Umberto Eco, o imbecil.
Pensei em fazer desse texto uma negócio bem ao gosto dos nossos tempos, ou seja, escrever sobre algo a respeito do que ouvi falar, ou que li no Facebook — o que dá mesma. Sem pesquisa. Sem buscar a fonte. Pois ouvi falar que o filólogo Uberto Eco teria afirmado que as redes sociais dão o direito à palavra a uma “legião de imbecis” que antes falavam apenas “em um bar e depois de uma taça de vinho, sem prejudicar a coletividade” Uau! História velha, eu sei. Considerando que as palavras ecoaram na internet, não sabemos se o ilustre intelectual também se inclui entre os tantos imbecis, mas isso não vem ao caso. Para mim, nosso amigo italiano pareceu um filólogo de segunda, embalado em uma polêmica de primeira. O engraçado é que vi um monte de gente louvando a sabedoria de Eco nas redes sociais. Onde mais? O que levanta outras dúvidas: esses partidários de Eco estão entre os imbecis, ou fazem parte de uma categoria separada?
"Será que excluir os tais imbecis das redes sociais e calar suas bocas ajudaria a fazer da Terra um planeta melhor para se viver?"
Desde a leitura de "O nome da rosa" eu não me detinha por tanto tempo sobre um trabalho de Umberto Eco. Até tentei o Pêndulo de Foucault, mas infelizmente esqueci meu exemplar na sala de espera do dentista. Sabemos que Eco é um cruzado na luta contra a imbecilidade. Porém, sabe-se também que os mais animados defensores de uma causa nem sempre são os mais preparados para exercer a tarefa. Será que excluir os tais imbecis das redes sociais e calar suas bocas ajudaria a fazer da Terra um planeta melhor para se viver? Duvido. Talvez nosso amigo europeu não saiba, mas aqui nos trópicos os governos adoram calar pessoas quando se sentem injustiçados por imbecis. É quase uma mania. Em lugares como a Venezuela e Cuba, quem ousa falar mal do grão-general acabam encarceradas, torturadas ou mortas. Graças aos milhões de imbecis que falam bobagens nas redes sociais essas sociedades ainda têm uma voz e isso não é pouca coisa.
"O detalhe é que fala quem quer e ouve quem tem interesse."
Realmente estamos produzimos imbecilidades em escala industrial: racismo, sexismo, pedofilia, mentiras, espionagem, complôs…memes de gatinhos e fotografias do Justin Bieber. É inacreditável a quantidade de bobagem em livre circulação. O detalhe é que fala quem quer e ouve quem tem interesse. Simples assim. O inteligentíssimo algoritmo do Facebook esconde meus amigos e entulha minha timeline com posts de gente que me curte mas eu não conheço. Mas isso é só um detalhe, pois sabemos que (em teoria) temos o poder para decidir que tipo de imbecilidade iremos consumir, ou produzir.
Há um outro ponto. O fato de milhões de imbecis poderem falar não significa que outros tantos vão ouvir. Na verdade, o chato desse história de redes sociais é que na maior parte das vezes as pessoas falam para pequenos grupos, os mesmos que encontram pessoalmente em casa, na escola e na igreja. É muito difícil se fazer ouvir quando existe tanta gente falando. O próprio Eco precisou de uma frase polêmica para virar notícia novamente, seus escritos e toda sua genialidade não bastaram para fazer dele alguém mais interessante do que uma foto de gatinho. Dureza.
Acho, em resumo, que Umberto Eco fez um comentário imbecil. Só isso. Um detalhe besta em um currículo brilhante.
PS.: Em todo caso, para tentar entender esse mundo, continuo com o Manuel Castells.