Coisas não nomeadas

Ou os nomes que o mundo dá

Celina
Medium Brasil
2 min readNov 14, 2016

--

(Imagem: Phoebe Wahl)

Tinha uma gargalhada estridente guardada para minhas piadas mais ridículas, percebi que me sorria com os olhos quando o ambiente não permitia a vazão dos hábitos reservados ao ambiente familiar. Os olhos de quem se permite enxergar sabem o quanto as palavras são desnecessárias em determinadas situações. Depois de doze anos frequentando a sua casa e dividindo até mesmo as cobertas, o descobri. Não éramos uma história de relacionamento carnal, éramos mais que isso. Dividíamos a alma como quem reparte o pão, aos goles de café pela manhã entre uma conversa e outra. As pausas só existiam quando os olhos encerravam o assunto, quando as luzes apagavam e íamos dormir.

-Já pensasse nisso?

-Em?

-Nessa coisa de amor não existir, sabe… Já percebeu que a gente sempre fala sobre isso? Amor, amor, amor… Como se fosse a única coisa que existisse, a única temática para discurso. Esqueceram de nos deixar sentir, quiseram tanto explicar a coisa que deu tudo errado.

-Hum…

-Eu só acho que amor é uma desculpa pra apagar a existência da solidão.

-Como assim?

-Já percebeu o quanto nos ensinam a evitá-la? É preciso uma companhia para preencher o vazio, dizem. O vazio, a falta, a ausência é sempre visto como algo ruim. É na ausência que certas coisas são percebidas. Não que estar acompanhado seja ruim, mas ficar só também não é. Entende? Eu falando sou péssima, escrevendo me expresso melhor.

-Eu entendi. Não acho que amor não exista, mas concordo com a parte da solidão. E não acho que você é péssima falando.

-Hum…

-Dois.

-Três.

-Gosto da solidão, mas gosto mais ainda de ficar com você.

Foi nesse exato instante que existiu que percebi algo por outro nome, com outras descrições. Mas achei melhor ficar calada, sou péssima falando. Sorri com os olhos, estava tudo dito.

Gostou dessa história? Dá uma clicada no coraçãozinho, me conta o que achou no balãozinho dos comentários.

Faça com que essa publicação chegue a mais pessoas! Apareça! Adoro uma boa conversa. Como se diz aqui onde eu moro: “se aprochegue, não se acanhe não!”

--

--

Celina
Medium Brasil

"Writer". Nordestina, roteirista e fotógrafa. Editora da Revista Fale Com Elas no Medium. Stories in Portuguese and English.