É preciso ser macho para emascular Mad Max
Desta vez, George Miller esculachou pra valer... O diretor de “Mad Max — Estrada da Fúria” fez de seu protagonista mero apêndice de carne, no máximo uma prótese móvel nas mãos (ou na mão) de quem tem o poder de verdade: uma mulher.
Quer saber? George Miller acertou em cheio!
Mas errou no nome, já que este não é o quarto Mad Max ou coisa que o valha, está mais para o ‘Furiosa 1”. Fico pensando o que os australianos — para os quais o personagem original é uma espécie de homenagem ao outback — terão achado do drástico abandono do cromossomo y em favor de um X maiúsculo, fodão e belo: Charlize Theron. Mais sobre ela daqui a pouco.
‘Estrada da Fúria’ coloca tudo em movimento desde os primeiros segundos, e o recado é o seguinte: esta é mais uma distopia sadomasô, seca e poeirenta, sobre o que acontece depois do fim do mundo.
A impressão é de que não há diálogos, por que não dá pra ouvir nada a duzentos por hora, no deserto. Na verdade há, mas são poucos e eles frequentemente atrapalham, seja por que interrompem a narrativa visual (um assombro), seja por que nos lembram do inegável ridículo que há nesses vilões ególatras e megalomaníacos do cinema.
O ditador da vez é ‘Immortan Joe’, mistura da saudosa Cuca, do Sítio do Picapau Amarelo, com o inesquecível professor Emmet Brown (‘De Volta Para o Futuro’). Não dá pra sentir medo de um troço desses. Basta que ‘Immortan Joe’ abra a boca para que nós, em nossas poltroninhas, façamos o mesmo: ele esbraveja e nós bocejamos.
A legião de coadjuvantes vai no mesmo caminho: algumas fêmeas frágeis, outras nem tanto, motoqueiros acrobatas, soldados submetidos a altas doses de lavagem cerebral, psicopatas fortões, velhos sádicos, deformados, ou as duas coisas juntas. Nada de novo.
Mas a sensação não é a mesma quando entra em cena ‘Furiosa’, uma Charlize Theron amputada e solene, que resolve questionar as regras do pós-apocalipse. Ela simplesmente não compra essa história de que as mulheres, na startup bizarra de ‘Immortan Joe’, devem ser divididas entre máquinas parideiras e reservatórios de leite. Então, resolve fazer algo a respeito. Eis o filme.
Finalmente: o competente Tom Hardy é Mad Max, e é aí que está o problema. No cinema ou na vida, quando alguém começa uma frase com “o competente fulano…”, boa coisa não é. Neste caso, longe de ser culpa dele. Tom Hardy é ótimo, é legal, minimalista e tal, constrói muito com pouco… Mas o longa, como foi dito antes, não é sobre Max. Talvez a sequência seja, se houver uma. Enquanto isso, como diria um outro soldado, quem manda nessa porra aqui é a Furiosa!