Sente-se, Relaxe e Leia Aquele Extenso Artigo — no seu Telefone

Mais de 50 por cento do tráfego do Buzzfeed vêm das visitas móveis. E isso inclui as histórias de mais de milhares de palavras.

Jacqueline Lafloufa
Interwebz
6 min readJan 22, 2014

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kgnixer/Flickr

Tradução da matéria original de Megan Garber para o The Atlantic.
Original: Sit Back, Relax and Read That Long Story — on Your Phone
Tradução: Jacqueline Lafloufa:
Autoria Original: Megam Garber

No começo deste mês, o Buzzfeed publicou um artigo chamado “Por Que Eu Comprei Uma Casa em Detroit por $500”. A história chegou a alcançar mais de um milhão de visualizações, o que merece destaque inclusive por se tratar de um artigo que contém mais de 6 mil palavras. Outra coisa que merece destaque: 47% daquelas visualizações vieram de pessoas que acessavam a história em dispositivos móveis. E enquanto as pessoas que leram o artigo em tablets passaram em média 12 minutos na leitura do texto, aqueles que acessavam a página nos seus telefones passaram mais de 25 minutos ali — uma pequena eternidade, considerando o tempo gasto na internet.

Esses dados são, se não contra intuitivos, ao menos não convencionais: A suposição atual, entre executivos de mídia e a maioria do público que se importa com tais coisas, tem sido por muito tempo que os telefones são mais propícios para leituras rápidas e tuítes, ao invés de leituras mais longas e imersivas. E enquanto os produtores de conteúdo tentarem fazer uso da vantagem da leitura mais confortável propiciada pelo tablet (veja, por exemplo, produtos otimizados para leitura no tablet, como é o caso do Atavist), o uso do telefone foi visto, em geral, como feito para o consumo de conteúdo rápido e descompromissado — tipo de coisa que se lê na fila do supermercado ou no trajeto de ônibus. “O leitor móvel médio tende a passar os olhos pelas manchetes por conteúdos mais curtos, de ‘consumo rápido’, ao invés de mergulhar em artigos mais longos”, explicou a Mobile Marketer em outubro.

No geral, o Buzzfeed hoje recebe mais de 50% de seu tráfego através de visitas móveis.

A situação está mudando, e não apenas quando se fala de textos. Uma pesquisa que entrevistou 50.000 pessoas e foi publicada no fim do ano passado revelou que 65%o da audiência de vídeos móveis preferiria assistir filmes inteiros e episódios de TV completos ao invés de consumir conteúdos mais breves (clipes de música, trechos de vídeo) em seus telefones. Em outra pesquisa, 8 em cada 10 pessoas afirmaram que assistiriam programas de TV em seus telefones, se estes estivessem disponíveis. E ainda mais pessoas (88%) disseram que assistiriam a filmes completos.

Ou seja, a segunda tela está rapidamente ganhando prioridade nas nossas vidas — tanto para conteúdo imersivo quanto para coisas menos profundas. E você pensa que o Buzzfeed é usado principalmente para se distrair no trabalho, no seu computador? Não exatamente. Um representante do Buzzfeed me contou que, no geral, o site hoje recebe mais de 50% do seu tráfego do através de dispositivos móveis.

“Eu já vi pessoas me dizerem, ‘Sabe, eu gosto mesmo de ler no meu telefone hoje em dia’,” diz Jonah Peretti, fundador e CEO do Buzzfeed. “Mais e mais pessoas estão achando isso”.

Por que será que isso acontece? Um pouco disso, acredita Peretti, é porque os telefones se tornaram uma companhia constante. “Você está na cama, e seu laptop ou o seu iPad está no outro quarto, e o telefone ali, do seu lado”, diz. Além disso, também conta o jeito como os telefone são estruturados: essa tela única, sem abas — uma tela que rola com o deslizar de um dedo — se ajusta ao modo como a maioria de nós gosta de ler.

“A rolagem imersiva é uma das mídias mais antigas”, aponta Ben Smith, editor-chefe do Buzzfeed. Ele está brincando, mas de certa forma também está falando sério: há algo de intuitivo no uso da rolagem de tela como uma interface. O material individual das páginas — material dos livros, das revistas e dos jornais, que foram esqueumorficamente transferidos para a web — oferecem uma experiência de leitura que é artificial. Uma das contribuições mais significativas do Buzzfeed à Maneira Que Nós Navegamos Na Web Agora vai provavelmente fazer com que passemos a escolher entre o modelo de rolagem e o modelo paginado. “Na verdade, eu acho que rolagens longas e imersivas são um jeito muito agradável de ler um conteúdo”, diz Smith.

E aquela história de que “as crianças de hoje não conseguem mais se concentrar”? “Essa nunca foi a nossa experiência, de forma alguma”.

Os telefones estão se tornando proeminentes ao mesmo tempo em que as empresas de mídia estão (novamente) compreendendo quão poderosas — e fascinantes - as histórias mais longas e bem produzidas podem ser. A popularidade de artigos mais extensos — aqueles das revistas - estão revelando, entre outras coisas, uma nova estatística. “A intuição das pessoas sobre artigos mais extensos estava errada”, afirma Peretti. “Se pensava, ‘Ah, a internet é um meio para o consumo dos menores trechos de conteúdo, já que ninguém consegue se concentrar’”. Mas é difícil validar essa ideia de falta de concentração quando percebemos que as pessoas estão passando 25 minutos nos seus telefones, lendo um artigo”, diz ele.

E aquela história de que “as crianças de hoje não conseguem mais se concentrar”? “Essa nunca foi a nossa experiência, de forma alguma”.

Smith concorda. Mesmo as listas do site, ele destaca, são longas: raramente você verá uma lista de ‘5 coisas’ ou até mesmo de ‘10 coisas’; ‘27 coisas’ ou ‘39 coisas’ são muito mais comuns. A média de tempo gasto na página do Buzzfeed, me disse um porta-voz, é de mais de 5 minutos. E o tempo médio gasto em um artigo mais longo é dobro isso: 10 minutos e 23 segundos.

Assim, o Buzzfeed chama a atenção não apenas na web social, mas também em seu próprio site. Eles investiram em textos mais longos, produções que levam meses para serem concluídas, criando suplementos ao estilo dos que eram feitos em revistas, que completam as listas, as matérias mais rápidas e os muitos GIFs. Desenvolveram um formato para suas histórias longas que são livres de anúncios e que vão direto ao ponto, sem delongas — um modelo que apresenta uma história ao rolar da página. Contrataram Steve Kandell, que anteriormente era editor-chefe da Spin, para ser o editor dos textos de destaque. (“Steve odeia a expressão “formatos longos,” diz Smith. “Nós meio que substituímos essa expressão por ‘destaques’ internamente”.) O que o Buzzfeed aprendeu com a sua experiência com artigos mais extensos, como Kandell explicou recentemente, é que

não é muito diferente do que qualquer outra coisa que seria publicada na internet. De longe, as melhores matérias — ou as nossas melhores matérias — acertam em cheio e inspiram as pessoas a compartilhá-las com os outros no seu Twitter, Facebook, email ou até imprimindo-as e transformando-as em aviõezinhos de papel, fazendo com que este material alcance audiências maiores e de forma mais veloz do que aconteceria com qualquer coisa que você possa encontrar em uma banca de revistas.

Essas matérias também podem satisfazer a vontade das pessoas de compartilhar conteúdos de qualidade junto com suas imagens do imgur e os vídeos de gatinhos. “Porque Eu Comprei Uma Casa em Detroit por $500" já alcançou, até agora, mais de 132 mil curtidas no Facebook e mais de 4 mil compartilhamentos no Twitter. A matéria longa da Wired sobre “Como um Método Radical de Ensino Pode Criar uma Geração de Gênios” conquistou mais de 1 milhão de visitantes únicos, com um tempo médio gasto na página estimado em 5 minutos. O Snowfall do New York Times alcançou mais de 2,9 milhões de visitantes e 3,5 milhões de visualizações. Apostar no estilo de reportagem das revistas é um investimento que pode ser rentável. Em especial quando as pessoas estão dispostas a se recostar, se aconchegar, e ler uma matéria longa no conforto dos seus telefones.

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Jacqueline Lafloufa
Interwebz

Jornalista, consultora e curiosa. Editora da @interwebzbr. De olho em inovação, tecnologia e comunicação. Atende por @jacquelinee nas redes sociais