Jean Baptiste Debret: Loja de Barbeiros, 1821. Aquarela sobre Papel

A vida é uma tragédia. E não é de hoje.

Thiago André
Medium Brasil
Published in
2 min readJun 2, 2016

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Machado de Assis escreveu sobre o passado e acertou o presente

Mudam os cenários, as paisagens, as personagens, mas os papéis continuam quase intactos.

Quase todo dia leio notícias de embates Policias em territórios populares do Hell de Janeiro. E quase todo dia tem policiais, moradores e traficantes mortos. Quase todo dia. A meta é garantir ~Ordem Social~. Ordem essa que ajuda a Zona Sul dormir tranquila.

MAS REPARE

O policial é pobre. O traficante é pobre. O morador é pobre.
E todos eles vieram de territórios populares. Baixada, Zona Norte, Zona Oeste.

AGORA OLHA ISSO

Machado de Assis escreveu um conto lá no inicio do século XX intitulado “Pai contra mãe”. O célebre conto é um recorte de um drama recorrente no Brasil escravocrata — fuga de cativos.- e conta a história de um branco pobre, capturador de escravos, que atendia por Cândido Neves. Candinho, como era conhecido, não tinha estudo, era inapto para outras profissões e por isso virou um perseguidor de fujões. Nunca seria nobre, apesar de sua cor, mas sua atividade trazia uma certa nobreza outra, a de ser agente da ordem social.

O drama dele começa quando, em completa miséria, se vê quase obrigado a entregar seu filho à Roda dos Expostos. Para ganhar um dinheiro e salvar seu filho, ele resolve sair à captura da crioula Arminda, escrava foragida, com uma boa quantia oferecida por sua cabeça. Arminda estava grávida e fugiu na esperança de ter seu filho em liberdade, longe do cativeiro.

E aqui estamos diante do dilema que dá nome ao conto. Um pai desesperado para melhorar as condições de vida do sua família, investe contra uma mãe negra, também desesperada, uma escrava foragida.

Machado de Assis situou esse conto em 1850, na Corte, no Rio de Janeiro. Ele escreve de 1900, mirando pra trás, no seu passado, e sem querer nos acertou aqui, 2016, no nosso presente.

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Thiago André
Medium Brasil

Militar, fotógrafo, projeto de historiador e treinador Pokémon. Não necessariamente nesta ordem.