A Memória de um Coração.
Do canto da cozinha eu observava, entre devaneios, a movimentação de pessoas que ali entravam e saíam: amigos, familiares, vizinhos ou meros conhecidos; as crianças, que brincavam distraídas no chão, sem entender o que acontecia.
Observava também as porcelanas, ainda sobre o armário; o pão, ainda sobre a geladeira; as balinhas, ainda em seu pote; as fotografias, ainda em seu painel, cuidadosamente colocadas para que cada filho, neto e bisneto ali aparecesse; seu terço de madeira, ainda na parede, provavelmente rezado mais cedo naquele dia.
Tudo em seu devido lugar.
Na porta da frente, homenagens e flores das mais lindas cores — rosas, brancas, amarelas e vermelhas — , refletiam seu sobrenome: Flores.
Ali dentro, o café e o chá sobre a mesa relembravam das tardes de domingo com a família, sempre feitos com todo amor e carinho.
Os céus, da mesma forma que os seus, seguiam em prantos pelas ruas, com sua partida, rumo à sua última despedida.
E em cada um, do mais novo ao mais velho, do começo ao fim, estava uma parte dela, de seu grande coração e de seu exemplo de vida, uma vida que jamais passará despercebida.
In memoriam.