Resumo do mês

Janeiro

Matheus Massias
18 min readFeb 2, 2014

Janeiro foi um bom mês em filmes para mim, embora dez a menos em relação a janeiro do ano passado. Dos cinquenta vistos, quase todos foram inéditos, só uns dois ou três filmes eu não tinha assistido previamente. Vi filmes bastante diversificados, com uma abrangência de países. No mais, completei, de certa forma, a filmografia do irmãos Coen, me restando apenas Inside Llwelyn Davis.

01. O 3º Homem (The Third Man, 1949, Reino Unido, Carol Reed) — ****

02. O Império dos Sentidos (Ai no korîda, 1976, Japão/França, Nagisa ôshima) — ***

03. Todos os Homens do Presidente (All the President’s Men, 1976, EUA, Alan J. Pakula) — ****

04. A Balada do Soldado (Ballada o soldate, 1959, União Soviética, Grigoriy Chukhray) — ****

05. Der neunte Tag (Der neunte Tag, 2004, Alemanha, Volker Schlöndorff) — **

06. Alucinação de Ulisses (Ulysses, 1967, Reino Unido, Joseph Strick) — ***

07. Blom (Bloom, 2003, Irlanda, Sean Walsh) — *

08. Cría Cuervos (Cría Cuervos, 1976, Espanha, Carlos Saura) — ****

09. Faça a Coisa Certa (Do the Right Thing, 1989, EUA, Spike Lee) — ****

10. Ilsa, a Guardiã Perversa da SS (Ilsa: She Wolf of the SS, 1975, EUA, Don Edmonds) — **

11. O Martírio de Joana D'Arc (La passion de Jeanne d’Arc, 1928, França, Carl Th. Dryer) — *****

12. Planeta Fantástico (La planète sauvage, 1973, França, René Laloux) — ***

13. Man tam (Man tam, 2013, China, Johnnie To) — ***

14. Du zhan (Du zhan, 2012, China, Johnnie To) — ****

15. Sangue de Um Poeta (Le sang d’un poète, 1932, França, Jean Cocteau) — ***

16. Cinema Paradiso (Nuovo Cinema Paradiso, 1988, Itália, Giuseppe Tornatore) — *****

17. Faca na Garganta (The Jezebels, 1975, EUA, Jack Hill) — **

18. A Primeira Noite de um Homem (The Graduate, 1967, EUA, Mike Nichols) — ****

19. A Insustentável Leveza do Ser (The Unbearable Lightness of Being, 1988, EUA, Philip Kaufman) — ***

20. O Selvagem (The Wild One, 1953, EUA, Laslo Benedek) — **

21. Tabu (Tabu, 2012, Portugal, Miguel Gomes) — ***

22. A Garota de Lugar Nenhum (La fille de nulle part, 2012, França, Jean-Claude Brisseau) — **

23. Era uma Vez em Tóquio (Tõkyô monogatari, 1953, Japão, Yasujirô Ozu) — *****

24. O Som ao Redor (O Som ao Redor, 2012, Brasil, Kleber Mendonça Filho) — ****

25. História de Amor no Texas (Ain’t Them Bodies Saint, 2013, EUA, David Lowery) — ***

26. RoboCop — O Policial do Futuro (RoboCop, 1987, EUA, Paul Verhoeven) — ***

27. O Âncora: A Lenda de Ron Burgundy (Anchorman: The Legend of Ron Burgundy, 2004, EUA, Adam McKay) — ***

28. Meu Malvado Favorito (Despicable Me, 2010, EUA, Pierre Coffin/Chris Renaud) — ***

29. Meu Malvado Favorito 2 (Despicable Me 2, 2013, EUA, Pierre Coffin/Chris Renaud) — ***

30. Barton Fink — Delírios de Hollywood (Barton Fink, 1991, EUA, Joel Coen/Ethan Coen) — ***

31. Na Roda da Fortuna (The Hudsucker Proxy, 1994, EUA, Joel Coen/Ethan Coen) — **

32. O Homem que Não Estava Lá (The Man Who Wasn’t There, 2001, EUA, Joel Coen/Ethan Coen) — ****

33. Ninfomaníaca (Nymphomaniac, 2013, Dinamarca/Alemanha/França/Bélgica, Lars von Trier) — ****

34. O Lobo de Wall Street (The Wolf of Wall Street, 2013, EUA, Martin Scorsese) — *****

35. As Diabólicas (Les Diaboliques, 1955, França, H. G. Clouzot) — ****

36. O Amor Custa Caro (Intolerable Cruelty, 2003, EUA, Joel Coen/Ethan Coen) — **

37. Matadores de Velhinha (The Ladykillers, 2004, EUA, Joel Coen/Ethan Coen) — **

38. Um Homem Sério (A Serious Man, 2009, EUA, Joel Coen/Ethan Coen) — ***

39. Perseguidor Implacável (Dirty Harry, 1976, EUA, Don Siegel) — ***

40. Vida Sem Destino (Gummo, 1997, EUA, Harmony Korine) — ***

41. Coração de Cristal (Herz aus Glas, 1976, Alemanha Ocidental, Werner Herzog) — **

42. Close-up (Nema-ye Nazdik, 1990, Irã, Abbas Kiarostami) — ****

43. Rush: No Limite da Emoção (Rush, 2013, Alemanha/Reino Unido, Ron Howard) — ****

44. Mônica e o Desejo (Sommaren med Monika, 1953, Suécia, Ingmar Bergman) — ***

45. Spring Breakers: Garotas Perigosas (Spring Breakers, 2012, EUA, Harmony Korine) — ***

46. As Damas do Bois de Boulogne (Les dames de Bois de Boulogne, 1945, França, Robert Bresson) — **

47. Sympathy for the Devil (Sympathy for the Devil, 1968, Reino Unido, Jean-Luc Godard) — ***

48. Gosto de Cereja (Ta’m e guilass, 1997, Irã, Abbas Kiarostami) — ****

49. Tatuagem (Tatuagem, 2013, Brasil, Hilton Lacerda) — ***

50. O Dia da Desforra (La resa dei conti, 1966, Itália, Sergio Sollima) — ****

Um dos filmes mais importantes para o cinema inglês, O 3º Homem (1949) é uma grande obra de mistério. Ambientado numa Áustria do pós-guerra, onde a cidade é dividida entre várias nações, o filme gira em torno da morte de um homem, e dos outros três que estiveram por perto durante a morte dele. O homem morto, em questão, é vivido por ninguém menos que Orson Welles, que demora um tempinho para entrar no filme, através de um plot twist, mas sua aparição é fundamental para a conclusão do filme. Em termos técnicos de filmagem, o diretor Carol Reed foi lembrado (e gozado, diga-se de passagem) pelo uso do Dutch angle, que consiste em captar uma cena de modo oblíquo, a fim de passar uma ideia de tensão, preocupação, suspense, que é o que o filme proporciona. O Império dos Sentidos (1976) é um daqueles filmes que se encontram em listas de filmes polêmicos, e não é pra menos: foi primeiro filme da história do cinema a mostrar uma ereção masculina e felação. Fechado numa relação doentia de amor e sexo, o filme explora o corpo e o prazer, com ótimas atuações e um desfecho incrível. Todos os Homens do Presidente (1976) retrata o polêmico caso Watergate, numa incrível narração de fatos, a velocidade do filme lembra até um pouco o ritmo de um Scorsese; grandes atuações de Robert Redford e Dustin Hoffman; grande edição. A Balada do Soldado (1959) é um lindo romance de guerra, retrata tanto as percalços dela, como os sentimentos que a superam, através do amor, da empatia. O Nono Dia (Der neunte Tag, 2004) é outro filme que mostra os reflexos da guerra, dessa vez em Dachau, um campo de concentração alemão; e a provação de caráter e fé de um padre para com o sistema nazista e suas próprias convicções. Alucinação de Ulisses (1967) era um filme que eu estava para ver desde o ano passado, quando estava escrevendo meu TCC sobre Ulysses de James Joyce; a tarefa mais árdua desse filme é, creio, a criação de um roteiro: como condensar dezoito episódios, ao longo de um extenso livro que Ulysses é — há passagens infilmáveis, ou como diria Truffaut, não existe nada que não dê para filmar, tudo depende da capacidade do diretor; e é o que o filme tenta, de forma inconsciente, provar. Depois de Alucinação de Ulisses, passei para a outra versão da mesma história, Bloom, de 2003, filme péssimo, fotografia pior ainda, decorrente de algo na filmagem que eu não sei explicar exatamente, mas que qualquer leigo poderia detectar; e o desafio persiste, o roteiro, o filme segue um caminho um pouco diferente do anterior, de 1967, explorando uma ordem não-cronológica dos fatos. Cría Cuervos (1976) é um filme extraordinário que mostra a infância através de uma ótica bem forte e dramática, além de atuações infantis incríveis, algo que não deve ser nenhum pouco fácil de se conseguir. Faça a Coisa Certa (1989) foi (eu acho), tardiamente, o primeiro filme que vi do Spike Lee, diretor norte-americano negro que é convicto em suas perspectivas no que tange o ideal e o discurso negro. Filme do final da década de 80, mostra o conflito social entre brancos em negros em Bed-Stuy, no Blooklyn; dirigido e atuado por Lee, o filme tem planos maravilhosos, além de atuações em improviso. Ilsa, A Guardiã Perversa da SS (1975) é um daqueles filmes de explotation que você só vê pra se divertir das tosquices mostradas, nesse caso, uma explotation nazista.

Maria Falconetti em O Martírio de Joana D’Arc (1928).

O Martírio de Joana D’Arc (1928) vai ser um filme que nunca vou esquecer. O uso exacerbado de closes nos rostos dos personagens, principalmente no de Joana D’Arc, é um dos modos que o diretor dinamarquês Carl Theodore Dryer tem de fazer o expectador sentir na pele o que Joana D’Arc sentiu. Forte e intenso, o filme exprime toda a dor que alguém um dia pôde passar das telas do cinema para quem assiste. Impecável atuação de Maria Falconetti. Planeta Fantástico (1973) é uma animação lisérgica que retrata a vida e a questão do poder em um planeta não tão diferente do nosso. Traduzido para o inglês como Blind Detective, Man tam (2013) foi o primeiro filme que vi do cineasta chinês Johnnie To, considerado um dos melhores do ano pelo críticos da APJCC (Associação Paraense de Jovens Críticos de Cinema); o filme tem um ritmo peculiar e mistura os gêneros (ação, comédia, suspense) de forma bem perspicaz. Em seguida, vi Drug War (Du zhan, 2012), também de Johnnie To, só que mais focado no gênero policial; o filme também traz um ritmo bem peculiar, tanto nas armações, quanto nas cenas de ação, envolvendo tiroteio e perseguição. Sangue de Um Poeta (1932) é um daqueles filmes essenciais numa lista de filmes surreais. Cinema Paradiso (1988) é uma das mais bonitas homenagens ao cinema, mostrando historicamente e cronologicamente a relação de Totò com o cinema, além da realidade social-religiosa como a censura de cenas de beijos nos filmes exibidos, o papel do projecionista, a magia que é projetar o filme na parede de uma casa e comportar os expectadores numa pração (que não é!) pública. Lindo filme, linda homenagem, além de uma linda e terna história de amor também. Faca na Garganta (1975) foi outro filme de explotation que vi esse mês, dessa vez mostrando um gangue feminina e as consequências de intrigas no amor/amizade; detalhe: Jack Hill, diretor do filme, estudou cinema junto com Francis Ford Coppola. A Primeira Noite de um Homem (1967), outro filme que vi esse mês com o Dustin Hoffman, é uma comédia bem construída, com planos idem; detalhe para o diretor Mike Nichols, que descobri depois ter dirigido filmes como Lobo (1994), um filme que eu adorava quando criança, e Closer: Perto Demais (2004), um dos poucos filmes sérios e bons de romance. A Insustentável Leveza do Ser (1988) pode ser também considerado, ao lado de Closer, um filme de romance que é ao mesmo tempo bom e sério, com atuações de atores que seriam mais tarde considerados um dos melhores de sua geração. O Selvagem (1953) é um filme mediano, estrelado por Marlon Brando, como o líder de uma gangue de motocicletas.

Tabu (2012), filme português, foi outro filme que vi no circuito de melhores do ano da APJCC, no Cine CCBEU, mas que também entrou em várias outras listas. Filme com tocante narração, remonta bastante o que é a oralidade, e o ponto de vista. A fotografia em preto e branco também é um destaque. Outro filme que estava na mostra de melhores do ano da APJCC foi A Garota de Lugar Nenhum (2012), filme que é negativamente confuso sobre o que quer retratar, deixando fluir filosofia, questões da vida, mistério e paranormalidade, além de atribuir nu gratuito de forma desnecessária.

Conflito de gerações.

Uma História em Tóquio (1953) é um filme excelente do diretor japonês Yasujirô Ozu. Mostra o conflito de gerações e a relação em família, entre os pais e os filhos, as agruras de envelhecer; o filme mostra também a mudança paisagística de Tóquio, uma cidade em crescimento, com fábricas e novas tecnologias. Ozu apresenta um novo estilo de filmagem, quase rente ao chão, para pegar os personagens sentados. O Som ao Redor (2012) foi o filme que ficou em primeiro lugar, entre os melhores do ano de 2013, segundo os críticos da APJCC, eu escrevi sobre o filme aqui. Ain’t Them Bodies Saints, traduzido como História de Amor no Texas (2013), traz em filme uma belíssima fotografia, sempre recheada com raios de sol, e um panorama rural do Texas bastante agradável, se não fosse pela índole dos moradores de lá; o filme traz a grande atriz Rooney Mara, que não dá um de seus melhores espetáculos, mas vale a pena assistir. RoboCop (1987) foi outro filme que marcou minha infância, eu tinha o VHS dele e assistia com uma certa frequência, e poder rever o filme depois de tanto tempo foi uma experiência muito legal. Havia baixado o filme para ver antes de ir assistir a nova versão do José Padilha, no entanto, o Cine Líbero Luxardo decidiu exibi-lo através de um novo grupo, o 100Grana, sendo exibido dublado, assim como fora na Sessão da Tarde. RoboCop é uma prisma de violência, mas também traz questões políticas (não que a violência em si não seja), como a privatização, além de mostrar como eram as propagandas de TV nos anos 80. O Âncora: A Lenda de Ron Burgundy (2004) foi um dos filmes mais legais de comédia que gostei de ver recentemente, traz o carismático Will Ferrell como o âncora de um programa de TV. Stay classy, San Diego. Seguindo o gênero comédia, vi Meu Malvado Favorito (2010) e Meu Malvado Favorito 2 (2013), animações bem legais, que por traz da vilania, mostram a importância da família, abordando a adoção como tema.

Continuando a filmografia dos irmãos Coen, retomei por Barton Fink (1991), protagonizado por John Turturro, ao lado de John Goodman, dois favoritos dos irmãos. Barton Fink foi um filme que fui ver não esperando toques de comédia, como se não conhecesse os irmãos Coen… Levemente baseado nos percalços dos dois, do bloqueio criativo deles para o bloqueio criativo da personagem de Barton Fink, rendeu os prêmios de melhor ator a Turturro e melhor diretor a Joel, além de levar a Palma de Ouro. O filme retrata a vida e as dificuldade dos roteiristas em Hollywood, além de mesclar os gêneros também. Em seguida, fui para Na Roda da Fortuna (1994), um filme que já traz uma das marcas registradas de direção dos irmãos, como o uso de elementos redondos, ou que giram.

Billy Bob Thornton em O Homem Que Não Estava Lá (2004).

O Homem Que Não Estava Lá (2004) é quase uma homenagem ao cinema noir, embora o filme tenha sido gravado digitalmente (o que só dá pra rodar colorido) e depois convertido para preto e branco; trama em volta de um crime, muitos cigarros, uma femme fatale não tão fatal, e peculiar toque de comédia que só os irmãos Coen sabem proporcionar.

Os irmãos Coen no set de filmagem com Billy Bob Thornton e Michael Badalucco.

Agora, os únicos dois filmes que vi no cinema comercial esse mês: Ninfomaníaca (2013) e O Lobo de Wall Street (2013). E, diga-se de passagem, dois grandes filmes.

Gozando. Apenas.

Ninfomaníaca é, de longe, o filme mais acessível de Lars von Trier; com uma narrativa clara, e dividida em capítulos/partes (uma das marcas do diretor), o filme completa a trilogia da Depressão, precedido de Anticristo (2009) e Melancolia (2011). O diretor, envolvido com o movimento do Dogma 95, criado em 1995, abrange várias características ortodoxas ao modo de fazer cinema. Quase (?) sempre polêmico, tanto nos filmes, como na vida pessoal, Lars von Trier discorre sobre ninfomania de uma forma bem sincera e verossímil, com atores carimbados já no elenco do diretor, e uma atuação de Uma Thurman de ficar extasiado e não acreditar que aquilo está realmente acontecendo, o diretor também traz Shia LaBeouf e a jovem(como a jovem Joe, protagonista) Stacy Martin. Cheio de metáforas ao sexo, como pescaria, por exemplo; Lars von Trier divide o filme entre a narração de Joe (Charlotte Gainsbourg) e as elucubrações de Seligman (Stellan Skarsgård). Com vários flashbacks e variação de gravação, tendo, por exemplo, um capítulo em preto e branco, o filme ainda tem a cara de Lars von Trier, só que um pouco mais velha.

Leonardo DiCaprio, como Jordan Belfort, em O Lobo de Wall Street (2013).

O Lobo de Wall Street é um filme sobre dinheiro, sim; mas além de tudo, é um filme sobre ambição, e não só de Jordan Belfort (Leonardo DiCaprio), é a ambição de um senhor de 71 anos em plena forma: Martin Scorsese. Carreira invejável e muito bem sucedida, tanto na crítica quanto no público, Scorsese traz para as telonas uma epopeia do dinheiro, estruturada a partir de muitas drogas, mulheres, e sexo (sim, acho que tem até bem mais do que em Ninfomaníaca). Como de costume, o filme é longo, durando três horas, três horas frenéticas que acompanham Belfort e seus seguidores, com direito a narração em off e incríveis quebras da quarta parede, quando DiCaprio vem em direção a tela e complementa aquilo que vem falando em off durante a cena. Simplesmente incrível. Muito bem editado, e nunca perdendo o fôlego, O Lobo de Wall Street é outro filme que merece muito ser visto.

As Diabólicas (1955) é um daqueles filmes que se vê e crê que é do Hitchcock, caso você não saiba previamente quem é o diretor. Henri-Georges Clouzot, diretor francês, traz pro cinema uma incrível história de amor e trapaça, em que o expectador é feito de bobo, até mesmo depois que o filme acaba. Continuando os filmes dos irmãos Coen, assisti O Amor Custa Caro (2003), um filme, de certa forma, medíocre. Trazendo George Clooney e Catherine Zeta-Jones no elenco principal, o filme não promete nada com isso, com um roteiro fraco e atuações medianas, O Amor Custa Caro é um dos filmes em que os irmãos deixam se levar pro lado ruim de sua filmografia. O mesmo acontece em Os Matadores de Velhinhas (2004), que traz Tom Hanks e que também não promete nada com isso, o ator interpreta um picareta com sotaque britânico e com gostos pra lá de excêntricos. Mesmo com filmes ruins, os irmãos ainda assim conseguem imprimir suas marcas, como o uso do ecrã panorâmico (não está relacionado com a proporção de tela, e sim o plano) para término de cenas, e os zoom-in nos rostos das personagens em momentos de tensão ou espanto. Um Homem Sério (2009) talvez seja um dos filmes mais pessoais do irmãos Coen, e que também seguem a linha de auteur que eles têm; o filme se passa num passado remoto, algum ano da década de sessenta, o ambiente judaico familiar, e aquele tom de comédia que nunca pode escapar. Ao contrário dos outros dois filmes comentados anteriormente, Um Homem Sério traz uma fotografia apreciável e personagens mais autênticas. Perseguidor Implacável (1976) é um tipo de filme que qualquer pessoa já deve ter visto antes: perseguição, o policial implacável e destemido atrás do cara louco que comete atrocidades e sempre consegue escapar, mas que no fim vai ter o que merece. Estrelado por Clint Eastwood, no papel do perseguidor implacável, o filme segue uma linha de ação previsível, mas que não é chata, aliás, a noção de filme com este tipo de ideia devia ser nova na época. Gravado com muitas externas, e com bastante cenas acontecendo a noite, o filme pode pecar às vezes por isso, mas com uma grande atuação de Harry Guardino, o antagonista. Fica também no filme a ânsia de saber porquê Harry (Clint Eastwood) é conhecido pelo epíteto dirty.

Poster de Gummo(1999).

Gummo (1997) foi o filme que chamou a atenção primeiramente pelo pôster do filme. Estreia do diretor Harmony Korine, um dos criadores do polêmico Kids (1995), o filme deixa uma impressão bem forte depois que acaba. Você fica confuso, e acha que aquilo tudo foi uma grande bobagem sem pé, nem cabeça. Construído a partir de vários sketches, o filme parece ser estruturado em meio de vignettes desconexas, mas não é isso exatamente o que acontece. A história, na verdade, retrata a vida de jovens após um tornado ter passado pela cidade de Xenia, Ohio. Gummo, tendo Vida Sem Destino como título brasileiro, é um filme que pode realmente não deixar pistas do que se quer retratar, mas em nenhum momento chega a ser niilista. O filme traz partes que acredito terem sido gravadas a base do improviso, o diretor também mescla o filme com o uso de cenas gravadas com câmera caseira, daquelas que todo americano da década de 90 tinha. Coração de Cristal (1976), filme do diretor alemão Werner Herzog, entrou na minha watchlist quando fui ver Os Anões Também Começam Pequenos (1970) no cineclube do IAP e descobri que ele tinha sido gravado com atores hipnotizados. E, realmente, além de atores hipnotizados, o filme também lhe hipnotiza, e dá quase vontade de dormir. Salvo pelas paisagens naturais retratadas, uma das marcas do diretor, o filme talvez seja um dos que passam despercebidos na filmografia do Herzog. Close-up (1990), filme do diretor iraniano Abbas Kiarostami, é uma espécie de filme que mostra a paixão sobre o cinema. Gravado com variações de vídeo, e traduzido intencionalmente como Close-up, o filme narra, de forma não cronológica, o caso do homem julgado por ter se passado por um famoso diretor. Ótimas atuações, e grande direção. Rush (2013) foi um dos filmes de 2013 que eu deveria ter assistido em 2013. Dirigido por Ron Howard, que tem no currículo Uma Mente Brilhante e A Luta pela Esperança, Rush, baseado em fatos reais, traz o confronto automobilístico entre o austríaco Niki Lauda e o inglês James Hunt. Grande filme, com nuances fora e dentro das pistas, mostra a dicotomia da vida dos corredores; coloca em cena o poliglota Daniel Brühl, que usou uma prótese para interpretar Niki Lauda. Sendo um filme sobre corrida, seria de praxe achar que ele apelaria para alguns clichês do gênero, por sorte foi dirigido por um bom diretor. Mônica e o Desejo (1953) é um bom filme do diretor sueco Ingmar Bergman, mas traz poucas características do diretor como auteur, uma delas é não ter escrito o roteiro, um dos pontos mais fortes de Bergman. O filme retrata a juventude e seus impulsos, e suas amargas consequências.

Spring Breakers.

Spring Breakers (2012) é o segundo filme que vejo do diretor Harmony Korine, e ele soa, do começo ao fim, como um mantra, onde spring break é a palavra de ordem. Um filme onde a diversão é o meio e o fim; e spring break fica soando nos nossos ouvidos como uma oração, sempre repetindo, em loop. Do sagrado, ao profano, é como uma das garotas chega em cena, Faith (Selena Gomez), que não podia ter um nome mais irônico, e ao mesmo tempo, tão justo; é a primeira a se arrepender dos atos de diversão, e esse arrependimento (ou medo) gira como um reality show, ela é a primeira eliminada, é a primeira que chora para ir para casa. Toda diversão tem um preço, para começar e para terminar, e as quatro garotas mergulham na diversão em busca de diversão. Harmony Korine mantém sua mão, a variação de formato de gravação, onde cenas em câmera lenta são exploradas ao máximo, e a narração em off ilustra os momentos de diversão, violência, dúvida, diversão. As cores em Spring Breakers adquirem um tom especial também, destaque para a cena final onde duas das garotas reminiscentes e mais Alien (James Franco) aportam na casa de Archie (ex-amigo, inimigo) de Alien; o caminho no trapiche remonta um gráfico de vídeo game, o fundo rosa, os biquínis em tom amarelado e os capuzes em azul, é quase um arco-íris para dizer que se molhar na chuva foi bom. As Damas do Bois de Boulogne (1945), filme do diretor francês Robert Bresson, é uma trama feita a partir de um amor forjado, onde um triângulo amoroso pode ter uma de suas partes desfeitas.

Jean-Luc Godard e Mick Jagger.

Sympathy for the Devil (1968) é um documentário que retrata, em primeiro plano, o desenvolvimento e progresso da célebre canção dos Rolling Stones, Sympathy for the Devil, lançada em 1968 no álbum Let It Bleed. O segundo plano do filme é, poderíamos assim inferir, as vignettes que Godard insere, intercalando com várias partes de desenvolvimento da música, dentre elas estão leituras de cunho literário; a mostra da visão e do discurso dos negros perante a sociedade, a política, e as demais esferas que as comportam; a leitura de partes do Mein Kampf; uma entrevista filmada (no próprio filme) com perguntas e respostas, em que um “sim” e/ou “não” são suficientes, a pichação de lugares com frases e/ou palavras mudadas morfologicamente a fim de atingir algum sentido ideológico. A linguagem da câmera de Godard é um binômio antagônico, entre a estaticidade e a fluidez; no primeiro plano, no estúdio com os músicos, ora ela para e se fixa em algum integrante da banda, ora ela flui de forma tímida, mas íntima, ou em círculo, ou em uma forma de 180 graus não completos. O mesmo, de certa forma, acontece nas vignettes, na parte do ferro-velho onde estão os negros, é usado a dolly track. Sem contar as viradas de plano, entre os membros da banda no estúdio, e depois para as vignettes, percebe-se que as tomadas foram feitas sem corte, em plano-sequência. Gosto de Cereja (1997)é um filme bem ortodoxo em relação ao assunto que trata. Segundo filme do diretor iraniano Abbas Kiarostami que vejo no mês, e pude perceber que cenas em volta ou dentro de um carro parecem ser uma de suas marcas registradas. Fui, até certa parte do filme, enganado ao achar sobre o que se tratava a história, até ser revelada a real preocupação e desejo do personagem. Ótimo filme. Tatuagem (2013), filme brasileiro, de Hilton Lacerda, mostra de forma artística e irreverente uma das realidades homossexuais da época da ditadura. Irandhir Santos sempre me fazendo aplaudi-lo de pé.

Que plano!

O Dia da Desforra (1966) foi o último filme que vi em janeiro, e não poderia ter fechado de melhor forma. Western italiano, ou spaghetti, o filme traz planos incríveis (foto) e uma vigorosa atuação de Lee van Cleef, ator tão icônico quanto Clint Eastwood. Ambientado nos Estados Unidos, mas levando/resolvendo problemas lá no México, o filme segue a fórmula do gênero, além de trazer partes cômicas à obra. Vale a pena.

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