A história de um gato.

-Me conta uma historinha?
-Era uma vez um gato xadrez… Quer que te conte outra vez?
-Sim!
-Era uma vez um gato xadrez… Quer que te conte outra vez?

Entre as histórias da Turma da Mônica contadas com muita dedicação e os livros de fábulas e aventuras, a saga do Gato Xadrez era a que eu considerava a mais intrigante. Era um gato? Era um tabuleiro de xadrez? Era um gato em cima de um tabuleiro jogando damas? O que era um gato xadrez? Era seu estilo ou seu nome?

Logicamente eu entendia a matemática da coisa toda, a rima E-Z que fazia com que eu pedisse a mesma história do gato que jogava damas infinitamente, mas não entendia o cerne da biografia monossilábica do pobre felino.

Depois que ficou concreto na minha imaginação que o famigerado gato certamente jogava damas com ele mesmo, a dúvida que ficou entranhada sob minhas então madeixas encaracoladas era o cenário e a aparência do gato. As opções fornecidas pela minha criatividade eram o preto e branco, como o Gato Félix, ou vermelho e preto, como o cobertor que eu tinha e era minha principal referência para a palavra “xadrez”.

Era uma vez… preto e branco
Era uma vez… vermelho e preto.

A verdade é que não conseguia escolher somente uma aparência para o gato jogador, preso no limbo de uma história boba com seus miaus reverberando nas paredes límpidas como cristais em meus pensamentos. Para amenizar a crueldade da sua vida em eterno déjà vu, o máximo que eu podia fazer era imaginá-lo diferente a cada recomeço.

Para minha surpresa, anos e anos depois, descobri a rima inteira de algo que eu pensava ser um conto de uma dúzia de palavras: Era uma vez um gato xadrez, caiu da janela e foi só uma vez. Muito além disso, tive o prazer de avisar ao gato solitário da minha imaginação que a história completa era um verdadeiro arco-íris de gatos multifacetados. Ainda que ele tenha ficado tão feliz quanto um gato pode ficar, é hoje um pouco impopular entre os outros felinos, já que ganha de todos eles no jogo de damas.

Era uma vez um gato xadrez, quer que te conte outra vez?