Quem não gosta das ciclovias é coxinha?
E quem gosta de ônibus de dois andares, de Ricardão, de minhocão…?
Com seu ambicioso projeto de construção de ciclovias, a prefeitura de São Paulo esticou pela cidade centenas de quilômetros de tapetes vermelhos. Já falaram que a escolha da cor tem a ver com o partido do prefeito, mas isso é uma grande bobagem. Na minha opinião essa escolha é para lembrar aos futuros ciclistas que eles serão tratados como reizinhos em uma cidade de ruas esburacadas e de ônibus demorados. Reizinhos, sim, mas por enquanto. Eu explico.
Quem vive em São Paulo sabe que a criatividade dos governantes para desviar a atenção dos problemas reais para as soluções imaginárias é inesgotável. Já tivemos até ônibus de dois andares e bonecos fantasiados de fiscais de trânsito para que intimidar os motoristas na marginal Tietê. Ficaram conhecidos por Ricardões e, naturalmente, viraram piada. Também já tentamos faixas exclusivas para motoboys e áreas exclusivas para a rapaziada aguardar o semáforo. Tudo isso sem falar que o governo federal baixava impostos da indústria e fazia de tudo para estimular a venda de carros, enquanto a prefeitura tira espaço do automóvel construindo faixas exclusivas para ônibus. Sim, qualquer alusão ao modus operandi dos planejadores de trânsito em São Paulo não ficaria completa sem a ligação Leste-Oeste, o elevado Costa e Silva, famigerado Minhocão! A balbúrdia e a falta de planejamento em São Paulo é tão grande que as obras do monotrilho, uma das maiores da cidade, foram suspensas porque nenhum engenheiro percebeu que o traçado da obra atravessa canais de águas pluviais. Como se um ortopedista imobilizasse a perna errada porque não pediu um Raio-X.
Agora, note bem: provavelmente ninguém, e muito menos eu, tem qualquer coisa contra ciclovias, faixas para ônibus ou mesmo Ricardões, desde que essas coisas façam a cidade andar melhor. Os paulistanos já vêm sendo maltratado há anos com muitas promessas e blá-blá-blá, pouco resultado e um tempo cada vez mais longo para chegar em casa. Criar uma malha de transporte em uma cidade grande e bagunçada como São Paulo, em um país que torra dinheiro na ineficiência e topa quase tudo para conquistar um ponto a mais no PIB é uma tarefa extremamente complicada e isso todo mundo deve entender. O que parece incompreensível é a ladainha da salvação, que na área de transportes já veio em rimas de corredores exclusivos, ônibus de dois andares, Minhocão e agora parece cantar o amor às ciclovias. Que Deus nos cubra de fé e paciência!
Mas…….Em cidades como São Paulo, esperar por discussões objetivas é querer demais. Parece que o governo se esforça para fazer de sua rede de tapetes vermelhos uma cruzada ideológica e ficamos com a impressão de que essas ciclovias já geraram mais manchetes do que pedaladas. Dias desses, o próprio prefeito usou o Twitter para alfinetar um sujeito que supostamente criticava as ciclovias chamando o cidadão insatisfeito de “coxinha”. Como se sabe, o termo é usado para designar um rico que reclama do governo. Ou seja, devemos entender que, na cabeça do alcaide, as ciclovias são uma espécie de intervenção urbana criada com o objetivo de interferir no desequilíbrio entre possuídos e despossuídos, pois quem não gosta delas é: coxinha! Deus do céu, quanta bobagem se diz quando não se tem o que dizer. É uma pena. Um assunto desse podia ser tratado com mais altivez.
Por tudo isso, continuo achando que os ciclistas devem aproveitar seus 13 minutos de fama e agradecer aos súditos e ao imperador da galáxia pelo tratamento que receberão até, provavelmente, as próximas eleições. Depois disso, a história recomenda que coloquem suas barbas de molho e aguardem a próxima ideia para as ciclovias.