte Sul. Eram tempos românticos, quando o dinheiro da corrupção cabia em malas pretas que eram transportadas pelo território nacional. E entra governo e sai governo e o cheiro de peixe estragado continua no ar.

E aí Tony? Vamos fazer campanha?

Até a exibição das pilhas de provas e depoimentos colhidos na operação Lava Jato, toda essa gente andava por aí com o mesmo desembaraço dos bicheiros cariocas nos anos 90, que ostentavam riquezas sem ter que explicar onde guardavam seu caldeirão da sorte. Brilhavam em ternos brancos, em cima de carros alegóricos. Bicheiro era aplaudido de pé quando atravessava o sambódromo e depois aparecia em coluna social. Eram aplaudidos e amados como benfeitores. Justo eles, assassinos, corruptores, traficantes, a escória...

Mas eis que entre uma revelação e outra do juiz Sérgio Moro, o Congresso aprova uma reforma do sistema eleitoral que proíbe doação de pessoas jurídicas e reduz o tempo de campanha. Os operadores do sistema de financiamentos entram em uma espécie de estado catatônico, revezando sensações de desespero e esperança em um futuro político de mais ideias e acordos programáticos e menos marquetagem e alianças bastardas.

Há, sim, um sinal de esperança.

A nova lei eleitoral trouxe uma grande inovação. Desde já, os políticos já podem se apresentar como pré-candidatos sem que isso configure propaganda eleitoral antecipada. Além disso, segundo a nova lei, todos já podem divulgar suas posições pessoais sobre questões políticas e podem ter suas qualidades exaltadas, inclusive na internet ou em eventos com cobertura da imprensa. Ou seja, comportamentos que antes a lei tratava como crimes, agora tornaram-se a melhor oportunidade para a apresentação de pré-candidaturas e para preparação de uma campanha efetiva. O resultado esperado por esse dispositivo estimular candidatos a conversar mais com seu eleitorado, sem a pressão das urnas e de financiadores. Quem as tiver, poderá apresentar ideias. Uma das melhores intervenções já criadas em defesa de nosso sistema eleitoral.

Moro: o jogo mudou

Os políticos mais ligados já perceberam: daqui para frente só vai ganhar eleição quem souber fazer campanhas muito eficientes. Com o dinheiro limitado e o prazo reduzido, pequenos erros de planejamento e falhas de execução podem enterrar sonhos e anular anos de trabalho.

Eleições podem ser falhas, mas ainda são o que temos de melhor para construir democracias. Com melhores eleições faremos melhores democracias.

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