Ela

Guilherme Zanoni
Medium Brasil
Published in
2 min readJan 12, 2015

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Ela aproveitava o próprio tempo de uma maneira toda dela. Deitada no chão frio, olhando o teto, sentindo-se tocar pela brisa quente de fevereiro. Perda de tempo? Pros outros, talvez. Pra ela, não mesmo.

O que muita gente chama de jogar tempo fora, ela chama de paz. E se for jogar tempo fora mesmo, que diferença. Ele acaba pra todo mundo, e no fim o que vale é fazer o que se gosta. E ela gosta disso.

Por que não corre atrás de um amor? Por que não se interessa pela novela? Por que não vai ao cinema, não compra um caderno, não ri mais? Porque não, ora. Porque estou bem assim. Porque não quero, porque foda-se.

Pensava tanto que renderia bons livros. Mas sempre que pegava a a caneta, as ideias sumiam. Que remédio? Fique com as ideias só pra si, cérebro egoísta e prepotente.
Tinha tantas soluções que daria uma ótima presidenta, rainha, ditadora, dona do mundo. Sozinha levaria a paz a todos. Mas não seria suficiente. Agradar aos outros era sempre muito difícil.

Então ficava deitada. Encarava o teto, que a encarava de volta e perguntava, num tom passivo-agressivo de quem já se definiu e conhece bem sua função no mundo, “E agora? E agora, Clara?”

Agora não sei, agora dane-se, agora vê se me erra, agora.

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