Ela guinchava

Marco Rigobelli
Medium Brasil
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3 min readAug 18, 2016

Ela guinchava, era adorável. Ficava feliz com os pulsos atados aos tornozelos, ofegava no lençol entre risos suspirados que a faziam tremer quando nossos olhos se cruzavam entre um movimento e outro enquanto a amarrava. Cada volta na corda deixava escapar a ansiedade que tinha de descobrir para onde minhas mãos iriam dali; mesmo já tendo feito isso outras vezes, mesmo que ela soubesse para onde iria a seguir, a expectativa de algo diferente acontecendo era parte do que fazia aquilo valer a pena para ela. Claro, eu preparava minha dose de surpresas, mas naquela vez segui a rotina, fazendo questão de encaixar cada volta na anterior porque a aparência dos laços enfileirados me agradava. A satisfação de ver as algemas de corda justas como se fossem parte da pele me arrancava sorrisos. Nas primeiras vezes ela perguntou o que era tão engraçado, nunca respondi, era um pouco do que fazia aquilo valer a pena para mim. Os gemidos tremidos e demorados tornavam-se o passo seguinte da expectativa. Do espelho enorme que nos espiava da porta do guarda-roupas dela, nossos reflexos nos encaravam como se estivessem satisfeitos com o show pelo qual pagaram. Não eram os únicos espectadores.

Havia também fotografias populando paredes e móveis. Rostos miúdos de estranhos nos assistiam, ela não se importava com a audiência, eu me incomodava com tanta gente nos olhando — para ela era tão familiar que nem notava mais. A pequena estátua de elefante que quebramos semana passada não estava mais lá. A chuva batucava no vidro da janela dando ritmo ao que se desenrolava naquele quarto, ali dentro nós suávamos mais de calor que de cansaço, tínhamos só começado. Imagino que, não fossem pelos quadros, nada mais nas paredes brancas ou nos móveis velhos chamaria atenção. Principalmente depois que os nós estavam prontos e ela apontava a bunda para cima.

Era difícil não gostar daquele rabo em pé, podia dizer isso de qualquer rabo, sim, mas aquele era especial. Com vida própria, balançava não sabia se atrás de conforto ou para me hipnotizar. Ela guinchou de novo quando apertei o quadril, o sino que era sua bunda balançou outra vez, já tinha certeza de que não estava atrás de conforto, mas da minha atenção. Então deslizei a palma, da direita à esquerda, deixando os dedos livres para explorar seus contornos porque queria ouvi-la gemendo de novo, o som abastecia meu tesão mais que observá-la daquela maneira, armada por mim, ansiosa e tremendo. Não resisti à mordida, nem ao tapa a seguir.

— Por favor — me implorou, eu sabia o que ela queria.

A princípio não dei o que pediu, primeiro ajustei as cordas, apertadas só o suficiente para fazê-la suspirar quando as puxava, pensava no que aconteceria a seguir com elas enquanto o que sobrou despencava da cama sem fazer barulho. Tinha ideias nas quais demorei trocando olhares com sua buceta levantada. Minha mão continuava descansando nos quadris, naquele momento duas entidades inseparáveis, a palma e a bunda viviam uma simbiose sensorial de tato e ansiedade. A marca do tapa sumia, bati outra vez porque gostava de assistir à mudança de tom. A sensação que me deixava com água na boca: sabíamos exatamente o que aconteceria a seguir, mesmo o inesperado e o nunca falado estava dentro daquilo combinado entre nossos olhos. Ainda assim o coração palpitava, o gosto da surpresa não deixava a língua, por isso precisava misturá-lo a outro sabor.

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Escritor e redator freelancer. Groko, logo existo.

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