A tristeza é o sentimento primordial

Rafael Barbosa
Medium Brasil
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3 min readMar 20, 2019

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Às vezes estou no meu quarto em frente ao computador escrevendo algum texto ou deitado na cama lendo um livro e de repente me vem alguns flashes de momentos da minha infância.

Talvez seja algum gatilho inconsciente relacionado a algo que digitei, escutei em uma música ou li em algum livro. A lembrança vem muito forte e de forma muito aleatória.

Mas ela não vem sozinha. Vem sempre acompanhada de uma certa tristeza.

Não que eu ache ruim envelhecer. Pelo menos até o momento, quando posso dizer que estou no ápice da minha vida — em relação ao que já vivi até agora — eu realmente não tenho problemas com essa questão da idade.

Mas lembrar da minha infância me leva de volta a um tempo em que as coisas realmente eram simples e mais fáceis.

Me levam de volta a uma época em que eu ainda podia dar um abraço e um beijo em parentes que já não estão mais aqui.

Me levam de volta a uma época em que as amizades eram diferentes e de certa forma me pareciam mais sinceras.

Também me leva de volta para algumas lembranças que eu preferia esquecer ou simplesmente não ter vivido.

Isso me faz pensar que talvez o estado de espírito padrão de todos os seres humanos é a tristeza.

E em meio a tristeza, a gente tem alguns momentos de felicidade, outros de paz, alguns de raiva e até mesmo de excitação.

Porém tudo volta a ser tristeza em algum momento.

É claro que algumas pessoas se sentem mais tristes que as outras.

Eu, por exemplo, sei disfarçar muito bem o fato de estar triste em 99,9% do tempo.

Mesmo contando uma piada ou rindo, no fundo sempre existe aquele sentimento mais forte que a gente luta para manter escondido.

Eu não conheço ninguém que é feliz o tempo inteiro.

Acho que você também não conhece.

Talvez nem exista uma pessoa assim no mundo.

Acredito que o ser humano não foi criado para ser feliz.

Já reparou como todo mundo gosta de falar que a felicidade está nas pequenas coisas da vida?

Em compensação, a tristeza, a raiva, o ódio e todos os outros sentimentos ruins são facilmente despertos pelas outras coisas da vida, aquelas que são gigantes.

Quando eu compreendi que algumas pessoas ao meu redor usavam a bebida e as drogas para afastar esse sentimento permanente de tristeza, a sensação foi a mesma de descobrir o verdadeiro sentido da vida.

Ainda me surpreende o fato de não ter cedido a esses subterfúgios.

Talvez meu vício seja a tristeza. O meu barato. O que me dá onda.

Talvez o impacto da realidade que vem logo após a ressaca seja forte demais para aguentar.

Se me perguntar por que eu sou assim, não saberei te responder.

Não faço ideia de quando começou.

Tenho a impressão que já nasci assim, com um estoque de tristeza permanente.

Acho que eu era feliz até descobrir a tristeza. Desde então ela se tornou meu sentimento favorito.

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Rafael Barbosa
Medium Brasil

Eu escrevo. Às vezes sai algo legal. Insta: @rafabarbosa