Dez regras para conversar melhor

Peri Barros
Meditacao Vipassana
8 min readOct 29, 2018

Celeste Headlee compartilha conosco dez regras bastante úteis para termos conversas melhores. “Saiam, conversem com as pessoas, ouçam as pessoas”, ela diz. “E, mais importante, estejam preparados para se surpreenderem”.

Muito bem, vamos levantar as mãos: quantos de vocês excluíram alguém no Facebook porque a pessoa disse algo ofensivo sobre política ou religião, ou criação dos filhos, alimentação?

E quantos aqui têm pelo menos uma pessoa a quem evitam simplesmente porque não querem conversar com ela?

Antigamente, para se ter uma conversa civilizada, tínhamos apenas de seguir o conselho de Henry Higgins em “My Fair Lady”: “Fale do tempo e de sua saúde”. Mas, hoje, com a mudança climática e o movimento antivacina, esses assuntos

não são mais seguros. Portanto, este mundo em que vivemos, um mundo em que toda conversa tem o potencial para se tornar uma discussão, onde os políticos não conversam uns com os outros, e onde até as questões mais triviais geram polarizações passionais tanto a favor quanto contra, não é normal. Pew Research fez um estudo com 10 mil americanos adultos e descobriu que, neste momento, estamos mais polarizados, estamos mais divididos, do que jamais estivemos na história.Estamos menos propensos a ceder, o que significa que não ouvimos uns aos outros e que tomamos decisões sobre onde viver, com quem nos casar e até como escolher nossos amigos baseados naquilo em que já acreditamos. De novo, isso significa que não estamos ouvindo uns aos outros.Conversar requer um equilíbrio entre falar e ouvir e, em algum momento, perdemos esse equilíbrio.

Em parte, isso se deve à tecnologia. Os smartphones que todos têm nas mãos, ou próximos o bastante para agarrá-los bem depressa. Segundo Pew Research, cerca de 33% dos adolescentes americanos enviam mais de 100 mensagens por dia. E é provável que quase a maioria deles prefira enviar mensagens aos amigos a conversar com eles pessoalmente. “The Atlantic” tem um artigo excelente de Paul Barnwell, um professor do ensino médio. Ele deu a seus alunos um trabalho de comunicação. Ele queria ensiná-los a falar sobre um tema específico sem usar anotações. E ele fala o seguinte: “Comecei a perceber…

Comecei a perceber que a competência conversacional deve ser a competência mais negligenciada que deixamos de ensinar. Os jovens passam horas todo dia lidando com ideias e pessoas através de telas, mas raramente têm a oportunidade de aprimorar suas habilidades de comunicação interpessoal.Pode soar como uma questão engraçada, mas temos de nos perguntar: “Existe uma habilidade mais importante no século 21 do que ser capaz de manter uma conversa coerente e tranquila?”

Meu ganha-pão é conversar com as pessoas: ganhadores do Nobel, caminhoneiros, bilionários, professores de jardim de infância, chefes de estado, encanadores. Converso com gente de quem gosto e com gente de quem não gosto. Falo com pessoas de quem discordo profunda e pessoalmente. E, ainda assim, tenho uma ótima conversa com eles. Por isso, gostaria de passar os próximos dez minutos ensinando como falar e como ouvir.

Muitos aqui já ouviram montes de conselhos sobre isso, coisas como “olhe nos olhos da pessoa,pense com antecedência em tópicos interessantes para discutir, encare, balance a cabeça e sorria para mostrar que está prestando atenção, repita ou resuma de volta o que acabou de ouvir”. Pois quero que esqueçam tudo isso. É tudo papo-furado.

Não há por que aprender a mostrar que estão prestando atenção se você estiver prestando atenção de fato.

Como entrevistadora profissional, uso exatamente as mesmas habilidades que uso em minha vida pessoal. Portanto, vou lhes ensinar como entrevistar pessoas, e isso, na verdade, vai ajudá-los a serem melhores “conversadores”. Aprender a ter uma conversa sem desperdiçar seu tempo, sem ficar entediado e, pelo amor de Deus, sem ofender ninguém.

Todos nós já tivemos ótimas conversas. Já as tivemos antes; sabemos como é. O tipo de conversa da qual você sai se sentindo envolvido e inspirado, ou que houve uma conexão real, ou que foi perfeitamente compreendido. Não há razão para que a maioria das interações não seja assim.

Assim, tenho dez regras básicas. Vou passar uma a uma com vocês, mas, honestamente, se escolherem dominar apenas uma delas, já vão conseguir ter conversas melhores.

Número um: não seja multitarefa. E não falo só de deixar o celular de lado, o tablet ou as chaves do carro, ou o que tiver nas mãos Quero dizer: esteja presente. Esteja naquele momento. Não fique pensando na discussão que teve com o chefe. Não pense no que vai comer no jantar. Se quiser sair da conversa, simplesmente saia da conversa, mas não fiquem metade dentro e metade fora dela.

Número dois: não fique dando lição. Se quiser dar sua opinião sem qualquer oportunidade para reação ou discussão, objeção ou evolução, escreva um blogue.

Há uma razão pela qual não permito analistas políticos em meu programa: porque eles são muito chatos. Se forem conservadores, vão odiar Obama, vale-refeição e aborto. Se forem liberais, vão odiar os grandes bancos, as companhias de petróleo e Dick Cheney. Totalmente previsíveis. E quem quer ser assim? Vocês precisam entrar numa conversa acreditando que têm algo a aprender. O famoso terapeuta M. Scott Peck disse que a escuta verdadeira requer deixar de lado a si mesmo. E, às vezes, isso significa deixar de lado sua opinião pessoal. Ele disse que, ao sentir essa aceitação, o locutor vai se sentir cada vez menos vulnerável e mais propenso a abrir os recônditos de sua mente para o ouvinte. De novo, partam do pressuposto de que têm algo a aprender.

Bill Nye: “Todos que você vai conhecer na sua vida sabem algo que você não sabe”. Eu vejo dessa forma: todo mundo é especialista em alguma coisa.

Número três: faça perguntas abertas. Neste caso, use uma dica dos jornalistas: comece as perguntas com “quem, o quê, quando, onde, por quê ou como”. Se você fizer uma pergunta complicada, vai receber uma resposta simples. Se eu perguntar: “Você ficou apavorado?”, você vai reagir à palavra mais poderosa da sentença, que é “apavorado”, e a resposta é “Sim, fiquei.” ou “Não, não fiquei.”.”Você estava com raiva?” “Sim, com muita raiva.” Deixe-os descrever; são eles que sabem. Tente perguntar coisas assim: “Como é que foi aquilo?” “Como foi passar por isso?” Porque assim eles vão ter de parar por um momento e pensar no assunto, e você vai obter uma resposta muito mais interessante.

Número quatro: deixe fluir. Isso significa que pensamentos vão surgir na sua mente e você precisa deixá-los passar. Frequentemente assistimos a entrevistas nas quais o convidado está falando por vários minutos e, aí, o entrevistador vira e faz uma pergunta que parece que veio do nada, ou que já foi respondida. Significa que o entrevistador provavelmente parou de ouvir, pois pensou numa pergunta realmente inteligente, e ele estava decidido a falar aquilo. E nós fazemos exatamente o mesmo. Sentamos para conversar com alguém e daí lembramos da vez que vimos Hugh Jackman num café.

E aí paramos de ouvir. Histórias e ideias vão vir até você. Você precisa deixá-las vir e deixá-las ir.

Número cinco: se você não sabe, diga que não sabe. As pessoas no rádio, especialmente na rádio NPR, têm plena ciência de que fica tudo gravado, então são cuidadosas antes de afirmar que são especialistas em algo ou afirmar que sabem algo com certeza. Façam isso. Melhor pecar pelo excesso de cautela. As palavras deveriam ter mais valor.

Número seis: não compare sua experiência com a deles. Se eles estiverem falando sobre a perda de um familiar, não comece a falar sobre quando você perdeu um familiar. Se estiverem falando sobre problemas no trabalho, não diga a eles o quanto você odeia seu emprego. Não é o mesmo. Nunca é.Todas as experiências são individuais. E, mais importante ainda, não se trata de você. Não precisa pegar aquele momento para provar como você é incrível ou quanto você sofreu. Uma vez perguntaram a Stephen Hawking qual era seu QI, e ele disse: “Não tenho a menor ideia. Pessoas que se gabam de seu QI são fracassadas”.

Conversar não é uma oportunidade de autopromoção. [- Como vai? — Leia meu blogue!}

Número sete: (Risos) tente não ser repetitivo. É paternalista e realmente muito chato. E tendemos a fazer isso demais. Especialmente em conversas no trabalho ou com nossos filhos, temos de fazer valer nosso ponto de vista, daí nós o repetimos sem parar. Não façam isso.

Número oito: passem longe dos pormenores. Francamente, as pessoas não ligam para os anos, os nomes, as datas, todos esses detalhes que você está lutando para se lembrar. Elas não ligam. Elas ligam para você. Elas ligam para como você é, o que vocês têm em comum. Então, esqueça os detalhes. Deixe-os de fora.

Número nove: esta não é a última, mas é a mais importante. Ouçam. Nem sei dizer quantas pessoas realmente importantes já disseram que ouvir talvez seja a habilidade mais importante que podemos desenvolver. Buddha disse, e vou parafraseá-lo: “Se sua boca estiver aberta, você não está aprendendo”. E Calvin Coolidge disse: “Ninguém nunca perdeu o emprego por saber ouvir”.

Por que não ouvimos uns aos outros? Número um: preferimos falar. Quando estou falando, estou no controle. Não tenho de ouvir algo que não me interessa. Sou o centro das atenções. Posso reforçar minha própria identidade. Mas há uma outra razão: a gente se distrai. A pessoa média fala cerca de 225 palavras por minuto, mas podemos ouvir até 500 palavras por minuto. Portanto, nossa mente está completando essas outras 275 palavras. E eu sei muito bem que exige esforço e energia realmente prestar atenção em outra pessoa, mas, se não consegue fazer isso, você não está numa conversa.São apenas duas pessoas bradando sentenças desconexas no mesmo lugar.

Temos de ouvir uns aos outros. Stephen Covey disse isso lindamente. Ele disse: “A maioria de nós não ouve com a intenção de entender. Ouvirmos com a intenção de responder”.

A regra número dez é a seguinte: seja breve.

[Uma boa conversa é como uma minissaia; curta o bastante para manter o interesse, mas longa o suficiente para cobrir o assunto. — Minha irmã]

Tudo isso se resume ao mesmo conceito básico, que é o seguinte: estar interessado nas outras pessoas.

Cresci com um avô muito famoso, e havia um tipo de ritual em nossa casa. As pessoas vinham conversar com meus avós e, depois que iam embora, minha mãe vinha e dizia: “Sabem quem era aquela pessoa? Ela tirou o segundo lugar no Miss América. Ele é o prefeito de Sacramento. Ela ganhou o prêmio Pulitzer. Ele é bailarino do balé russo”. Eu cresci meio que supondo que todo mundo tem algo escondido e incrível. E, honestamente, acho que isso fez de mim uma entrevistadora melhor.Mantenho minha boca fechada o máximo que posso, mantenho minha mente aberta e sempre estou preparada para me surpreender, e nunca fico desapontada.

Vocês façam a mesma coisa. Saiam, conversem com as pessoas, ouçam as pessoas e, mais importante ainda, preparem-se para se surpreenderem.

Obrigada.

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