Desliga essa TV, menino!
Relato de uma temporada de quatro anos sem assistir ou ter uma TV
Foram quatro anos bem vividos sem TV. Não é que eu assistia pouco: eu simplesmente NÃO tinha um aparelho de televisão em casa.
A história começou um pouco antes. Morei numa república onde tinha uma televisão de uso geral acompanhada de uma regra simples: se não foi você que ligou não mude o canal (e nós éramos disciplinados). Já nesta época eu não andava “num relacionamento sério com a TV”. Juntou o fato de eu ter de mudar de São Paulo em função do meu trabalho e foi aí que tomei a decisão: cidade nova, casa nova, muitos lugares para conhecer, comprei uma bicicleta em vez de uma TV.
Não recomendo a ninguém. É altamente viciante. Você lê bem mais, ouve muita música — atividade que não se pode dividir com a TV, esta possessiva —, tem mais tempo para ver filme no pc, evidentemente. É uma beleza!
Assinei um jornal e assim me informava. Me adaptei tão bem a essa vida que quando voltei a morar em São Paulo mantive a decisão de não ter televisão.
Só lembrava da danada quando algum amigo, olhos rútilos, me enquadrava perguntando ‘até onde eu ia com essa palhaçada’ ou qualquer questionamento carinhoso na mesma linha.
Uma amiga, depois de me visitar, comentou que minha casa era estranha; muitos livros, discos, revistas e TV que era bom, zero. Uma segunda se ofereceu para fazer uma vaquinha e juntar uma grana para me dar uma TV de presente. Teve ainda outra, espirituosa, que me alertou da possibilidade de eu poder comprar uma parcelada nas Casas Bahia.
Os participantes do BBB viram uma questão, todos te olham com um tom qualquer coisa perplexo pelo fato de você não saber quem é a Fernanda, favorita disparada do paredão da semana. Acontece.
A sensação de estar livre e poder aproveitar meu tempo de forma mais prazerosa do que ficar escarrapachado no sofá era muito boa. Acredito que era esta a melhor parte da história toda.
A experiência foi tão positiva que eu a repetiria sem o menor esforço. Portanto, se você está pensando em fazer o mesmo saiba que se trata de um caminho sem volta e é bem provável que você se esqueça de vez da existência da TV.
Boa viagem!
Ps.: Hoje em dia tenho em casa três aparelhos de TV com um generoso plano de TV a cabo em cada e todas as noites não perco as sessões de Peppa, the pig ao lado do meu pequeno.
